GENTE E COISAS DA CIDADE
O melhor presente
Lydia Federici
Mães felizes, no domingo, houve muitas. Todas foram lembradas. E homenageadas. Com presentes caros. Com lembranças simples. O pensamento gentil, mais que outra coisa, foi suficiente para emocionar milhares de corações femininos. Foi nas mãos trêmulas de uma senhora, entretanto, que descobri, atropelando-se num mar de felicidade, todas as coisas boas de um coração de mulher. De mãe feliz. Celestialmente mãe.
Conto-lhes a história, amigos. Aconteceu na Ponta da Praia. Na manhã bonita da Travessia do Canal a Nado.
Há um bom punhado de senhoras, mães de nadadores, que acompanham a vida esportiva de seus filhos. Bem de perto. Com ansiedade e carinho. Muito orgulho também. E, a ficar do lado de fora, na arquibancada, apenas a ver e a baer palmas, elas preferiram, unidas, ajudar de forma mais eficiente e útil, a luta de seus brotos. São juízes, “juízas”, como elas dizem, de natação. Trabalham pelo esporte dos seus e de todos os outros filhos.
Ora, muito bem. Para a Travessia, todas essas senhoras foram escaladas para prestar serviço. Nenhuma ficou livre. Como mera espectadora. Ou apenas torcedora compreensivelmente apaixonada. Mas era justo entregar-lhes uma tarefa em que, ao lado de sua colaboração, elas tivessem o prêmio de acompanhar, com os olhos, de perto, a luta de seus filhos, contra o belo mar.
Apenas duas, cujos garotos não participariam da Travessia, receberam o encargo de trabalhar trancadas no silêncio de uma sala. Na espinhosa, exaustiva e dura tarefa da classificação da prova. Antonia e Mayard foram as sacrificadas.
Acontece que, determinados os encargos, o filho de uma delas foi, pelo técnico do Tumiaru, inscrito para nadar. Era um garoto de 12 anos. Que, pela primeira vez, com alegria corajosa, com coragem medrosa, concorreria.
“Mamãe. Você não vai me ver nadar?”, perguntou ele, os olhos arregalados.
A moça afastou os cabelos da testa do garoto. “Não. Mamãe foi escalada para trabalhar na classificação. Não vai poder ver o seu campeãozinho nadar”. Houve mágoa na voz. Muita pena. Mas também muita determinação.
“Mas todas as outras mães vão nas lanchas. Só você é que vai ficar longe de mim? Por que você não muda de lugar com alguém?”
A moça pensou um pouco. O coração amolecendo. Não era justo o que o filho lhe pedia? Ficou em cúvida. Depois de um instante, sacudindo a cabeça, decidiu. “Quero que você compreenda, meu filho, que mamãe assumiu um compromisso. E que tem que cumpri-lo”. O menino, com os lábios apertados, aceitou a decisão. E assumiu o seu próprio compromisso.
No domingo, quando Mayard terminou o seu trabalho na canseira de seu rosto havia um sorriso de satisafação. Não vira seu garoto nadar. Mas sabia que, apesar dos seus doze anos, ele havia vencido os 2.500 metros de mar. Na porta da secretaria, a moça vê a carinha ansiosa do filho. Ele lhe estende uma caixa pequenina. Com a medalha dourada que conquistara na Travessia.
“Este é o meu presente pra você, mamãe. Também cumpri meu compromisso”.
Sim, dentre dezenas de mães orgulhosas, felizes, comovidas, foi nas mãos trêmulas e nos olhos brilhantes de Mayard que vi toda a doce e grande glória de ser mãe.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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