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Homenagem à memória de Valdomiro Silveira
A sessão solene de ontem à noite, na Faculdade de Direito, promovida pela Academia Paulista
de Letras – A conferência do acadêmico professor Spencer Vampré
Conforme vínhamos noticiando, realizou-se ontem, às 21 horas, na sala "João Mendes Junior" da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a sessão solene que a Academia Paulista de Letras, em sua última reunião, resolvera promover em
homenagem à memória do grande escritor patrício Valdomiro Silveira, recentemente falecido.
A essa reunião, que se revestiu de raro brilho, estiveram presentes os srs. representantes do
interventor Fernando Costa e das demais autoridades civis e militares de São Paulo, professores da Universidade e acadêmicos das várias Faculdades,
membros da Academia de Letras e numeroso público.
Abrindo a sessão, o dr. Altino Arantes, presidente da Academia Paulista de Letras, disse do
significado da homenagem que os acadêmicos paulistas, interpretando o sentimento dos círculos literário, artístico e social de S. Paulo, prestavam à
memória de Valdomiro Silveira.
Em seguida, deu a palavra ao conferencista, professor dr. Spencer Vampré, membro da Academia.
Conferência do dr. Spencer Vampré – Iniciando a sua conferência
sobre Valdomiro Silveira, o professor Spencer Vampré referiu-se aos principais traços biográficos do autor de Mixuangos. Nasceu em Embaú,
comarca de Cachoeira, neste Estado, aos 11 de novembro de 1873, filho do dr. João Batista da Silveira e de d. Cristina Silveira.
Relembrou o ambiente de cultura e suavidade de que desfrutou na infância, entre pessoas com ideais
literários. Daí o fato de formar a família Silveira um grupo de ativos intelectuais – o dr. João Batista da Silveira, e seus filhos Alarico, Breno,
João, Agenor e Valdomiro – a que se vem acrescentando uma nova geração formada dos filhos deste, Evandro, Meroveu, Valdo, Miroel e Junia, casada com
o dr. Amilcar Mendes Gonçalves, ilustre advogado em Santos.
Descreveu, em seguida, a mocidade acadêmica de 1891, ano em que Valdomiro Silveira se matricula na
Faculdade de Direito de S. Paulo, onde estudam Adolfo Araujo, Celso Garcia, José Maria Lisboa Junior, Paulo de Lacerda, Mario Pederneiras, Freitas
Guimarães, Washington Luiz, Reinaldo Porchat, Pedro Moacir, Altino Arantes, Heitor Penteado, Mario Tavares e muitos outros, e descreve também a
pequena cidade de 70.000 habitantes, com a sua incipiente vida noturna, constituída pelo Café Londres e o Cabaré do Sapo Morto, fundado por
iniciativa de Benjamim Mota.
Era então já Valdomiro Silveira grande estudioso dos clássicos portugueses, paixão que conservou
por toda a vida.
Merecem a atenção do prof. Vampré as preferências literárias de Valdomiro Silveira, destacando como
os autores de mais assídua consulta, Camões, Bernardes, Garrett, Castilho, Camilo e Eça de Queiroz, e dentre os de outras línguas, Vitor Hugo,
Catulle Mendés, Banville, Anatole France, Gorki, Tolstoi e Goethe, e dos nacionais, Rui Barbosa, Olavo Bilac, Vicente de
Carvalho e Amadeu Amaral.
Referiu-se ainda à amizade de Valdomiro e Euclides da Cunha, Vicente de Carvalho e
Martins Fontes, e depois de narrar os seus primeiros ensaios sobre contos regionais, expôs as suas teorias literárias
sobre o conto e a poesia regionais, reproduzindo alguns trechos mais indicativos de sua filosofia estética.
Concluiu afirmando que a literatura regional não está destinada a desaparecer, mas a adquirir maior
valor artístico, filológico e psicológico, à medida que o Brasil desenvolver a sua população e a sua cultura.
O nome de Valdomiro Silveira está destinado a viver na memória dos brasileiros como um dos mais
puros, sinceros e exatos cultores das tradições de nossa gente.
A conferência do dr. Spencer Vampré, cujo resumo damos acima, será oportunamente
publicada na íntegra por esta folha. |