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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 397)

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Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 25 de abril de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Como nos conhecem

Lydia Federici

Um pequeno grupo de juízes sobe todo dia para São Paulo. São senhoras e rapazes do esporte. Convocados para prestar serviço no campeonato de natação dos Jogos Pan-Americanos.

Raciocinaram da seguinte forma: uma vez que cairiam, em cheio, no meio de três mil estrangeiros, que tal se os convidassem a vir conhecer as belezas que por aqui temos? Tornaram-se, assim, amadoramente, agentes de turismo. Propagandistas do mar azul. Da areia dourada que circunda toda a zona sul da ilha dourada em que vivemos.

É certo que propaganda se faz com sorrisos. E simpatia. Mas isso, apesar de arma poderosa, é chamariz incompleto. Não é suficiente falar de maravilhas com amor> Entusiasmo. Muito mais eficiente, duzentas vezes mais sugestivo, é mostrar algo de visível do objeto, da criatura amada. Vai daí a razão dos oito agentes improvisados de turismo de levarem um pouco de material de propaganda. Tudo, na verdade, que lhes foi possível conseguir.

E o ataque principia. Junto a um chefe de equipe americana. Entrega-lhe uma flâmula. Colorida. Que mostra mar azul. Praia dourada com largos guardassóis vermelhos e gente feliz. O jardim verde que beira a areia. Os arranha-céus de formas bizarras. O americano, sorridente, olha a flâmula. Aponta o desenho do passeio. Em mosaico branco e preto. Bonito. Saode a cabeça vermelha com entusiasmo. E diz, mostrando seus profundos conhecimentos:

“Copacabana”.

Aurora, então, fica em dúvida. Não sabe se o americano de chapéu pequenino é surdo. Ou se o seu inglês é que não presta. Meio nervosa, recomeça o seu discurso. Repetindo que aquilo é Santos. E não Copacabana.

Com os nadadores de fala castelhana, o problem lingüístico é menor. Entregam-se-lhes fotografias. Sempre da zona praieira, é evidente. Eles se debruçam sobre o mar. Misturam-se ao povo que toma sol. Sobem pelos prédios altos. Fala-se da praia. “De lãs playas”. Até das “beaches”, por via das dúvidas.

Insiste-se, delicadamente, que tudo aquilo vale a pena de ser conhecido. Fica tão perto. Apenas a uma hora de viagem. Santos os receberia com o calor de sua gente e de seu sol morno. Sabiam que aquela praia tem cinco quilômetros de extensão? Todos agradecem o “recuerdo”. “La invitación”. Claro que viriam. No primeiro dia de folga viriam em equipe, conhecer o Guarujá.

E os juízes ficam quebrando a cabeça. De onde teria saído aquela fama do Guarujá?

Só quando os “peixinhos” do Santos são entregues é que dirigentes e campeões americanos parecem reconhecer que, no mundo, existe algo chamado “Santos”. Mas é um clube. Nem sabem que esta cidade existe. Bobões, eles? Ou nós?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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