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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 347)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 23 de fevereiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Os jardins da praia

Lydia Federici

Não foram ainda reformados na sua totalidade. Há muitos que se apresentam com o gramado eriçado de mato. Com, aqui e ali, uma palmeira torta. Amarelada. Sofredora. Mas, nos trechos que foram modificados, o aspecto é realmente bonito.

Apesar de tudo, a grande orla da praia apresenta uma beleza contínua. Única. Cujo fascínio verde encanta a qualquer par de olhos.

O santista ainda não conseguiu apreender a preciosidade de seus jardins. Dos jardins que bordam suas praias. Olha-os com ar distraído. Atravessa-os sem ver-lhes os canteiros floridos. Ou apenas manchados de diferentes tons de verde. Qual a razão desse desinteresse? Muito fácil de explicar. É coisa nossa. Nascida conosco. Beleza que, de tão vista, perdeu o encanto.

Vejam, entretanto, estas praias ajardinadas como as veem os estrangeiros. Os forasteiros. Os visitantes. A propósito, ouçam esta história.

Pety, um rapagão crescido junto a este mar, foi,há pouco, para os Estados Unidos. Para fazer um curso de Engenharia numa das universidades da Califórnia. A famosa Califórnia do Oeste americano. Zona rica. Bonita. Região de pomares e de jardins.

Ao arrumar sua mala, reservou um espaço para um monte de fotografias. Recortes de revistas. Cartões postais. Material de propaganda turística. Tudo que pôde encontrar sobre as belezas desta terra. Principalmente das praias. Das praias de Santos. Com seus jardins. Seus arranha-céus. Os domingos repletos de gente, de carros e de guarda-sóis coloridos.

Ao saberem que Pety era brasileiro, os companheiros da Universidade rodearam-no. Queriam que lhes falasse deste país. Tinha levado algum disco? Alguma foto? O rapaz encheu o peito de ar. Foi buscar tudo que havia reunido. Mostrou-lhes os guias ilustrados da Bahia. Do Rio. Da famosa Copacabana. E, por fim, não sem emoção, as fotos das praias de Santos. Explicando-lhes como era o mar. Contando-lhes do calor da areia fina. Dizendo-lhes dos cinco quilômetros de jardim. Jardim que vai da Ponta da Praia até o José Menino. Aliás, isso tudo podia ser visto pelas fotos. Elas davam uma ideia de como era a praia. Os montes. Os jardins.

Os rapazes americanos, mais que ouvir, olhavam. Os pequenos retângulos de papel passavam de mão em mão. Tornavam a ser olhados. Examinados. Vasculhados. Exclamações e comentários rápidos eram trocados em tiroteio rápido. Por fim, um deles perguntou ao estudante brasileiro:

"Você tem certeza de que isto não é montagem fotográfica? Isto tudo é assim mesmo?

***

Você já ouviu, amigo, elogio maior? Sabe agora o que, na verdade, temos? Então corra, já, até os jardins. Com o início do carnaval, a avalanche de gente, parte dessa beleza, amanhã, talvez esteja pisoteada. Inutilizada.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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