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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 363)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 15 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Livros

Lydia Federici

No ano passado, estudantes da nossa Faculdade de Filosofia foram parar em São Paulo. Até aí, nada de extraordinário. Estudante, em geral, é gente moça. Jovens gostam de mexer-se. Viagem, nem que seja até o planalto, é movimento. Logo, palmas a esses rapazes, moças principalmente, que foram levar sua alegria, passear sua pele queimada, nas ruas malucamente movimentadas de São Paulo. Satisfazendo, embora por poucos dias, sua ânsia andarilha.

Acontece apenas que, na época em que saíram, os coitados não poderiam estar perdendo horas em correrias. Tampouco, para o que era, preferiam não estar gastando dinheiro em passagens. Nem em lanches que, apesar de apressados, não deixavam de ser caros. E também, embora jovens preferiam ter ficado por aqui mesmo. Sofrendo, quando muito, os solavancos de meia hora de condução apenas. Não de seis vezes mais.

Ué. Se preferiam não se cansar, se queriam economizar, por que se meteram, então, a sair da casa santista?

Por uma razão muito simples. Santos não podia dar-lhes o que eles se viram obrigados a ir buscar em São Paulo. E o que é que não tínhamos? E São Paulo sim?

Pois uma biblioteca. Biblioteca de livros. Biblioteca com livros. Com livros, toda uma grande série, que podiam ser consultados. Estudados. Manuseados à vontade. Se quisessem prolongar sua viagem de consultas, nossos estudantes poderiam ter ido vasculhar a Biblioteca de Campinas. Onde, num minuto, lhes apresentariam as obras solicitadas. Poderiam chegar até São Carlos. Ou a qualquer outra cidade grande do interior. Mas aqui por Santos, nada feito.

E, no entanto, esta cidade dispõe não de uma, mas de trinta bibliotecas. De trinta registradas. Que, no total, entre grandes e pequenas, possui umas sessenta. E então? Será que na Biblioteca Municipal, com seus doze mil volumes, não seriam encontrados os livros que os estudantes precisavam consultar? Não sei. Só sei que eles foram para São Paulo. Onde, apesar dos transtornos da locomoção, tudo lhes foi facilitado. Agradecendo-se-lhes ainda o interesse que demonstravam pelos estudos. E daí?

Falou-se, há tempos, numa biblioteca volante para Santos. Um dia ela sairá. Virá até o nosso bairro. A emprestar-nos livros que só bolsas polpudas permitiriam comprar. Compra que, infelizmente, ou por desconhecimento, por falta de tempo de vasculhar prateleiras de livrarias, ou por desinteresse, nem as bolsas recheadas se atrevem a fazer.

Aí está um bom trabalho para a Comissão de Cultura realizar. Tirar a poeira dos livros enfileirados nas bibliotecas. Fazê-los chegar às mãos que querem manuseá-los. A mentes que, por falta de facilidades, perdem oportunidades de ver, ouvir, saber, conhecer um pouco mais as maravilhas deste mundo.

Vai a crônica apenas como lembrete. E para que não se diga que, em Santos, na Semana Nacional da Biblioteca, não se falou sobre livros. Pobre homenagem.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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