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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Valdomiro Silveira
Valdomiro Silveira (6)

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Em uma quinta-feira, 7 de janeiro de 1937, o jornal paulistano O Estado de São Paulo noticiou, em sua página 4, evento político paulista com a participação e discurso de Valdomiro Silveira (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):

Homenagem à mesa da Assembléia Legislativa e ao líder e sublíder da Maioria

Revestiu-se de brilho o jantar de cordialidade promovido ontem, no Automóvel Club, pelos deputados do Partido Constitucionalista e da bancada classista da Assembleia Legislativa Estadual - Os discursos de saudação pronunciados pelos deputados Paulo Duarte, Motta Filho e Nelson Ottoni de Rezende - Agradecendo a homenagem falaram os deputados Valdomiro Silveira, Ernesto Leme e Edgard França

[...]

Seguiu-se com a palavra o deputado Valdomiro Silveira, agradecendo em nome dos membros da mesa a homenagem que lhes estava sendo prestada. Foram as seguintes as suas palavras:

Palavras do deputado Valdomiro Silveira

"Amigos e senhores: - Pesa-me a falar-vos, falando contra alguém. Quero-lo desse alguém, diante de vós todos, principalmente porque os verdadeiros prejudicados pelo fato que vou contar-vos, sois todos vós. Trata-se do sr. Henrique Bayma, a figura central da formosa festa que nos estais oferecendo. Presidente da Assembleia Legislativa, cujos trabalhos dirigiu com a elegância e fidalguia de que nem um deputado poderá esquecer-se, teve, por imperativo constitucional, de nos deixar alguns dias, assumindo o governo do Estado.

Daí, da governança estadual, foi que praticou o ato lesivo a seus companheiros de partido: pouco antes de se retirar oficialmente dos Campos Elíseos, telefonou-me, para me dar a incumbência de responder ás vossas saudações. Ponderei-lhe, como era bem de sentir, que a voz esperada e, mais do que isso, com o maior afeto desejada, era a sua. O sr. Henrique Bayma, que sempre nos apareceu como criatura de palavras suaves, até ainda quando tenham de ser enérgicas, foi inexorável: chegou ao ponto de me dizer que se achava em condições de transmitir uma ordem, e não hesitava em transmiti-la, fossem quais fossem as consequências do caso.

Estais vendo que tomou certo vulto o singular abuso de autoridade. Porque era ainda governador estadual, o sr. Henrique Bayma substabeleceu,no vice-presidente da Assembleia, os poderes com que ora haveria de vos apresentar agradecimentos, em nome da Mesa. A todos nos prejudicou, afinal, porque não teremos ocasião de ouvi-lo hoje, nós que sempre o ouvimos com admiração, amizade e acatamento.

Quer-me parecer (e vá lá mais uma dureza contra ele, no calor desta queixa), quer-me parecer que, tendo sido até agora magnanimamente liberal e dadivoso, neste dia de Reis ficou avarento do discurso que nos devia, forreta das boas palavras que sabe proferir, cauíra (N. E.: o mesmo que avarento, mesquina, sovina ou usurário) das ideias que espalha em profusão, vinagre dos conselhos que ministra aos companheiros, com oportunidade e modéstia. Pela primeira e única vez o acharemos pão-duro e garrucha. Seja tudo pelo amor de Deus!

Explicada assim a razão por que me ergo eu, e não ele, a conversar convosco, iniciemos a conversação, pois estamos em jantar de cordialidade, como encantadoramente reza o convite que se nos fez. Conversemos, senhores e amigos.

É muito de agradecer, mas muito e muito, a generosidade de vossa iniciativa. Pela parte que nos toca e diz respeito, cumpre confessar, e portanto reconhecê-lo com coragem, que nossa atuação, nos serviços legislativos e até nos de administração geral, tem, não raro, maneiras contrariantes e aborrecíveis. Uma vez ou outra, conforme o jeito por que se processam os fatos, a Mesa parece ranzinza, quando o que está fazendo, e procura fazer com devoção, é chamar uns e todos à perfeita execução do regimento interno. Há, sem dúvida, ocasiões em que o apelo pode ir ao ponto de ser menos agradável; mas não é a Mesa quem cria e formula a exigência, é a própria lei doméstica da Assembleia.

Por felicidade nossa, tão rara que se faz digna de nota especial, nunca chegamos a perceber, nos respeitáveis cidadãos que compõem o parlamento paulista, o mais leve sinal de reprovação, ou de censura aos nossos atos. Se quisermos dizer uma verdade rigorosamente verdadeira, será com a afirmação de que souberam conservar-se à altura do mandato recebido. Chegando ao termo dos nossos trabalhos, que foram excessivos e, mais de uma vez, deveras árduos, pudemos assegurar e podemos repetir que os deputados mereceram, até o fim da sessão, o qualificativo que lhes confere o diploma regimental: foram sempre nobres.

É certo que, por duas ou três vezes, não mais, a atmosfera da casa aqueceu um pouco. A fervura dos apartes, mutuados entre os arraiais de cá e de lá, foi-se elevando até forte graduação. Mas ali sucedeu, nessas duas ou três vezes, o que acontece aqui fora, nos fenômenos que estamos acostumados a contemplar desde a idade florida.

Passando as nuvens de chumbo a jaspe, amontoando-se em esquadrões formidáveis de um lado e de outro do céu, em certo momento se chocaram: e do mais intrínseco recesso das nuvens, logo que o choque se deu, veio até nós, mensageiro e núncio de temerosa ameaça, ecoando em retroar retumbante, o turumbamba da trovoada.

Contudo, e antes ainda que nos tivéssemos reposto de um susto, ou de um receio, as nuvens se apartaram e adelgaçaram, esclareceu o céu no alto e nos longes, e o ar ambiente como que ficou, refrescando-se, mais doce do que dantes.

Nunca nos cansaremos de dizer que as coisas do interesse e do bem geral foram ininterruptamente discutidas num só e inalterável diapasão. Quando se discutiam elas, todas as bancadas perdiam cor e legenda, formando uma única e laboriosíssima - a bancada de São Paulo. Recordá-lo é ter a satisfação de reconhecer que, nos momentos graves e decisivos de sua vida, haja o que houver, a gente paulista não se distrai, não se perturba, não se desorienta, e se dirige com firmeza no rumo da salvação comum.

Amigos e senhores: nesta impressionante prova de carinho, com que nos honra e obsequia a bancada constitucionalista da Assembleia, o sentimento de solidariedade partidária atinge o seu máximo galarim. Olhamos em roda de nós, com absoluta confiança, e vemos que ninguém falta, pela presença real, ou pela que se manifesta em mensagens de toda parte. Continuamos, com a mesma fé e o mesmo entusiasmo, a formar em torno do nosso grande chefe, sr. dr. Armando de Salles Oliveira.

Suprimimos, nas demonstrações orais, a profusão e o esparrame de adjetivos, com que é de mau uso qualificar os maiorais do partido e os cidadãos que governam. Como homens da atualidade, afeitos a conhecer os que comandam e os que têm de ser comandados, naquele só adjetivo somamos todas as qualidades do nosso companheiro, porque traduz perfeitamente o que é ele, como paulista e como chefe.

Com o nosso chefe, e ao lado do sr. Cardoso de Mello Netto, cuja inteligência, ilustração e probidade asseguram brilhante e honesta administração, temos certeza de que o Partido Constitucionalista serve bem e dedicadamente a São Paulo.

A mesa da Assembleia Legislativa terminou o seu mandato. Contemplando a cordial homenagem que lhe prestais, já pela beleza da festa, já pela rica fineza das palavras com que a realçam os vossos oradores, conservará em lembrança, pelo correr da vida, a gratidão com que vos responde e a alegria com que se acha junto de vós".

Findo o discurso do deputado Valdomiro Silveira, que como os demais mereceu fartos aplausos, levantou-se o deputado Ernesto Leme, líder da maioria, para agradecer a homenagem, tendo pronunciado as seguintes palavras:

[...]

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