Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/humor/0111f002.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/25/01 15:42:32
FEBEANET
Amazônia (ainda) não é área internacional - I


Apesar dos biólogos e químicos travestidos de missionários indígenas; apesar dos estranhos interesses envolvidos no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam); apesar do contrabando de amostras da diversidade biológica amazônica que gera patentes de produtos no exterior sem que isso reverta para o Brasil; apesar da curiosa forma como são demarcadas as reservas indígenas, coladas às fronteiras tanto pelo lado brasileiro como nos países vizinhos (mesmo que para isso seja preciso deslocar os índios para mais perto das fronteiras); apesar da contaminação dos rios amazônicos (e mortandade de peixes) pelo agente laranja (desfolhante usado pelos EUA nas plantações colombianas de onde é extraída a matéria-prima para entorpecentes); apesar de forças militares estrangeiras serem treinadas na Amazônia pelo próprio Exército Brasileiro... para quê? (programa Fantástico, Rede Globo de Televisão, 10/6/2001); apesar da notória cobiça internacional pela área, disfarçada em interesse de preservação ecológica por parte de governos que não têm o mesmo interesse em outras regiões...

...a Amazônia continua pertencendo aos países onde se situa, notadamente o Brasil. É falsa a história que, por mais de uma vez, já circulou pela Internet, de que nas escolas norte-americanas haveria um livro de Geografia em que o mapa apresentaria a Amazônia como território sob controle internacional, não mais percencendo ao Brasil e países vizinhos. O boato corre as listas de mensagens há alguns anos, já foi levado a sério por publicações importantes, mas está definitivamente desmentido.

A mais recente seqüência de mensagens começou a circular em 11/2001, desta vez mais completa, incluindo a suposta página do livro escolar com tal informação:

A falsa página de livro com o mapa da Amazônia internacionalizada
Acompanhando a imagem da suposta página de livro, havia esta mensagem:
Que absurdo!

Todos nós já ouvimos falar que os americanos querem transformar a Amazônia num parque mundial com tutela da ONU, e que os livros escolares americanos já citam a Amazônia como floresta mundial... 

Pois chegou a nossas mãos o livro didático "Introduction to geography" do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas americanas para a Junior High School (correspondente à nossa sexta série do 1ºgrau). 

Olhem o anexo e comprovem o que consta à página 76 deste livro e vejam que os americanos já consideram a Amazônia uma área que não é território brasileiro, uma área que rouba território de oito países da América do Sul e ainda por cima com um texto de caráter essencialmente preconceituoso...

Vamos divulgar isso para o maior número de pessoas possível a fim de podermos fazer alguma coisa ante a esse absurdo..."

<<international[1].jpg>>

A imagem também foi repassada a muitas pessoas com o seguinte texto, assinado por Celso Santos (funcionário de uma importante editora de revistas na capital paulista), que acreditou na veracidade da informação e inclusive colocou seus números de telefone para contato:
Subject: INDIGNACAO
Para ficar indignado!

No dia 24/5 o jornal "Estadao" publicou sem destaque nenhum, e em tres minusculas linhas, a denuncia gravissima de uma brasileira residente nos EUA.

Os livros de geografia de la, estao mostrando o mapa do Brasil amputado,sem o Amazonas e o Pantanal.

Eles estao ensinando nas escolas, que estas areas sao internacionais....ou seja, em outras palavras, eles estao preparando a opiniao publica deles,para dentro de alguns anos se apoderarem de nosso territorio com legitimidade.

Nos somos brasileiros e, no minimo, temos de nos indignar com esta afronta. Vamos passar este e-mail para o maior numero de pessoas que conhecermos, e para que eles saibam que, embora eles nao noticiem o fato, nos, povo, estamos sabendo.

Celso Santos

A tradução aproximada da página do livro seria:
Introdução à Geografia                            América do Sul

Na seção norte da América do Sul, formando uma área de mais de 3.000 milhas quadradas.

3.5.5. -  A antiga reserva internacional da Floresta Amazônica

Desde meados de 1980 a mais importante floresta do mundo passou à responsabilidade dos Estados Unidos e Nações Unidas. É chamada de FINRAF (Reserva Internacional da Floresta Amazônica) e sua fundação deu-se ao fato de a Amazônia estar localizada na América do Sul, uma das mais pobres regiões do planeta e cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Ela era parte de oito países diferentes e estranhos, que são em sua maioria, reinos de violência, comércio de droga, ilegalidade e povos primitivos.

A criação da FINRAF foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial de nosso país e um presente para todo o mundo, desde a posse dessas valorosas terras de modo que países primitivos e povos possam condenar o pulmão do mundo ao desaparecimento e destruição total em alguns anos.

Nós podemos considerar que essa área tem a mais (biodiversidade ???) no planeta, com um vasto número de todos os tipos de animais e vegetais.  O valor dessa área é impossível de se calcular, mas o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não permitirão a esses países latino Americanos explorar e destruir esta real propriedade de toda a humanidade.

FINRAF é como um parque internacional, com severas regras de exploração.

A tradução foi repassada à lista Idioma pelo internauta Paulo Henrique de Oliveira, da capital paulista. Sua amiga, ao fazer a tradução, incluiu alguns comentários:
 
Procurei ser até condescendente na tradução, buscando entender o sentido do trecho. Não corresponde a uma linguagem didática, nem aqui e tão pouco nos Estados Unidos. Vários erros de concordância e aplicação de palavras inadequadas, dando até um sentido dúbio.

Tendenciosa esta matéria. Se fosse parte de literatura escolar, certamente seria precisa nas colocações. A linguagem me lembra muito cartilhas dos Sem-Terra. Algum ultra-conservador estrangeiro que vive nos Estados Unidos, que não aprendeu a escrever corretamente o Inglês ou algum patrício brincalhão, ou ainda algum babaca que não tem o que fazer. 

Você acha que o próprio Governo dos Estados Unidos iria permitir em livros didáticos esse histórico: “países irresponsáveis, cruéis e autoritários”?

De qualquer maneira, vou mandar para meu cunhado que é jornalista em Washington e editor da revista US & Latin América. Vou pedir a opinião dele também.

Circulação nacional - Essa mensagem influenciou, entre outros, o internauta Carlos Tebecherani Haddad, que acreditou na informação e a repassou (com a imagem do suposto livro) a todos os deputados e senadores em Brasília, a diversas importantes listas de debates e contatos na imprensa (inclusive Novo Milênio), gerando por sua vez uma série de outros repasses:
 

Assunto: A AMAZÔNIA FOI INTERNACIONALIZADA (notícia SÉRIA!!! )
    Data: Tue, 20 Nov 2001 12:45:22 -0200
      De:  "Carlos Tebecherani Haddad" <(...)>
    Para: (...)
      CC: (...)

            Senhores parlamentares,
            Amigos das listas de discussão,
            Amigos particulares,

            Houve quem duvidasse de que nos Estados Unidos havia mapas do
Brasil sem a Amazônia.

            Pois vejam este livro, no anexo, onde a Amazônia é dita como da responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas, pois ela  está localizada na "...América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo", é
parte de "... oito países diferentes e "estranhos"...  irresponsáveis, cruéis e autoritários...", povos cruéis, tráfico de drogas, e o  "...povo é inculto, ignorante"...", podendo "...causar a morte do mundo todo dentro de poucos anos..."

            É só conferir na página 76 do livro DIDÁTICO norte-americano "Introdução à Geografia", do autor David Norman, utilizado na Junior High School (equivalente à 6ª série do 1º grau brasileira) anexo a esta.

            Isso explica a "Operação Colômbia", as tropas americanas (80 mil homens! ...) no Suriname, a apropriação da base aérea (da FAB) de lançamentos de Alcântara, a intenção dos Estados Unidos de colocar um escritório da CIA na tríplice fronteira (Foz do Iguaçu), e a implementação de DUAS bases militares na Argentina, uma na Patagônia e outra próxima a Buenos Aires.

           Ou seja, a Amazônia está CERCADA, sitiada por forças americanas, que garantirão a posse da região a qualquer hora dessas.

           Essa notícia eu havia escutado há mais ou menos 8 anos atrás, em uma palestra na Maçonaria, proferida  pelo professor J.W. Bautista Vidal,
da Universidade de Brasília e Universidade Federal da Bahia.

           Como já foi mostrado (ou justificado?) que a "guerra" contra Osama Bin Laden (de quem não se tem a MÍNIMA prova de que tenha realizado os ataques de 11 de setembro) e o Talibã é muito mais uma questão de passar um oleoduto pelo Afeganistão (para tirar o petróleo russo do Mar Cáspio), que o Talibã não concordava, é de uma clareza solar os motivos dos Estados Unidos na sua pretensão de "pacificar" a América do Sul, e de "combater" o narcotráfico na Colômbia, enviando para lá imenso arsenal e 100 MIL homens!

           Vamos ficar de braços cruzados e boca calada?

           Ou vamos reagir?

           Dos parlamentares, esperamos AÇÃO IMEDIATA.

           Dos cidadãos, que REPASSEM esta notícia a todos os seus conhecidos!

           Dos jornalistas, que DIVULGUEM este absurdo, para que a Nação se levante contra essa violência inominável!

            Fiquem em Paz.

            Carlos Tebecherani Haddad

  <<pic23805.jpg>>

Falso inglês - Uma das melhores pistas para desmontar a farsa foi apresentada em 20/11/2001, em duas mensagens na lista de debates Idioma, pela tradutora profissional de inglês para português Jussara Simões, de São Paulo: 
 

Não vou comentar o texto todo por falta de tempo, mas o último parágrafo (aquele que fica no canto inferior direito da página) contém erros que só seriam cometidos por pessoas que não têm convívio com a língua inglesa, isto é, por estrangeiros ao idioma inglês. Na minha opinião, isso pode indicar falsificação do texto. 

O texto apresenta indícios de que foi escrito por algum nativo de língua latina. Contém a palavra "explorate", que é palavra em desuso nos EUA e a palavra com mais probabilidade de aparecer num texto desses seria "explore". 

O trecho "We can consider that this area has the most biodiversity in the planet" parece tradução literal do português ou do espanhol e "has the most biodiversity in the planet" não tem sentido em inglês. 

"The value of this area is unable to calculate" é "o valor dessa área é incapaz de calcular". Desde quando valor tem capacidade de fazer contas? Se o autor quisesse dizer que "o valor dessa área é incalculável", deveria dizer que "the value of this area is incalculable" -- isso em tradução literal, pois existem diversas maneiras de se dizer isso em inglês. 

O verbo "to calculate" exige sujeito pensante, e "value" não pode ser sujeito de "calculate", além de vários outros detalhes com relação ao uso de "unable" etc. É uma frase impossível em inglês. "the planet can be cert" também não faz sentido. "won't let there Latin American countries", idem. Em resumo, o parágrafo inteiro é inglês macarrônico.

Até o momento, já recebi umas 8 respostas, cada uma mais engraçada que a
outra. Uma delas diz que aquele texto mais parece manual de videocassette
chinês!

Esses meus mais de 20 anos traduzindo do inglês para o português pelo menos me deixaram com o faro apurado para o inglês autêntico e para o forjado por quem não sabe. Assim como a gente ri quando um alemão diz "o salsicha', os ianques estão rolando de rir do inglês daquele texto falsificado. (Em tempo: só repassei para eles o último parágrafo, pois eu não estava interessada em fazer com que meu país virasse alvo de piadas. O parágrafo que enviei não deixa transparecer do que se trata exatamente.)

Outra análise da mensagem transcreve o original inglês {as chaves acrescentadas se referem a comentários incluídos no final}:
 
An Introduction to Geography / SOUTH AMERICA

     ... in the northern section of South America, forming a land of more than 3.000 {1} square miles.

     3.5-5 - THE FORMER INT'L RESERVE OF AMAZON FOREST

Since the middle 80's the most important rain forest of the world was passed to the reponsability {2} of the United States and the United Nations. It is named as {3} FINRAF (Former International Reserve of Amazon Forest) and its foundation was due to the fact {4} the Amazon is located in South America, one of the poorest regions on earth {5} and surrounded by irresponsable {6}, cruel and authoritary countries. It was part of eight different and strange countries, which are in the majority of cases, kingdoms of violence, drug trade, illiteracy and a {7} unintelligent and primitive people.

The creation of FINRAF were {8} supported by all nations of G-23 and was really a special mission of our country and a gift of all the world, since the possession of these valuable lands to such primitive countries and people could comdemn the lungs of the world to disappearance and full destroying in few years.

We can consider that this area has the most biodiversity {9} in the planet, with a vast number of species of all types of animals and vegetals {10}. The value of this area is unable to calcule {11}, but the planet can be cert {12} that The United States won't let these Latin American countries explorate {13} and destroy this real ownership {14} of all humanity {15}.

FINRAF is like an international park, with very severe rules of exploration.

LEGENDA DO MAPA:

map 2.5-5.1 {16} - We can see the location of the International Reserve. It took area of eight South America's {17} countries: Brazil, Bolivia, Peru, Colombia, Venezuela, Guyana, Suriname and F. Guyana. Some of the poorest and miserable countries of the world.

Foi obviamente obra de um brasileiro tentando escrever em inglês:

1.  "3.000 square miles" - Usou ponto para separar milhar
2.  "passed to the responsability" -- Não se usa o termo e o certo é "responsibility" com "i".
3.  "is named as FINRAF" -- Não se usa o "as".
4.  "due to the fact the Amazon" -- Seria "the fact that the Amazon".
5.  "earth" -- Usa-se com maiúscula: Earth.
6.  "irresponsable" - O certo é irresponsible, com "i".
7.  "a unintelligent" -- O certo é "an".
8.  "the creation of FINRAF were" - O certo é "was".
9.  "has the most biodiversity" - Errado.
10. "vegetals" -- Pouco usado.
11. "unable to calcule" -- Construção errada, seria "impossible to calculate".
12. "be cert" -- Tradução grosseira. Certo seria "be sure", "be certain".
13. "explorate" -- Verbo errado, seria "explore".
14. "ownership" -- Termo mal empregado.
15. "humanity" -- Pouco usado, prefere-se "mankind".
16. "map 2.5-5.1" -- A seção é 3.5-5
17. "eight South America's countries" -- Seria "South American countries".

Pesquisando via Google, conclui-se também que:

A. O único David Norman escritor famoso é especialista em dinossauros. Os outros são apenas homônimos e nenhum escreveu nada sobre geografia  para crianças: 

http://www.powells.com/search/DTSearch/search?author=David%20Norman

http://www.google.com/search?hl=pt&newwindow=1&q=%22david
+norman%22+%22Sedgwick+Museum%22&lr=

http://shopping.yahoo.com/shop?d=a&id=2003990&clink=
dmbk-tr/titlelist/2065006580&cf=author

http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/0713656905/
qid=1005941060/sr=1-7/ref=sr_sp_re/202-1087825-8995842

http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/Author=Norman%2C%
20David/202-1087825-8995842

http://www.netstoreusa.com/phbooks/082/0822319624.shtml

http://www.nd.edu/~remarx/Marxism2000/schedule.html

http://devel.diplom.org/DipPouch/Zine/W1999A/Clarke/Deposits.html

http://devel.diplom.org/DipPouch/Postal/Zines/TAP/abyss249.html

http://www.du.se/bibliotek/nyfhdf/hdfjuni00.html

B.  G-23 e FINRAF são meras invencionices. 

Saudações,

- c.a.t

Em vez de divulgar a mensagem, verifique este link:
http://groups.yahoo.com/group/parabtec/files/novo-hoax-amazonia.htm

Um internauta estadunidense (que vem estudando o idioma português na forma utilizada em Portugal) fez os seguintes comentários (usando a forma ortográfica do português de Portugal), em mensagem enviada através de uma participante da lista de debates Idioma:
 

Procurei o livro em amazon.com (irónicamente!) mas não o encontrei lá nem noutro sítio no Web tampouco. A história é uma peça. Observa por exemplo o trecho seguinte do texto:

    Since the middle 80s the most important rain forest of the world
    was passed to the responsability [_sic_] of the United States and
    the United Nations.  It is named as [_sic_] FINRAF ..., and its
    foundation was due to the fact the [_sic_] Amazon is located in
    South America, one of the poorest regions on earth and surrounded
    by irresponsable [_sic_], cruel and authoritary [_sic_] countries.
    It was part of eight different and strange countries, which are in
    the majority of cases, [_sic_] kingdoms of violence, drug trade,
    illiteracy and a [_sic_] unintelligent and primitive people.

(Tradução: «Desde o meio [?] dos anos 80 a floresta tropical a mais importante do mundo passou na responsabilidade dos Estados Unidos e as Nações Unidas. Se nome como FINRAF ..., e a sua fundação é devida ao fato de que a Amazônia fica em América do Sul, uma das regiões as mais pobres da Terra e é rodeada de países irresponsáveis, crueles et autoritários. Foi parte de oito países diferentes e extranhos, do que a maioria são reinos de violência, comércio de drogas, analfabetismo e um povo pouco inteligente e primitivo.»)

Os « [_sic_] » no parágrafo em cima indiquem erros de gramática, pontuação e ortografia de quais muitos não são típicos de pessoas de língua materna inglês. Aparentemente o texto foi falsificado.

Espero que a qualidade do português basta pela compreensão dos teus correspondentes brasileiros.

Sobre a suposição de que um livro didático não poderia ser encontrado na Internet por ser enviado diretamente às escolas, o internauta estadunidense Murray Gross informou à tradutora Jussara Simões que "as livrarias e as lojas da Internet não têm estoque da maioria dos livros didáticos porque eles não vendem. Qualquer livraria encomenda livros didáticos, ou você também pode comprá-los diretamente na editora. A única dificuldade talvez seja no caso de livro modificado especialmente para determinado distrito escolar, pois nesse caso os únicos exemplares impressos são entregues diretamente à escola. Contudo, essas versões modificadas quase sempre se baseiam nos textos dos livros normais, que são bem fáceis de se adquirir".

Novo Milênio também pesquisou o assunto, descobrindo que o livro não existe na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (Library of Congress), que normalmente recebe ao menos um exemplar de cada livro editado naquele país. O suposto autor também não foi encontrado (apenas homônimos), e a chave de busca Finraf remete a uma empresa italiana do setor financeiro, sem qualquer relação com o caso. Também não há nada relacionado sob a chave de busca [G-23].

Outros desmentidos - Desde a onda anterior desse boato, em 8/2001, os internautas se mobilizavam para apurar a história. O jornalista Paulo Rebêlo, por exemplo, informou em 23/8/2001 à lista de debates Widebiz "que as escolas americanas não possuem a matéria Geografia no currículo." Outro internauta, Gevilacio A. C. de Moura, em Recife/PE, colocou esclarecimentos sobre esse trote em sua página Web sobre essas Lendas Urbanas

Na lista de debates RPraxis, dentro do tema "Os EUA amputaram o mapa do Brasil", o internauta Evandro Oliveira, de Belo Horizonte/MG, informou em 23/11/2001: "Alguns amigos que estão nos EUA pesquisaram e confirmaram que o tal livro não existe... A figura mostra uma montagem mal feita de uma publicação (jornal) do oeste norte-americano (Califórnia) que fez uma simulação e colocou textos COMPLETAMENTE diferentes naquele mapa. O mapa foi desenhado pelo jornal EXATAMENTE daquela forma, com contexto COMPLETAMENTE diferente. Eles estão enviando para mim uma edição do jornal."
 

53.654 Assinantes
Edição número 286  -  Ano IV  -  24 de Novembro de 2001
http://www.relatorioalfa.com.br - Enviado somente para assinantes
R  E  L  A  T  Ó  R  I  O
A L F A
Descubra o que não querem que você saiba.
©1998-2001  -  Diretor Responsável: Aldo Novak
Destaque:
Mapa da Amazônia como
sendo "área internacional",
separada do Brasil, é falso

Um trote velho se espalha pela rede novamente, 
trazendo um mapa anexado que indica que nos
livros americanos os alunos aprenderiam que 
a Amazônia está separada do Brasil. Em 
péssimo inglês, com colagens primárias em
Photoshop, tudo é falso. Notícia, mapa e conceito.

Por Aldo Novak

(www.relatorioalfa.com.br) O Relatório Alfa tem recebido centenas de e-mails com a mesma afirmação: "um suposto livro usado nos Estados Unidos estaria trazendo a imagem da Amazônia como área internacional". No início de outubro começaram a chegar as primeiras mensagens para a redação, vindos de leitores bem intencionados. Não fizemos nenhuma matéria porque este é um assunto que morreu -- ou deveria -- há mais de um ano, quando foi esclarecido. Até o Itamaraty teve que se pronunciar sobre o caso, ano passado. Entretanto chegou a um ponto inaceitável novamente. No momento em que escrevemos essa edição, já são mais de 40 mensagens por dia -- entre assustadas e indignadas -- muitas anexando a cópia do suposto livro. O e-mail apresenta um título dramático:

Subject: Que absurdo! Para ficar indignado!

Em seguida ele cita uma informação real (do jornal Estado de S. Paulo):

No dia 24/5/01 o jornal "Estadão" publicou sem destaque nenhum, e em três minúsculas linhas, a denúncia gravíssima de uma brasileira residente nos EUA.

Os livros de geografia de lá, estão mostrando o mapa do Brasil amputado,sem o Amazonas e o Pantanal. Eles estão ensinando nas escolas, que estas áreas são internacionais....ou seja, em outras palavras, eles estão preparando a opinião pública deles,para   dentro de alguns anos se apoderarem de nosso território com legitimidade.

Logo depois o e-mail apela para o patriotismo dos leitores e pede que a mensagem seja retransmitida para o maior número possível de pessoas:

Nós somos brasileiros e, no mínimo, temos de nos indignar com esta afronta.Vamos passar este e-mail para o maior número de pessoas que conhecermos, e para que eles saibam que, embora eles não noticiem o fato, nós, POVO BRASILEIRO, estamos sabendo.

Essa é para as pessoas que acham, ainda, que os norte-americanos são santos, e que tudo que se fala deles é maledicência. Todos nós já ouvimos falar que os americanos querem transformar a Amazônia num parque mundial com tutela da ONU e que os livros escolares americanos já citam a amazônia como floresta mundial... Pois chegou a nossas mãos o livro didático "Introduction to geography" do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas americanas para a Junior High School (correspondente à nossa sexta série do 1ºgrau).

Curiosamente, este livro "amplamente difundido" nas escolas americanas não existe para compra em lugar algum, e o autor -- até onde sabemos -- também não existe. Em seguida o e-mail termina com a suposta "prova", uma página escaneada do livro.

Olhem o anexo e comprovem o que consta a página 76 deste livro e vejam que os americanos já consideram a Amazônia uma área que não é território brasileiro, uma área que rouba território de oito países da América do Sul e ainda por cima com um texto de caráter essencialmente preconceituoso...
(a foto está aqui).

COMO SURGIU

A história, entretanto, é velha e bem conhecida. A brincadeira, de péssimo gosto, foi feita por um grupo de brasileiros (sim, foram brasileiros, não americanos). Eles criaram um site extremista e inventaram a notícia de que os livros escolares americanos não traziam a área da Região Amazônica como parte do Brasil. No lugar aparecia uma região de controle internacional. Feito por um grupo anônimo, o site promoveu a falsa informação e usou o nome de uma professora do Texas, como se a mensagem partisse dela. Trata-se de Michelle Zwede, do Brazil Center da Universidade do Texas, em Austin. Na verdade ela entrou em contato com os autores do site pedindo provas e acabou tendo o nome dela usado ilegalmente no trote.

Em maio do ano 2000 a isca foi mordida pelo Jornal da Ciência da SBPC (a sisuda e politizada Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). O Jornal da Ciência é um interessante clipping de notícias enviadas aos assinantes. A jornalista que recebeu a notícia, entretanto, não verificou a credibilidade da fonte e o JC-Email distribuiu a falsa notícia para milhares de pessoas, muitos dos quais formadores de opinião. Ela acreditou que a mensagem partira mesmo de Michelle Zwede.

Acreditando que a SBPC teria feito a pesquisa da fonte, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma nota, na coluna Persona, assinada por César Giobbi, reproduzindo com indignação o texto do newsletter da SBPC no dia 23 de maio de 2000 -- que trazia novamente a assinatura (falsa) de Michelle Zwede. Foi a gota d'água. O jornal tirou o texto do ar.

Imediatamente todos começaram a perguntar "qual é a fonte"? Foi então que a SBPC resolveu investigar o caso e descobriu que tudo não passava de um "hoax", uma notícia falsa plantada para incautos, e teve que vir a público pedir desculpas -- junto com o Estadão, que produziu uma matéria sobre isso em 12 de junho do ano 2000. Mas já no dia 11 do mesmo mês, a alta cúpula das Forças Armadas era citada como preocupada com o "fato", no artigo Forças Armadas Preocupadas com a Internacionalização da Amazôna.

O site que divulgara a notícia falsa era recheado de informações falsas, como a dos mapas. Para ver o mapa, visite:
http://www.relatorioalfa.com.br/arquivos/20011124_docs_mapa_amazonia

Depois de tudo ter ficado esclarecido uma nova onda de e-mails varreu a rede em outubro do ano passado e nosso parceiro InfoGuerra produziu uma completa matéria a respeito. Em outubro deste ano começou novamente, indicando que os responsáveis pelo trote estão escondidos mas bem ativos, lançando as informações falsas de tempos em tempos.

SERIA ISSO POSSÍVEL?

É importante lembrar que mesmo que um autor de livros didáticos maluco incluísse fronteiras inexistentes em um livro, ele seria imediatamente detectado pelos conselhos federais de educação nos Estados Unidos. Naturalmente um vigarista poderia até publicar um livro assim, mas jamais seria adotado em uma rede de ensino americana. E se isso chegasse a acontecer, no mesmo ano o livro seria retirado de circulação pela editora.

Aldo Novak
Editor
aldonovak@relatorioalfa.com.br

PS: Se você enviou para seus amigos a informação falsa, sugiro que envie esta edição do Relatório, para corrigir o boato e impedir que se espalhe ainda mais... 

Abaixo há alguns links interessantes, que tratam deste assunto em profundidade:

Infoguerra publicou uma matéria completa sobre o assunto em Outubro do ano passado
http://www.infoguerra.com.br/infonews/viewnews.cgi?newsid971496000,19416,/
Estadão explica o que aconteceu
http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/jun/12/311.htm
Forças Armadas temem internacionalização da Amazônia
http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/jun/11/115.htm
Volta a circular e-mails com mentiras sobre a Amazônia
http://www.estado.com.br/editorias/2000/10/07/ger696.html
Roubaram a Amazônia? Mitos da Web Brasileira http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/out/06/258.htm
Mitos da Web Brasileira (outro artigo de Carlos Orsi Martinho)
http://www.estadao.com.br/tecnologia/colunas/midia/2000/jun/15/171.htm
Roubo da Amazônia, o boato que não morre
http://www.estado.com.br/jornal/00/05/23/news095.html
Os culpados que forjaram as informações e jamais tiveram seus nomes conhecidos possuem um site extremista (sem atualização desde o ano passado) localizado em http://brasil.iwarp.com

Veja mais:
Amazônia (ainda) não é área internacional - II  (Cristóvam Buarque)
Amazônia (ainda) não é área internacional - III (projeto no Congresso)
Amazônia (ainda) não é área internacional - IV  (análise militar)
Amazônia (ainda) não é área internacional - V   (o tema em Harvard)

Pela bagunça que esses trotes novamente causaram nas listas de debates no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, e principalmente pelo desleixo com que as autoridades brasileiras têm tratado a questão da soberania nacional na Amazônia, esta história tem duplo motivo para ser inscrita no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)...