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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 332)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 6 de fevereiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Os bancos dos bancos

Lydia Federici

Se é bom o novo horário de funcionamento dos bancos e casas bancárias? Como dar uma resposta, se os interessados principais ainda não resolveram a questão? Bancários têm uma opinião. Não única. Mas subdividida. Frequentadores de bancos têm outra. Não ímpar, mas carregada de subopiniões. Que chegam a entrechocar-se. Como saber a média que sairia da liquidação de todos esses ingredientes e arrazoados?

Mas uma coisa, no assunto, pode ser dita. Servirá para dar uma ideia de como anda o ambiente bancário. E justifica, no título da crônica, os bancos - ou cadeiras - dos bancos.

Foi numa segunda-feira que isto aconteceu. Meia hora antes do encerramento do expediente. Para o atendimento do público. Aconteceu num dos bancos que ainda, tradicionalmente, teimam em funcionar na rua do café e dos bancos. A Rua XV.

Você tem dado uma olhada, pelo menos, no interior de um estabelecimento bancário? Os funcionários, atrás das mesas, das máquinas e dos guichês mexem-se como danados. Abrindo arquivos. Fazendo escorregar, apressadas, as gavetas dos fichários. Rabiscando e carimbando. Pipocando máquinas de escrever e de calcular. Contando pilhas de notas que entram e saem aos montes.

Pois, na segunda-feira, apesar de toda essa atividade dinâmica, apressada, sumamente transpirada na tarde quente, de ar pesado, o número de clientes, do lado de fora dos balcões, não havia jeito de diminuir. Ao contrário. Para cada um que saía, a bufar, arrumando, na pasta, pilhas de papeis e maços de notas, entravam dois e três. Encompridando o pescoço. Na tentativa de descobrir um funcionário menos atarefado. Que os pudesse atender com maior presteza. Despachá-los mais rapidamente.

É claro que, comprimido por um horário curto, todo mundo que entra num banco tem pressa. Bastou cruzar a porta de ferro pra ser atacado pro esse mal. Lá fora, perdem-se quinze minutos contando a gostosura de um chope gelado. Tomado na Rua Pindorama. Na véspera. Muito bem acompanhado. Mas, pisou na soleira da porta de um banco, não há escapatória. Bate a pressa. Uma pressa cheia de impaciência. uma pressa que resmunga. Uma presas que torna ainda mais quente o grande salão que ventiladores zunidores não conseguem refrescar.

Ora. Dinheiro é coisa muito séria. Papel que vale dinheiro, também. Conferência de contas, de assinaturas, de depósitos, transferências, pagamentos, formam um serviço que tem que ser feito com cuidado. Leva tempo. Diante dos guichês, o grupo dos que esperam aumenta continuamente. Que fazer? É esperar. Esperar a vez que não chega. Até que o caixa grite o abençoado número da ficha que roda, gira, regira, nas mãos impacientes.

À espera de sua vez, estava uma senhora. Moça ainda. Ah! Mas essa sabia viver. Esperar por esperar, esperaria sentada. Muito menos cansativo. Mas, muito mais inteligente e prático do que ela, era seu filho. Garoto de 8 anos. Estirara-se, comodamente, num banco. E dormia que era um gosto.

Se é bom o novo horário bancário?

Não havendo pressa, contando-se, nos bancos, com bancos, serve.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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