Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult003d359.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/24/15 17:32:35
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 359)

Leva para a página anterior
Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 10 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

A lagoa da Nova Cintra

Lydia Federici

A gente nasce em Santos. Mora em Santos. E o diabo é que, tirando a praia, pela qual morremos de paixão, e o horrível centro, de que dependemos, nada mais sabemos de nossa ilha. Vivemos a falar dela. Como maridos acorrentados, apaixonados, em geral só criticamos os seus defeitos. Gritamos contra a urbanização de ilhas. Esbravejando contra o paredão de cimento que levantam junto ao mar. E que, se serve a vinte mil privilegiados, dando-lhes encantamento que ninguém, na verdade, consegue apreender em toda sua dádiva de beleza, tira, em compensação, a ventilação a 280 mil outros santistas. Gritamos contra a falta de árvores. E a diminuição do verde.

Agora está em moda pisar e repisar que Santos é cidade turística. Que maravilha se de fato o fosse. Porque, honestamente, como ímã turístico, que possui esta ilha? Só e unica e exclusivamente a sua faixa de praia. nada mais que isso. Embora só o mar, a areia, os jardins praieiros justificassem a atração que Santos exerce sobre os forasteiros e, principalmente, sobre seus próprios filhos, o que nos impede de melhorar outros aspectos, de aproveitar outros encantos da cidade?

Quem, podendo, ficaria satisfeito de só ter uma bela sala de visitas, se todas as outras dependências de sua casa poderiam oferecer retiros de encantamento? De bom gosto? Só um bobo. E bobo fátuo.

Perdoem-me agora. Mas é justamente isso que temos sido. Elogiaram nossa praia. Babamo-nos por ela. E é só nessa diaba de coisa linda que vivemos a pensar. Quantas outras coisas lindas, espalhadas por aí, não estão a pedir um olho observador, um espírito avançado, um par de mãos empreendedoras que as tirem de seu canto esquecido?

O interessante é que bons olhos já anteviram as possibilidades. Olhos particulares. E zás. Não dormiram sobre a descoberta. Quantas vilas, palacetes, casas de campo já não foram construídas em lugares estratégicos dos morros santistas?

Deus! A planura toda ocupada, a cidade cada vez mais construída, o pulmão verde encolhendo-se assustadoramente, o cerco ao mar subindo, alto, fechado, maciço, qual a solução progressista mais próxima à natureza? Natureza que ainda impera, soberana, sobre todo ser humano? Pois a subida e utilização dos morros.

O azar é que os morros podem ser atração turística. Mas estão a dormir. O Monte Serrate tem, é certo, o seu elevador. É belvedere obrigatório para quem quer ter visão da cidade. Não foi descoberta nossa. E sim de quem fez, lá em cima, há 350 anos, a Capelinha de Nossa Senhora. Dali pra cá, só há pouco, o morro de Santa Terezinha foi descoberto. O que se vê de lá de cima, do cocuruto estreito, é coisa de tirar a respiração. É toda a praia em visão. Em ampla visão. Em tecnicolor. Em cinerama. Mais dez mil vezes impressionante. Porque natural. Exatamente como é.

E o morro de Nova Cintra? É tão grande que, infelizmente, não coube na crônica de hoje. Esperem a próxima, por favor.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Leva para a página seguinte da série