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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 374)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 28 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Que grande vantagem!

Lydia Federici

Não sei se já estão funcionando os novos ônibus cariocas. Rodando ou não, pela zona Sul ou Norte, o caso é que já começaram a fazer barulho. Não há carioca que não fale nesse presente. Absolutamente inesperado. Apesar de reclamado, há séculos. Reclamado. Exigido. inclusive com quebra-quebra de lesmas. Ou bondes. E de coriscos da morte. Ou lotações.

Pois os novos ônibus elétricos da Guanabara, deslizando ou prometendo fazê-lo em breve, sobre o asfalto do Rio, já estão dando que falar. Mais que isso. Provocam até crônicas de um Carlos Drummond de Andrade. Logo, logo, estarão, em música, causando inveja ao resto do país. Com seu deslize macio. Com as manobras silenciosas Silenciosas para não perturbar o sossego dos que se deliciam com a música em surdina. Suavemente despejada por um alto-falante regulável.

Sim. Quem vai aguentar a alegria orgulhosa do carioca? A viajar em condução de ar refrigerado? Mais grã-fino que o melhor milionário?

Nós é que não. E por uma razão muito simples. Vejamos ponto por ponto. Que é que eles vão ter? ônibus musicado? Ora. A grande vantagem. Qual o ônibus de Santos, seja lá qual for, servindo a linha que servir, que não nos dá música? Muita música? Reparem que não é qualquer musiquinha muito à toa, não. São verdadeiras sinfonias. Sinfonias de uma naturalidade espantosa. Percebe-se o ronco arquejante do motor sofredor. Em ritmo constante. E, diversificando a partitura monótona, as batidas de aço das portas. As molas a ranger. O ferro a mastigar a borracha. A borracha a abafar, sem sucesso, as notas metálicas de toda a carroceria.

Ônibus com música? Temos disso há anos. Pra nós não seria novidade. É coisa que não nos fará mossa.

Qual a outra vantagem de que se vangloria o carioca? Do trólebus com ar refrigerado? Deus. Como são caipiras. Toda condução de Santos é perfeitamente climatizada. Há anos, também. Da forma mais simples possível. Sem aparelhagem especial. Praticamente sem despesa alguma. Não me digam os amigos que nunca repararam.

Só quem não anda de bonde ou de ônibus é que ignora como funciona esse climatizador. Cada janela tem a sua instalação. Onde? Pois no vidro. Que não funciona. Na vidraça que nunca sobe. Nem desce. Por ali entra ar quente que é um regalo. E uma boa a soprar ar frio sem nunca enguiçar. Dispensando, portanto, consertos caros. É tão perfeito o sistema que atinge o máximo do humanamente possível. Reproduz, dentro, a chuva de fora. Aumenta, dentro, o vento das ruas.

Terão os cariocas esse conforto? Claro que não. O único pequeno senão do sistema de climatização santista reside no fato dele ter espírito de contradição. Explico. No verão, quando deveria refrescar, o diabo esquenta. No inverno, aumenta o frio.

Aí, a grande vantagem que os cariocas cantam. Condução boa, grande, perfeita é esta daqui. Isto é que merece ser cantado. Com orgulho.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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