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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 334)
Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão
expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 8 de fevereiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada
nesta transcrição):
GENTE E COISAS DA CIDADE Não era bem assim
Lydia Federici
É difícil descobri-lo. Também. A quem anda pela Senador Feijó não sobram olhos. Toda sua atenção é pouca para escolher
o melhor caminho entre os buracos. Quer seja motorista. Para livrar o corpo ou o ônibus das fendas perigosas. Danificadoras. Custosas. Quer seja passageiro. Preocupado em defender o corpo. Os que por ali caminham de bonde poderiam vê-lo. Tempo e
vagar para dar com ele não lhes faltam. Mas falta-lhes campo visual. Ensardinhados nos bancos ou nos estribos como vão. Quanto aos pedestres, que se distraiam naquela esquina. É parada certa para uma corrida até o Pronto Socorro.
Falei em esquina? Pois é. É a Bittencourt com a Senador Feijó que forma o pequenino largo. E os que, por esta transversal, vão ou vêm, mal o poderão vislumbrar. O movimento da Feijó, contínuo, ininterrupto, exigindo atenção redobrada, não permite
folga para descobri-lo.
No entanto, ele ali está. Numa pequena ilha redonda. Bem diante dos torreões amarelos do Corpo de Bombeiros. Está ali, bem no centro. Quase isolado. Não fossem dois postes feios que, apesar de relativamente finos, têm o triste condão de encobri-lo.
Sim. É difícil descobri-lo. Muito difícil mesmo. Só procurando-o, propositadamente, é que se consegue ver o marco de mármore preto. Que fala do agradecimento de Santos, da população de Santos, aos bombeiros que, dia e noite, sempre prontos, vivem
para facilitar, amenizar, socorrer e acudir os problemas de dor ou de perigo da vida santista.
Os bombeiros, é óbvio, nada pediram. Foi Santos que quis homenageá-los. Qual o melhor local para situar o marco? Pois exatamente diante do prédio de sua corporação. Numa praça muito pequena que, já em homenagem a um bombeiro, morto em serviço,
lembra a todos a dedicação dos homens do fogo. Foi ali, na ilha da praça Tenente Mauro Batista de Miranda, que se assentaram, unidas, quatro folhas de mármore preto. Preto e triste como restos de incêndio. E, sobre a simplicidade do monumento, foi
colocada, em bronze frio, a chama que simboliza o calor da gratidão.
Era isso que o povo de Santos queria fazer. Mas não era bem assim que pretendíamos oferecer aos bombeiros o testemunho visual do carinho orgulhoso que sua dedicação nos merece.
O pequeno marco está ali. Mas frio, perdido no cinzento da praça. Faltava-lhe o complemento principal. Algo que, rodeando o mármore, lhe dê calor. Algo que lhe realce a beleza reta e simples. Principalmente algo de vivo. Tão vivo como o quente
carinho que sentimos pelos homens do casarão amarelo ali em frente.
Não. Não era assim, sem luz, sem a cor de uma pequena flor rubra, tão viva quanto as chamas de incêndios, tão bonita quanto a nossa gratidão, que queríamos homenagear nossos bombeiros. Falta algo ali. E algo que Santos terá que dar. Oficial ou
particularmente.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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