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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 360)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 12 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Nova Cintra de amanhã

Lydia Federici

O morro de Nova Cintra não é o que a gente imagina que ele seja. Nem pode ser julgado por comparação. Conhecendo o Monte Serrate e o de Santa Terezinha, mais facilmente acessíveis e, portanto, mais visitados, pensa-se que o de Nova Cintra, intercalado entre eles, fazendo parte da mesma serra, acompanhe as suas características. Pois sim. Não é chegar ao seu cume e descobrir aos pés as suas duas encostas, não. Ao contrário. A sua cabeça é todo um mundo. Um grande platô achatado. Cuja larga planura é eriçada de pequenos montículos de formas caprichosas.

É essa cabeça prodigiosamente ondulada, lá no alto, a espiar o mar e a cidade de telhados vermelhos, que está pedindo que a descubram. Que a transformem em atração turística. Com algo de chamativo. Para ser usufruído pelo público. É claro que é interessante o aproveitamento de pequenos lotes do morro por particulares. Mas, Deus! Aquilo é grande, é bonito demais para só ser gozado por uma centena de privilegiados. Ou por mil moradores pobres. Que, de tão cansados, já não emprestam mais os olhos para as belezas que têm aos pés.

O morro da Nova Cintra tem que ser de todos nós. Como é o mar. Como o são as praias. Tem a sua própria beleza. Beleza natural. Beleza de morro. Que, utilizada de forma inteligente, melhorada com arte, será outro ímã turístico a encher manhãs e tardes vagabundas. Noites frescas de verão. A oferecer-nos programas diferentes. Muito diferentes da sessão de cinema. Do passeio pelo Gonzaga.

Acompanhe-me, amigo, por um instante. No cume achatado no morro, no fundo de colinas, de suaves curvas morenas, há uma lagoa. Uma lagoa, sim. De forma arredondada. Alimentada por fonte natural. Na sua parte Leste, sobe, luxurioso de matas, um monte ereto. Altivo. Uma verdadeira pequena floresta. De um verde amazônico. Ao Norte e Noroeste, a ondulação é rasa. De vegetação baixa. Seca. Catinguenta na sua sede sofredora. Do lado em que o sol se põe, surgem rochas. Em grandes degraus circulares. E, finalmente, do lado Sul, há três colinas dengosas. De aclive uniforme e manso. Está percebendo, amigo? O espelho redondo da água? A floresta? A caatinga? As rochas escuras? E as colinas tão suaves a parecer uma arquibancada verde?

Foi isso que Cândido Hernandes viu. Sugerindo o aproveitamento da lagoa pela Prefeitura. Para a formação do Parque Municipal. Expondo flora e fauna brasileira para fins educacionais e como atração turística. Com concha acústica e auditório ao lar livre. E foi isso também que o dr. Armando Martins Clemente, diretor de Parques e Jardins da Municipalidade, anteviu ao encontrar os braços estendidos do morro implorando-lhe aproveitamento.

Já imaginaram, quando isso sair, que outro recanto encantador deliciará o santista? Tão parco na variação de seus programas domingueiros, tão praieiro nas noites quentes?

Será a montanha enfeitiçada vindo ao nosso encontro, amigos.

Deixaremos essa chance fugir-nos?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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