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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 346)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 22 de fevereiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Água! Água!

Lydia Federici

Perdoe-me, amigo. O que há, exatamente, ignoro. Só sei que nisso tudo deve existir um erro. Quanto a esse ponto, que não pairem dúvidas. Há um erro. Ou nos cálculos. Ou nas estatísticas.

Lembra-se, amigo, das afirmações dos técnicos que tratavam de nos aumentar o fornecimento de água? Terminado o anel, o famoso anel, Santos teria água suficiente para o consumo de 600 mil pessoas. Para o dobro, portanto, de sua população. De fato, água tivemos. Com fartura. Para quem molhava as plantas com uma mangueira gotejante, o jato de 5 metros de altura foi acontecimento dos grandes. Comemorado, por todos, com gritos de entusiasmo. E com duchas tomadas em pleno jardim.

Mas agora, que acontece? Há bairros inteiros cujas torneiras abertas ficam mais secas do que se estivessem bem atarrachadas. Não vertem uma só gota. Nem de água. Nem de barro. Nem de lama. É secura completa. Total. Absoluta. E, então, concluímos. Com toda a lógica. A população, nesta época de temporada, foi muito além das 600 mil pessoas. Como é que pode?

Ora. Pelas estatísticas, o último grande fim de semana, com feriado grudado, trouxe à cidade não mais de 300 mil visitantes. 300 com 300 perfazem 600. 600 mil gastadores de água. Para esse número deveria haver o abençoado líquido. Mas não houve. Nem há agora, para muito menos. Daí aquela antipática afirmação inicial. Ou há um erro nos cálculos do SASC
(N. E.: Serviço de Águas de Santos e Cubatão). Ou nas estatísticas da população e dos visitantes. Onde, não sei. Cá ou lá. Mas que algo está errado qualquer criatura, mesmo desesperada, pode ver que está.

Que fazer? Principalmente neste dia que antecede a chegada de não sei quantos mil visitantes que aqui procuram carnaval? Ou que dele pretendem fugir?

Não sei, amigo. Verdadeiramente, não sei. Para beber, refrigerantes atulham depósitos de bares, de padarias, de hotéis, de armazéns, de bicocas. Talvez isso nãochegue a faltar. Para a cozinha, linguiça frita não precisa de água. A louça? Que louça? Pra que existem pratos de papelão encerado? Diz você que há outro problema? O do banho? Ora. Esse é resolvível. Para que temos tanto mar? Ah! Você gosta de banho de espuma? Não há sabonete que espume em água salgada? Espere um pouco. Deixe-me pensar.

Ah! Sim. Lembro-me agora. Há dias, na porta de um armazém vende-tudo vi um balde. Que não era bem balde. Ou, pelo menos, balde só. Tinha alça de balde. Corpo de balde. Mas, da parte inferior, bem no centro, saía um cano de palmo de comprimento. Rematado por um chuveiro de furos bem miúdos. Era um balde-chuveiro. Ou um chuveiro portátil, como queira. É só enchê-lo de água. Dependurá-lo a jeito. Abrir a torneira. E pronto. Resolvido o banho.

Não está satisfeito com a sugestão, amigo? Qual é a dúvida? Água? Ora. Canalize-a da calha. Claro. Tem que chover. Reze para chover. Chovendo, o problema estará resolvido. Porque francamente, de outro jeito, não vejo jeito. A culpa é daquele erro de cálculos. Ou das estatísticas. Que podemos nós fazer? É aguentar.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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