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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 326)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 30 de janeiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Desfile de verão

Lydia Federici

Nas grandes capitais europeias, mesmo nas que não ditam a moda, fazem-se desfiles e inverno e de verão. De estações intermediárias. Pagam-se fortunas para conseguir, nos salões, um canto onde colocar os olhos ávidos de novidades.

No Brasil, cidade que pretende ser cidade, adota o mesmo sistema. É desfile prá cá e prá lá. Com modelos de algodão. Lançamentos de chita camuflada. Imitações adaptadas de criações americanas. Francesas. Italianas.

Quem pode ir rodear as passarelas, vai. Quem não se atreve, fica a roer-se de inveja.

Ora. Não foi feita nenhuma publicidade. Talvez ninguém tenha percebido o que acontece na cidade. Por isso mesmo, atrevo-me a chamar-lhe a atenção, minha amiga. Santos, atualmente, é palco do maior desfile de modas de verão do mundo. Onde se realiza a mostra? pois em qualquer rua que desemboca na praia. É evidente que, dependendo da zona, os modelos apresentam riqueza maior ou menor. Quanto a tecidos, bem entendido. E categoria de desfilantes. Que, no mais, a imaginação e o arrojo se equivalem.

No Gonzaga, por exemplo, o broto vai à praia com uma saída de banho de bordado inglês São cinquenta centímetros de pano leve e vaporoso. Com o rendado todo furadinho. Dando sensação de gracioso arejamento.

Na Ponta da Praia, vinda da Vila Sapo, a morena dengosa não fica por baixo. Com meio metro de uma toalha esgarçada, ela fez a sua saída de banho. Enfeitada de franjas. Também toda furadinha. Pra ventilar. E o aprumo com que a usa não é menor que o da menina rica do Gonzaga. Ao contrário. Tem mais graça até. Muito mais orgulho. Porque, pra conseguir aquilo, muita luta sustentou.

No Boqueirão, um rapagão ostenta o último modelo de short. Levou duas horas no Marques escolhendo o padrão mais original. Menos visto. Mais caro. No entanto, seu modelo não é mais chamativo que o do rapazinho que joga futebol no canal 4. Cujo calção foi feito, sei-o bem, com um pedaço de cortina da sala de jantar do seu chalé do Macuco.

As bermudas do hóspede do Parque foram compradas em Mar del Plata. Uhm! Veja as bermudas que descem do Marapé. Feitas de riscadinho. São muito mais interessantes.

Há chapéus de Capri. De San Remo. Chapéus de caiçara. Bonés de nylon. De palha trançada. Maiôs de Helanca e de morim. Saiotes pregueados de linho. De tecido esponja. Godês ou lisos. Dependendo das condições da toalha de que se originaram.

Há de tudo a desfilar rumo à praia. Numa variedade nunca explorada. Um figurinista inteligente recolheria mil ideias originais. Repare, repare, minha amiga. É o maior desfile de modas de verão já apresentado no mundo. Há para todos os gostos. Para todas as bolsas.

Quem foi que disse que não temos imaginação?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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