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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 355)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 6 de março de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Só esticando

Lydia Federici

Há coisa de não muito tempo, ríamos de nossos amigos paulistanos. Que, para ir ao centro da grande capital, largavam o seu carro na primeira vaga e terminavam a viagem de ônibus. Sim. Para nós, livres do problema, tinha muita graça essa pequenina desgraça dos amigos da capital atravancada.

Hoje, penando o mesmo sofrimento, já não rimos. É duro ficar rodando pelo centro. Passar cinco vezes pela Praça Mauá. Onde temos que ir pagar uma conta. E só encontrar uma vaga junto à Praça José Bonifácio. Como é duro ficar mais cinco minutos, numa fila, esperando que o ônibus consiga furar o bloqueio. E chegar. Como, principalmente, além de duro, é perigoso tentar atravessar ruas, cujas pequenas brechas, choferes impacientes, irritados e apressados, aproveitam em avanços bruscos e freadas enervantes.

Que se vai fazer? O centro comercial é aquele. Diminuto. Se aumentou, foi para o alto. Quem vai para a cidade, vai mesmo é para a Praça Mauá. Duzentos metros mais para cá, ou para lá. Tudo, bancos, escritórios, Prefeitura, Alfândega, lojas, fica dentro de um círculo de diâmetro muito reduzido. Há uns anos atrás, tudo estava bem. Havia três mil automóveis em Santos. Muito menos gente a trabalhar. Muitíssimo menos gente com dinheiro a sobrar para as compras. No centro só havia uma certa correria, um certo atropelo, em época de abertura de aulas. Com os colegiais a zanzar de livraria em livraria. Ou nas épocas de festas. Carnaval, Páscoa, Natal. Com mulatas a procurar cetins bem brilhantes e baratos. E toda classe de gente a comprar presentes e coelhinhos. Ou lembranças de Papai Noel.

Sim. Isso era há uns pares de anos atrás. Agora são 18 mil veículos a buzinar pelas ruas. Impacientes para avançar. Loucos à procura de uma vaga para estacionar. Se antes era só o pai a trabalhar, uma ou outra balconista ou comerciária, hoje é toda a família a defender-se pela cidade. E como há gente a flanar. A fazer compras. A conversar pelos passeios já super ocupados por correntes andantes. Tudo cresceu. Tudo aumentou. Tudo subiu. Multiplicou-se tudo. Menos o centro comercial. Que é aquele mesmo. A praça Mauá. Duzentos metros mais para cá e para lá.

É claro que tem que haver atravancamento de tráfego. Encontrão de pedestre. Resmungos. Perda de tempo. Condução retardada. Impaciência Desserviços. Que outra coisa se poderia esperar? Se nenhuma medida foi tomada para obrigar ruas e pontos de estacionamento a acompanharem o desenvolvimento restante?

Foi constituído um Grupo de Trabalho. Para estudar e resolver os problemas do trânsito. Cinco abnegados cidadãos foram indicados para o difícil trabalho. De solucionar o cada vez mais complicado tráfego de tudo quanto é coisa móvel que formigueia às tontas, pelas ruas da cidade.

Que Deus os ilumine. E lhes dê fôlego. E os inspire. Cá por mim, leigamente, só vejo jeito, se conseguirem esticar a cidade.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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