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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 340)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 15 de fevereiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Baile da orla

Lydia Federici

No Gonzaga, há dias, em pleno passeio, brotou uma coisa esquisita. Uma armação de alumínio. A correr do chão até uma janela do saguão do Sírio-Libanês. No começo, ninguém sabia pra que iria servir tanto cano. Cruzado e recruzado. Parecia plataforma de lançamento de foguetes. Finalmente, uma larga faixa, de letras coloridas, desvendou o segredo. A armação passou a ter nome. Nome que lhe explicava a finalidade. Era rampa de ingresso. Passarela ao mesmo tempo. Mas pra quê?

Carnaval, no Brasil, não é assunto que se discuta. É, apenas, folia que se brinca. Ou não. Mas que é coisa importante, é. Santos,s endo brasileira, é carnavalesca durante o tríduo de Momo. Séria e trabalhadora durante todo o ano, carregada de lutas e de problemas, salva seu equilíbrio esbaldando-se, com despreocupação, na alegria do carnaval. O interessante é que essa alegria, a princípio despretensiosa, tanto influenciou o desejo de alegria de gentes de fora que o carnaval santista passou a ser promoção turística. Isso é importante: Se não fosse, porr que Recife se empenha em divulgar seu alucinante carnaval de frevo? Por que o Rio convida turistas estrangeiros? Enfiando-os, a muque, e a peso de ouro, no baile do Municipal?

Acontece que carnaval é brincado nas ruas. E pulado nos salões. Em matéria de carnaval a céu aberto, Santos estava bem servida. Tinha as avenidas da praia para o corso. E, principalmente, a tradição do desfile de dona Dorotéa. Ímã cuja força ninguém desconhece. Embora não a explique. E o carnaval de salão? Ora. Havia os bailes dos clubes sociais e esportivos. Grandes. Pequenos. Aqueles das associações de sedes suntuosas. Ou humilde. Servindo às alegrias servidas por bolsas gordas. Ou magras. Faltava, porém, um baile oficial. Um que pudesse ser o máximo. Veio, então, o Baile Oficial da Orla.

Ora. Baile é baile. Sendo oficial, muito mais baile é. Função a que, todos os que podem, comparecem. Para ver algo que valha a pena. Para brincar o fino. Regalar-se, a gosto, com o que de melhor haverá no carnaval.

Não é coisas pública, então? Pública é. Basta providenciar o ingresso. "Smoking" ou fantasia. O povo, então, fica de fora? Em geral, sim. Mas Santos, nesse particular, pensou nos que, sem possibilidades, ficariam sem tomar parte na iniciativa. E deu, a todos, uma participação na riqueza de seu Baile. A participação visual na beleza das fantasias ricas que enfeitarão, ao vivo, os salões do Sírio-Libanês.

Para isso colocou, sobre o passeio do Gonzaga, a rampa de ingresso. Ali estendeu a passarela para os concorrentes ao concurso de fantasias. Isso todos poderão ver. O desfile será público. Será para o povo. Exatamente a mesma chance que ele terá ao se portar, no Boqueirão, para ver a dona Dorotéa, terá ali para o desfile das fantasias de luxo.

Vai ser pequeno o Gonzaga na noite de amanhã. Quantas mil pessoas, de olhos arregalados, conseguirão espremer-se na primeira quadra da Ana Costa?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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