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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 405)

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Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 8 de maio de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Bons e maus

Lydia Federici

Numa destas tardes, há coisa de um mês, pouco mais ou menos, uma amiga telefonou-me. Ela mora numa rua do Gonzaga. Serve-se, quando precisa ir á cidade, do primeiro ônibus que aparece pela Ana Costa. Acontece que essa avenida, pouco depois de reformada, foi atacada por um mal. Espécie, digamos, de varíola. Que escalavra, sem piedade, a pele fina de asfalto de toda e qualquer rua santista. Já repararam?

Mas não era contra o empipocamento da rua que ela queria reclamar. Nem contra as depressões ou os remendos mal feitos da bonita avenida empalmeirada. Quem conhece o chão arenoso da ilha, sabe que não há revestimento que aguente os caprichos de um solo dançarino. Incapaz de permanecer firme. Estável. Em sossego. Se bem que, nas ostas dessa anomalia, muito trab alho inferior se escore. E queira desculpar a bela porcaria que é. Verdade ou mentira?

Ela falou dos ônibus. Logo depois de ter comentado a montanha russa, em ponto pequeno, que é a Ana Costa. Não há aquele que escape. Se a sujeira de um é mais discreta, mais escamoteada, o ferro velho que geme é mais assustador que os demais. Se o ônibus é novo, as janelas, em compensação, não funcionam. Se as janelas funcionam, subindo e descendo a um simples toqu de dedo, não há vidro. Que impeça a entrada da chuva. Nem cortina que bloqueie o sol escaldante das 11 horas.

Mas não era contra o estado dos ônibus que ela queria reclamar. É normal tudo envelhecer. Gastar-se. Como é compreensível que, havendo tão pouca condução, não se retire um ônibus de circulação. Só para dar-lhe um bom banho. Consertar-lhe o estofamento que a mola saltada furou. Trocar-lhe um vidro que ao primeiro tranco, no dia seguinte, estourará. Ou remendar o rasgão de uma cortina. É ir aguentando esses contratempos. Com bom humor. Na esperança de que, um dia, com a chegada de alguns trolebus, tudo melhorará. Oh! A doce esperança tão paciente. Viram, amigos, que os nossos trólebus continuam em Gênova? À espera de um navio nacional que os pegue?

Depois de ter falado da ondulação das ruas, da precariedade dos ônibus, ela chegou ao ponto principal. Buracos e desgraças amabulantse constituíram apenas o aperitivo. Inevitável. Trago que engolimos, com apatia, com passividade, porque brota de leis naturais. Inevitáveis. Quem consegue fixar uma capa de asfalto sobre alicerces móveis e tremeliquentos como geleia? Quem pode remediar o gasto e desgaste de carros ultra usados e sofredores?

Foi assim que ela reclamou contra os choferes de ônibus. Contra aqueles que, para espantar a monotonia do serviço, se divertem, acelerando ou brecando à toa seus veículos. Lançando passageiro sobre passageira. Desequilibrando até os que vão sentados. É claro que, às vezes, uma brecada violenta é indispensável. Mas sistematicamente? A cada ponto? Não é brincadeira perigosa?

Ai. Os bons choferes que ninguém elogia. E os maus. Que exigem crítica.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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