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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 358)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 9 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Vestibulares

Lydia Federici

Terminado o curso científico, uma centena de casas santistas, a cada ano, perde o seu rapaz. Uma ou outra moça. Toma o lugar da mocidade alegre uma preocupação que amargura pais, tias, irmãos e até uma hipotética cozinheira.

Mês e meio, dois meses depois, essa dúvida cessa. É quando o menino telefona. Com voz chorosa. Ou carregada de pena: "Mamãe. Não passei. Fui até a segunda prova. Sobrei. Avise papai. Diga que nem ele conseguiria resolver os malditos testes".

Em geral é isso que acontece. O ensino do segundo ciclo não foi suficiente para abrir as portas das faculdades. O rapaz, então, faz um ano de cursinho. Tenta novamente. Em São Paulo. No interior. Sobra novamente. Faz mais um ano de preparatórios intensos. Presta novos exames. Torna a fracassar. Os pais, por essa altura, já desistiram de somar os gastos que fazem. É a pensão. É o cursinho. São as mesadas. As matrículas. As viagens. Uma verdadeira fábula. As mães, embora, bem no íntimo, cheguem a desconfiar da aplicação dos filhos, derrubam toda a culpa sobre os professores ineficientes. Reclamam contra o pequeno número de vagas. Repetem que as provas da Poli não seriam resolvidas nem por um Einstein. É isso, pelo menos, o que o seu pobre querido afirma. Nas discussões com colegas.

E é assim, ou por causa disso, que futuros médicos se satisfazem em ir para a Odontologia. Ou para um banco. Que um engenheiro resolve ser apenas um químico. Industrial. Lugar de grande futuro. Ou que, apenas para ser um "Dr.", se meta a fazer, à noite, o curso de Direito.

Medicina? Engenharia? Só pra cérebros afortunados. Ou para aqueles cuja teimosia seja maior que as dificuldades dos vestibulares. Isto é, coisa quase impossível. E com essa brincadeira, a danação é geral.

No fim de 61, Cláudio Luiz terminou o científico do Colégio Santista. Tentou, logo a seguir, o Mackenzie. Engenharia. Não entrou. Rapaz realmente consciencioso, sofreu o diabo. Durante todo o ano passado, fez um cursinho. Aplicando-se ao máximo. "Mamãe. Se eu só vier a Santos uma vez por mês, vocês se incomodarão muito? Sabe por que? Com as vindas semanais eu perco o fio. Nas segundas, quando pego os livros, não consigo concentrar-me". Foi duro o ano sem família. Sem amigos. Sem praia. Sem mar. Sempre sozinho.

Agora, no Mackenzie, Cláudio Luiz conseguiu passar. Entre os 50 primeiros. E seu irmão mais novo, recém-saído do Santista, revendo as matérias durante as férias, discutindo problemas com o pai engenheiro, sem curso especial, sem professores particulares, também entrou direto para a Poli. Entre os 50 primeiros alunos aprovados.

Como o conseguiram? Pertencerão Cláudio Luiz e Nando à classe dos bafejados pela sorte? Terão os mesmos pais dois filhos super dotados? Ou será outra coisa qualquer? Justamente essa outra coisa que faz com que estudantes sejam bem sucedidos? Cuja ausência é, afinal, o motivo de tantos insucessos?

A pergunta aí fica. para ser meditada.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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