GENTE E COISAS DA CIDADE
Como nos conhecem
Lydia Federici
Um pequeno grupo de juízes sobe todo dia para São Paulo. São senhoras e rapazes do esporte. Convocados para prestar serviço no campeonato de natação dos Jogos Pan-Americanos.
Raciocinaram da seguinte forma: uma vez que cairiam, em cheio, no meio de três mil estrangeiros, que tal se os convidassem a vir conhecer as belezas que por aqui temos? Tornaram-se, assim, amadoramente, agentes de turismo. Propagandistas do mar azul. Da areia dourada que circunda toda a zona sul da ilha dourada em que vivemos.
É certo que propaganda se faz com sorrisos. E simpatia. Mas isso, apesar de arma poderosa, é chamariz incompleto. Não é suficiente falar de maravilhas com amor> Entusiasmo. Muito mais eficiente, duzentas vezes mais sugestivo, é mostrar algo de visível do objeto, da criatura amada. Vai daí a razão dos oito agentes improvisados de turismo de levarem um pouco de material de propaganda. Tudo, na verdade, que lhes foi possível conseguir.
E o ataque principia. Junto a um chefe de equipe americana. Entrega-lhe uma flâmula. Colorida. Que mostra mar azul. Praia dourada com largos guardassóis vermelhos e gente feliz. O jardim verde que beira a areia. Os arranha-céus de formas bizarras. O americano, sorridente, olha a flâmula. Aponta o desenho do passeio. Em mosaico branco e preto. Bonito. Saode a cabeça vermelha com entusiasmo. E diz, mostrando seus profundos conhecimentos:
“Copacabana”.
Aurora, então, fica em dúvida. Não sabe se o americano de chapéu pequenino é surdo. Ou se o seu inglês é que não presta. Meio nervosa, recomeça o seu discurso. Repetindo que aquilo é Santos. E não Copacabana.
Com os nadadores de fala castelhana, o problem lingüístico é menor. Entregam-se-lhes fotografias. Sempre da zona praieira, é evidente. Eles se debruçam sobre o mar. Misturam-se ao povo que toma sol. Sobem pelos prédios altos. Fala-se da praia. “De lãs playas”. Até das “beaches”, por via das dúvidas.
Insiste-se, delicadamente, que tudo aquilo vale a pena de ser conhecido. Fica tão perto. Apenas a uma hora de viagem. Santos os receberia com o calor de sua gente e de seu sol morno. Sabiam que aquela praia tem cinco quilômetros de extensão? Todos agradecem o “recuerdo”. “La invitación”. Claro que viriam. No primeiro dia de folga viriam em equipe, conhecer o Guarujá.
E os juízes ficam quebrando a cabeça. De onde teria saído aquela fama do Guarujá?
Só quando os “peixinhos” do Santos são entregues é que dirigentes e campeões americanos parecem reconhecer que, no mundo, existe algo chamado “Santos”. Mas é um clube. Nem sabem que esta cidade existe. Bobões, eles? Ou nós?
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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