Homenagem à mesa da Assembléia Legislativa e ao líder e sublíder da Maioria
Revestiu-se de brilho o jantar de cordialidade promovido ontem, no Automóvel Club, pelos deputados do
Partido Constitucionalista e da bancada classista da Assembleia Legislativa Estadual - Os discursos de saudação pronunciados pelos deputados Paulo
Duarte, Motta Filho e Nelson Ottoni de Rezende - Agradecendo a homenagem falaram os deputados Valdomiro Silveira, Ernesto Leme e Edgard França
[...]
Seguiu-se com a palavra o deputado Valdomiro Silveira, agradecendo em nome dos membros da mesa a
homenagem que lhes estava sendo prestada. Foram as seguintes as suas palavras:
Palavras do deputado Valdomiro Silveira
"Amigos e senhores: - Pesa-me a falar-vos,
falando contra alguém. Quero-lo desse alguém, diante de vós todos, principalmente porque os verdadeiros prejudicados pelo fato que vou contar-vos,
sois todos vós. Trata-se do sr. Henrique Bayma, a figura central da formosa festa que nos estais oferecendo. Presidente da Assembleia Legislativa,
cujos trabalhos dirigiu com a elegância e fidalguia de que nem um deputado poderá esquecer-se, teve, por imperativo constitucional, de nos deixar
alguns dias, assumindo o governo do Estado.
Daí, da governança estadual, foi que praticou o ato lesivo a seus companheiros de partido: pouco
antes de se retirar oficialmente dos Campos Elíseos, telefonou-me, para me dar a incumbência de responder ás vossas saudações. Ponderei-lhe, como
era bem de sentir, que a voz esperada e, mais do que isso, com o maior afeto desejada, era a sua. O sr. Henrique Bayma, que sempre nos apareceu como
criatura de palavras suaves, até ainda quando tenham de ser enérgicas, foi inexorável: chegou ao ponto de me dizer que se achava em condições de
transmitir uma ordem, e não hesitava em transmiti-la, fossem quais fossem as consequências do caso.
Estais vendo que tomou certo vulto o singular abuso de autoridade. Porque era ainda governador
estadual, o sr. Henrique Bayma substabeleceu,no vice-presidente da Assembleia, os poderes com que ora haveria de vos apresentar agradecimentos, em
nome da Mesa. A todos nos prejudicou, afinal, porque não teremos ocasião de ouvi-lo hoje, nós que sempre o ouvimos com admiração, amizade e
acatamento.
Quer-me parecer (e vá lá mais uma dureza contra ele, no calor desta queixa), quer-me parecer que,
tendo sido até agora magnanimamente liberal e dadivoso, neste dia de Reis ficou avarento do discurso que nos devia, forreta das boas palavras que
sabe proferir, cauíra (N. E.: o mesmo que avarento, mesquina, sovina ou usurário)
das ideias que espalha em profusão, vinagre dos conselhos que ministra aos companheiros, com oportunidade e modéstia. Pela primeira e única vez o
acharemos pão-duro e garrucha. Seja tudo pelo amor de Deus!
Explicada assim a razão por que me ergo eu, e não ele, a conversar convosco, iniciemos a
conversação, pois estamos em jantar de cordialidade, como encantadoramente reza o convite que se nos fez. Conversemos, senhores e amigos.
É muito de agradecer, mas muito e muito, a generosidade de vossa iniciativa. Pela parte que nos
toca e diz respeito, cumpre confessar, e portanto reconhecê-lo com coragem, que nossa atuação, nos serviços legislativos e até nos de administração
geral, tem, não raro, maneiras contrariantes e aborrecíveis. Uma vez ou outra, conforme o jeito por que se processam os fatos, a Mesa parece
ranzinza, quando o que está fazendo, e procura fazer com devoção, é chamar uns e todos à perfeita execução do regimento interno. Há, sem dúvida,
ocasiões em que o apelo pode ir ao ponto de ser menos agradável; mas não é a Mesa quem cria e formula a exigência, é a própria lei doméstica da
Assembleia.
Por felicidade nossa, tão rara que se faz digna de nota especial, nunca chegamos a perceber, nos
respeitáveis cidadãos que compõem o parlamento paulista, o mais leve sinal de reprovação, ou de censura aos nossos atos. Se quisermos dizer uma
verdade rigorosamente verdadeira, será com a afirmação de que souberam conservar-se à altura do mandato recebido. Chegando ao termo dos nossos
trabalhos, que foram excessivos e, mais de uma vez, deveras árduos, pudemos assegurar e podemos repetir que os deputados mereceram, até o fim da
sessão, o qualificativo que lhes confere o diploma regimental: foram sempre nobres.
É certo que, por duas ou três vezes, não mais, a atmosfera da casa aqueceu um pouco. A fervura dos
apartes, mutuados entre os arraiais de cá e de lá, foi-se elevando até forte graduação. Mas ali sucedeu, nessas duas ou três vezes, o que acontece
aqui fora, nos fenômenos que estamos acostumados a contemplar desde a idade florida.
Passando as nuvens de chumbo a jaspe, amontoando-se em esquadrões formidáveis de um lado e de outro
do céu, em certo momento se chocaram: e do mais intrínseco recesso das nuvens, logo que o choque se deu, veio até nós, mensageiro e núncio de
temerosa ameaça, ecoando em retroar retumbante, o turumbamba da trovoada.
Contudo, e antes ainda que nos tivéssemos reposto de um susto, ou de um receio, as nuvens se
apartaram e adelgaçaram, esclareceu o céu no alto e nos longes, e o ar ambiente como que ficou, refrescando-se, mais doce do que dantes.
Nunca nos cansaremos de dizer que as coisas do interesse e do bem geral foram ininterruptamente
discutidas num só e inalterável diapasão. Quando se discutiam elas, todas as bancadas perdiam cor e legenda, formando uma única e laboriosíssima - a
bancada de São Paulo. Recordá-lo é ter a satisfação de reconhecer que, nos momentos graves e decisivos de sua vida, haja o que houver, a gente
paulista não se distrai, não se perturba, não se desorienta, e se dirige com firmeza no rumo da salvação comum.
Amigos e senhores: nesta impressionante prova de carinho, com que nos honra e obsequia a bancada
constitucionalista da Assembleia, o sentimento de solidariedade partidária atinge o seu máximo galarim. Olhamos em roda de nós, com absoluta
confiança, e vemos que ninguém falta, pela presença real, ou pela que se manifesta em mensagens de toda parte. Continuamos, com a mesma fé e o mesmo
entusiasmo, a formar em torno do nosso grande chefe, sr. dr. Armando de Salles Oliveira.
Suprimimos, nas demonstrações orais, a profusão e o esparrame de adjetivos, com que é de mau uso
qualificar os maiorais do partido e os cidadãos que governam. Como homens da atualidade, afeitos a conhecer os que comandam e os que têm de ser
comandados, naquele só adjetivo somamos todas as qualidades do nosso companheiro, porque traduz perfeitamente o que é ele, como paulista e como
chefe.
Com o nosso chefe, e ao lado do sr. Cardoso de Mello Netto, cuja inteligência, ilustração e
probidade asseguram brilhante e honesta administração, temos certeza de que o Partido Constitucionalista serve bem e dedicadamente a São Paulo.
A mesa da Assembleia Legislativa terminou o seu mandato. Contemplando a cordial homenagem que lhe
prestais, já pela beleza da festa, já pela rica fineza das palavras com que a realçam os vossos oradores, conservará em lembrança, pelo correr da
vida, a gratidão com que vos responde e a alegria com que se acha junto de vós".
Findo o discurso do deputado Valdomiro Silveira, que como os demais mereceu fartos aplausos,
levantou-se o deputado Ernesto Leme, líder da maioria, para agradecer a homenagem, tendo pronunciado as seguintes palavras:
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