Mario Machado Bittencourt
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Quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Mario Machado Bittencourt - O Herói da Ilha da Moela no Guarujá
"...É que os escudos onde eles traziam gravados o dístico PRO BRASILIA FIANT EXIMIA, eram os
próprios corações!" - Major-Brigadeiro-do-Ar Lysias Augusto Rodrigues
Iniciamos o mês de setembro, com uma história que na minha opinião é uma das mais fantásticas passagens da
Revolução Constitucionalista: a bravura e a determinação de um
jovem carioca que aos vinte e três anos encontrou a morte nas águas do Guarujá em setembro de 1932, lutando por São Paulo.
Algumas das fotos que ilustram este post são inéditas e nunca apareceram em nenhuma publicação. São imagens que congelaram no tempo dias
heroicos dos aviadores que combateram em 1932, em passagens que em nada deixam a dever às dos ases da 1ª e 2ª Guerras Mundiais.
Porém, tão grande quanto estes heróis é o descaso com o nosso passado. Mostro também como é fácil dar as costas a um simples monumento em uma das
mais badaladas praias do litoral paulista, aonde passam a cada verão milhares de pessoas que não fazem a menor ideia do que ocorreu logo ali na
frente.
Não sou nem almejo ser escritor, porém espero estar a altura desta tarefa que é resumir em poucas linhas e com algumas imagens a história de Mario
Machado Bittencourt.
Mario Machado Bittencourt
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Nascido na cidade do Rio de Janeiro a 7 de Julho de 1909, filho do Dr. Raul Machado Bittencourt e
de Dona Cleonice de Mattos Bittencourt, Mario Machado seguindo os passos de seu pai formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de
Janeiro em 1930 e com seu pai advogou durante pouquíssimo tempo.
Atendendo ao chamado da Lei e da Ordem em julho de 1932, Mario Machado tentou com outros constitucionalistas fazer no Rio de Janeiro com que a
movimentação que ocorria em São Paulo ecoasse a ponto de iniciar naquela cidade o clamor revolucionário. Porém as forças de
Getúlio Vargas logo usaram de truculência para calar as vozes que gritavam por mudanças.
Assim sendo, Mario Machado se reuniu com José Angelo Gomes Ribeiro (de quem foi companheiro durante os combates aéreos), coronel Basílio Taborda e
Lysias Rodrigues e fugiram de barco em direção a Santos para no dia 17 daquele mês já assumirem postos de comando no Exército Constitucionalista.
Avião Waco CSO (Waco Verde), usado no reide constitucionalista em 1932. Na foto, com a
proteção em volta do motor
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1o Grupo de Aviação Constitucionalista - Os Gaviões de Penacho - Mario Machado, era
o melhor observador das Forças Aéreas Paulistas. Civil, em pouco tempo obteve comissionamento no posto de 2o Tenente. Logo depois foi promovido,
após combate com aviões adversários, a 1º tenente. Foi elogiado repetidamente em boletins do QG da Capital.
Operou juntamente com os Gaviões de Penacho em todos os setores da luta: Faxina, Buri, Itapetininga, Campinas, Lorena, Uberaba, Barão de Ataliba...
Em Mogi-Mirim participou dos raids que destruíram cinco aviões governistas, além de diversos embates aéreos nos moldes da 1ª Guerra Mundial.
Pose no Campo de Marte, na capital paulista, com o grupo preparando-se para a decolagem
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Na narrativa de Lysias Rodrigues, Mario Machado Bittencourt sempre é destacado pelo senso do dever
e pelo extremo bom humor, sendo sem dúvida alguma um dos mais queridos do grupo.
Momento de descontração, em que Machado Bittencourt observa, com um sorriso, os amigos
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Na manhã do dia 24 de setembro, um sábado (como não poderia deixar de ser, o dia da semana que
sempre foi fatídico aos soldados paulistas) Mario Machado Bittencourt e José Angelo Gomes Ribeiro se apresentam no hangar Capitão Chantre no
Campo de Marte para mais uma missão.
Mario Machado Bittencourt, preparando-se para o combate no Campo de Marte em São Paulo
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Ao meio dia e quinze minutos, o major Ivo ordena a partida da esquadrilha.
Pilotando o avião modelo Curtiss O1-E Falcon, batizado de Kavuré-Y, Machado Bittencourt e Gomes Ribeiro partem em direção ao Porto de Santos,
na penosa missão de bombardear a esquadra ali estacionada numa tentativa de romper o bloqueio que impossibilitava as nossas forças de obter
armamentos e suprimentos de guerra.
Junto deles decolam Lysias Rodrigues e Abilio Pereira de Almeida no Kyri-Kyri e Motta Lima
junto com Hugo Neves no Waco Verde. Fariam o primeiro bombardeio e aterrariam no Campo da Praia Grande onde se
reabasteceriam com bombas para novas investidas.
Gomes Ribeiro e Machado Bittencout com um oficial da aviação paulista, em frente ao Kavuré-Y
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Não se sabe ao certo qual foi o motivo (fogo antiaéreo ou um incêndio provocado por uma válvula),
mas ao realizar o piqué para bombardear o Cruzador Rio Grande do Sul, o avião de Gomes Ribeiro e Bittencourt se transformou em uma enorme
bola de fogo e se espatifou ao lado da Ilha da Moela, em frente ao
Guarujá. Estavam mortos os dois aviadores constitucionalistas. O cruzador não foi atingido. Os corpos dos aviadores jamais foram encontrados e os
destroços do avião fazem parte de um enorme mistério.
O Curtiss Falcon Kavuré-Y. Á direita, Machado Bittencourt (de costas), conversando com
outros aviadores, em foto tirada na manhã do dia 24 de setembro
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O governador Pedro de Toledo, que teve conhecimento do desastre de aviação em que pereceram José
Angelo Gomes Ribeiro e o seu observador Machado Bittencourt, dirigiu ao general Klinger e ao comandante Ivo Borges os seguintes telegramas de
condolências:
"General Bertoldo Klinger chefe das Forças Constitucionalistas - Envio a v. exa., em meu nome
e do governo do Estado de São Paulo, a expressão do mais profundo pesar pelo tragico desapparecimento dos gloriosos aviadores José Antonio Gomes
Ribeiro e Mario Machado Bittencourt, exemplos admiraveis de devotamento á causa nacional da Constituição (a) Pedro de Toledo, governador do Estado".
"Major Ivo Borges, commandante da Aviação Constitucionalista - Queria acceitar e transmittir
aos seus denodados companheiros de aviação constitucionalista a expressão do mais sentimento de pesar pelo tragico desapparecimento de José Angelo
Gomes Ribeiro e Mario Machado Bittencourt, gloriosos defensores da civilização brasileira a cuja grande causa prestaram o inexcedivel concurso das
suas azas immortaes, em exemplos de fulgurante civismo. Em meu nome pessoal e do governo do Estado de S. Paulo lamento a irreparavel perda, que
enriquece o thesouro dos nossos sacrificios como tambem augmenta a divida de gratidão da patria para com aquelles que tão heroicamente e defendem,
no campo da honra.
Pedro de Toledo, Governador do Estado." (Folha da Manhã,
segunda-feira, 26 de setembro de 1932).
Mario Machado Bittencourt e José Angelo Gomes Ribeiro
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Mario Machado Bittencourt era neto do marechal Carlos Machado Bittencourt, que ficou famoso
durante a Guerra de Canudos e perdeu a vida defendendo o presidente Prudente de Moraes de um atentado em em 5
de novembro de 1897.
Por decreto de 5 de abril de 1940, "Herói de Guerra e Mártir do Dever, que sublimou as Virtudes Militares de Bravura e Coragem", Carlos Machado
Bittencourt foi consagrado como Patrono do Serviço de Intendência do Exército Brasileiro, em "honra a seu espírito de organização que contribuiu
para a vitória do Exército na guerra de Canudos."
O marechal Carlos Machado Bittencourt e nota de jornal sobre avô e neto
Imagens publicadas com a matéria
A morte e a morte de Mario Machado Bittencourt - No ano de 1957, nas comemorações de 25
anos do aniversário da Revolução Constitucionalista a Sociedade de Veteranos de 1932 MMDC custeou e ergueu um monumento aos dois aviadores na
Praia de Pitangueiras no Guarujá, ao lado do então Grande Hotel de La Plage (local do
suicídio de Alberto Santos Dumont ocorrido dias antes da morte de Machado Bittencourt) com a Ilha da Moela ao fundo.
Anualmente no dia 24 de setembro eram prestadas homenagens aos aviadores em belíssimas cerimônias que contavam com a participação de civis e
militares, além de familiares dos dois aviadores.
Um integrante do Regimento de Cavalaria 9 de Julho em sentinela ao lado do monumento, em setembro
de 1957
Fotos publicadas com a matéria
Infelizmente os nossos governantes e nosso povo tem memória curta.
O tempo e a ação de vândalos apagaram daquele local qualquer informação sobre o monumento. Resta hoje apenas uma estrutura de concreto mal pintada
de branco. Me pergunto quantas pessoas sabem do que se trata essa estrutura? A resposta me parece óbvia e desoladora.
"Setembro de 2010. Essa é a memória que preservamos: Um enorme branco"
Fotos e legenda publicadas com a matéria
"Uma pequena montagem, mostrando na mesma imagem o ONTEM e o HOJE. Para esta imagem se tornar
realidade no AMANHÃ, juntamente com alguns interessados em preservar este monumento estamos iniciando uma movimentação no sentido de sua
recuperação. Contamos também com o apoio do coronel Ventura, da Sociedade Veteranos de 32 MMDC. Ainda estamos no plano das ideias, mas se você
quiser ajudar basta entrar em contato pelo e-mail
tudoporsp1932@gmail.com"
Foto e legenda publicadas com a matéria
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