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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - F. Montenegro
Fábio Montenegro (1)

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Um resumo biográfico sobre o poeta Fábio Montenegro - cujo monumento está situado nos jardins da praia, próximo ao Aquário Municipal - foi publicado no terceiro volume da obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Santos, 1996):

SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Fábio Montenegro

Nasceu em Santos a 26 de maio de 1891 e faleceu a 21 de agosto de 1920. Foi um dos redatores da revista "O Verso".

Publicou: "Jornada Lírica" (poesias, 1920); "Flâmulas" (poesias, 1925 - obra póstuma).

Nós

Eu ando alheio, há muito, ao que se passa
sob a miséria e os torvelinhos da rua;
desconheço o clamor da população
e a vaidade, que em tudo tumultua.

Vivo do seu amor, da sua graça,
e adoro, sob a névoa que flutua,
através da cortina e da vidraça,
a palidez romântica da lua.

Em cada riso, em cada olhar, em cada
anseio que de ti me vem, querida,
sinto que cada vez és mais amada.

E assim, longe do mundo, refletida
tua alma na minh'alma, és alvorada
cantando o poema esplêndido da vida!

 

Artigo publicado no jornal santista A Tribuna, em 2 de novembro de 1952:


Imagem: reprodução parcial da matéria original (cor acrescentada por Novo Milênio)

Fábio Montenegro

Manoel Moreyra

Certa vez, num dia de Finados, percorria eu o cemitério do Saboó, quando, de repente, meus passos se detiveram diante de um túmulo, como que obedecendo à imposição que do mesmo partia: "Paraí!" Não havia ali, porém, apenas essa palavra: ela era o início de um belo soneto, homenagem de um poeta ao amigo jornalista que falecera.

Li os versos com emoção. E logo os decorei, jamais os esquecendo. Não sei se ainda lá estarão, gravados em mármore e reverenciando o talentoso homem de jornal. Sei que eles me permitiram conhecer mais um grande nome das letras santistas, adepto do parnasianismo, cujo busto enfeita, hoje, a orla da praia, colocado que foi nos seus jardins, perto do Aquário, após ter permanecido vinte anos na praça dos Andradas.

Reproduzo, a seguir, o soneto, conforme o reteve minha memória:

"Parai No fundo desta campa, mora
um poeta. Não morreu: está a sonhar.
Que a sua lira, mais vibrante agora,
canta o céu, canta a vida, canta o mar.

Aqui, de noite, há prantos de luar:
e, quando a primavera tudo enflora,
cada planta, a tremer, lembra um olhar
marejado das lágrimas da aurora.

Quando a brisa, num sopro benfazejo
derrama aqui a música de um beijo
em desfeitas, dulcíssimas canções,

ecoam, neste gélido recanto,
as tristezas dos seus, num grande canto
feito de luto e de recordações..."

Assinava estes formosos quatorze versos um nome até então desconhecido para mim: Fábio Montenegro. Mas de tal maneira o sentimento do poeta falara à minha sensibilidade, que procurei logo indagar quem era ele.

Não me foi difícil obter informes. Tendo concorrido aos Jogos Florais de 1915 e 1916, e autor, já, de um magnífico livro de versos, intitulado Jornada Lírica, Fábio Montenegro tornara-se querido e apreciado pela sua inspiração e pelo seu valor.

Modesto funcionário da Companhia Docas, e ele próprio uma criatura simples e modesta, vivia retraidamente, metido com os seus versos, que escrevia nas horas de lazer, indiferente às glórias da existência efêmera e vazia.

Quando ele tombou para não mais se erguer, vitimado por um colapso cardíaco, foi que alguns amigos e admiradores resolveram tributar-lhe as homenagens a que fazia jús, mas que, em vida, não fizera questão de receber. E então, com o produto de uma subscrição, confeccionou-se o busto, cuja inauguração se fez singelamente, entre palavras de comovido afeto, à sombra amiga das velhas árvores da Praça dos Andradas. Foi orador da solenidade Galeão Coutinho, que exercia as funções de jornalista e livreiro, e que disse dos méritos do poeta homenageado, homem sem ambições e sem vaidades, devotado à família, que "morrera como todos os poetas devem morrer: pelo coração".

Fábio Montenegro ali ficou por algum tempo, num canteiro todo florido de rosas, como a sua própria alma de artista. Mais tarde, mudaram-no para defronte da Cadeia Pública, onde permaneceu largos anos, esquecido e abandonado, sob a proteção do arvoredo de raízes retorcidas.

Há pouco tempo, nova mudança foi resolvida. Como acontecera com Xavier da Silveira, cujo monumento andou de um lado para outro (primeiro, Praça Rui Barbosa; depois, Praça Mauá, e, por fim, praça Fernandes Pacheco), eis que Fábio Montenegro vai, finalmente para a zona praiana, onde agora pode repousar ao doce embalo das ondas, que misturam sua música à suave música dos seus versos.

Tenho, porém, a impressão, quando o vejo, de que ele procura encolher-se, como era do seu feitio, constrangido, talvez, naquele ambiente tão distinto, ao qual não está habituado, vivendo como sempre viveu, uma vida humilde. Ou talvez o pedestal em que foi colocado o busto tenha ficado um tanto curto, dando-nos essa impressão de acanhamento...

Depois da morte do poeta apareceram, em edição póstuma, e ainda por iniciativa de amigos e admiradores, suas Flâmulas. Livro de encantador lirismo, nos rigorosos moldes parnasianos, e que constitui, como Jornada Lírica, uma valiosa mostra do talento de Fábio Montenegro.

Sempre que alguém se referir à poesia santista, o nome do modesto funcionário da Companhia Docas não pode ficar esquecido. Ele forma em plano destacado, e com bastante merecimento, aliás, entre os que, pela inteligência e pela inspiração, souberam dignificar a Arte e honrar, ao mesmo tempo, a terra em que nasceram, glorificando-a com a sua própria glória.

Nota do Almanaque de Santos - 1969, editado por Roteiros Turísticos de Santos, de P. Bandeira Jr., e tendo como redator responsável Olao Rodrigues, em Jóias da Poesia Santista - página 177:

A Mocidade

A mocidade é uma árvore florida,

Ampla, copada, esplêndida, sonora,

Palpitante de seiva - para a vida,

Nimbada de perfume - para a aurora.

 

Amemo-la cantando! Enternecida,

Ela o poema dos poetas revigora;

Sangra e abençoa; imola-se e é querida;

Casta ao sorrir e bela quando chora.

 

Entre o verdor das folhas luzidias,

A flor é uma ilusão, o fruto é um canto,

Na sucessão das noites e dos dias!

 

Cantemo-la na pompa transitória,

Na orvalhada que é todo o nosso pranto,

No gorjeio que é toda a nossa glória!

 Fábio Montenegro

Já o seu Poema da Terra foi dedicado a Guilherme de Almeida:

Poema da Terra

A Guilherme de Almeida

O lavrador é um poeta. O arado é a pena. Doura

O campo que é o seu livro, o sol quente da rima.

O Gênio lavra. A ideia amplia. A alma entesoura,

E a seiva estua e ferve, e a vida esponta e anima.

 

O adusto e negro chão, ermo de asas em cima,

Treme em partos depois: a cabeleira loura

Da seara fulge, aumenta e se desdobra, opima,

Na transfiguração gloriosa da lavoura!

 

Terra fecunda e boa, imácula e sonora,

No teu ventre a semente atrai no mesmo anseio

O silêncio da noite e a aleluia da aurora!

 

E o Poeta que te ergueu, e que te ama, em ardores

Supremos, vive em ti, nas aves, no teu seio,

Recebendo o penhor dos frutos e das flores

 Fábio Montenegro

Um resumo biográfico foi publicado na seção Literatura do Almanaque de Santos para 1959 (Santos/SP, 1ª edição, 1959 - exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio - SHEC), página 74, além de um poema (página 78):

Imortal

Hás de sempre florir, hás de sempre cantar

Neste amor que não teve humana queixa alguma.

Oh! coração de arminho em ânfora de luar,

Frio como a bromélia aberta pela bruma!

 

Serás sempre imortal! Não murche o sentimento,

Que é uma rosa cantando em meio dos abnelhos,

E tu serás um anjo a aplacar-me o tormento,

E o verso um lenço branco enxugando os meus olhos...

 


Imagem: o poema, na página 78 do Almanaque de Santos para 1959

BIOGRAFIAS - Fábio Montenegro

Nasceu em Santos, em 1892, e foi uma das mais completas revelações poéticas desta terra. Sua obra foi curta mas brilhante e vigorosa. Fundou em Santos uma revista literária, a Via Láctea. Faleceu em 1920, aos 28 anos de idade, deixando seus poemas enfeixados em dois pequenos volumes: Jornada Lírica e Flâmulas. Na sua geração, Fábio Montenegro marcou o seu nome de maneira indelével, merecendo até hoje o culto da cidade que lhe serviu de berço. (N. E.: SIC: data de nascimento correta é 26/5/1891, falecendo portanto aos 29 anos de idade).

Em sua edição de 15 de janeiro de 1915 (página 6), o jornal paulistano O Estado de S. Paulo registrou assim o casamento de Fábio Montenegro (Acervo Estadão - acesso: 28/4/2013 - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução da nota publicada em 15/1/1915 na página 6 de O Estado de S. Paulo

Consórcio - SANTOS, 14 - Em cartório particular consorciaram-se hoje o sr. Fábio Montenegro, auxiliar da Companhia docas, com a senhorita Anastacia de Souza Barros, filha da exma. sra. d. Maria de Souza Barros, proprietária nesta cidade.

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