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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 324)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 27 de janeiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Cidade vermelha

Lydia Federici

Santos? Cidade vermelha?

Será por acaso segredo? É coisa que anda à mostra. Aqui e ali. Acolá. Em todo e qualquer canto. Aberto ou fechado. Limitado por paredes. Ou nas ruas largas e estreitas. Nas praças quentes. Nuas. Como nas arborizadas. De sombra fresca. Percebe-se a cor no cais descoberto. Nas praias de areia clara. Até nas vilas e jardins de trás-os-morros.

Santos é cidade vermelha. Basta ter olhos para ver. Mesmo os míopes ou astigmáticos identificarão a cor. É vermelha a cidade sim. Só os daltônicos talvez não o percebam.

O interessante é que, em época normal, essa ruborização deixa de acontecer. Não se generaliza. Como nas temporadas. Durante o transcorrer do ano, com estudantes indo para a escola, colégio, faculdade, com donas de casa preparando almoço para marido e filhos carregados de horários, Santos não tem essa cor. Olhando para os que passam, tem-se impressão pálida de tom moreno. Moreno que tira para o oliváceo. Chegadas as férias, abarrotada a cidade de forasteiros frenéticos, a loucura trazida se espalha. E Santos muda de cor.

O responsável pela mudança? O Sol.

Reparem só. Se ainda não o fizeram. Tomem um ônibus. Seus bancos e corredores estão lotados. Tudo gente vermelha. Pode ser que seja de raiva. Pela liquidificação, pela tremedeira, pelos solavancos que os passageiros recebem. Mas a causa principal não é momentânea. Está marcada na pele ardente. Carimbada pelos raios do sol de domingo. De segunda. De terça. Tomado na praia bonita. Nas ruas da cidade.

Deem uma passada pelo Gonzaga. Pelo Boqueirão. Nas noites quentes em que, todos os que podem, procuram a frescura que vem do mar. De que cor estão rostos e ombros e braços? E às tardes, no centro, da Rua XV à José Bonifácio, do cais ao Saboó, como se apresentam os milhares de tipos que formigueiam pelas ruas estreitas? É o queimado vadio dos que estão em férias. O tostado obrigatório dos que, a trabalhar, passando por cinco minutos de sol, se incrusta na pele de todos. Grandes e pequenos. Ricos e pobres.

"Que lindo tom cambiante tem aquela fazenda". É isso que diz uma loira, de short, diante da vitrine da Tecelagem. Para a companheira que procura, no mundo de fazenda exposta, a indicada pela amiga.

"Aquela ali, Suzy. No canto. Aquela azul de reflexos avermelhados". E enquanto, com uma das mãos aponta o corte, com a outra coça, de leve, o ombro empolado. Ficam as duas a admirar a fazenda. Que é azul. Nitidamente azul. Nada mais que azul. Os laivos avermelhados que lhe empresam não passam de reflexos de seus narizes vermelhos. Do vermelho que têm nos olhos congestionados.

Cidade vermelha. Tem essa cor Santos em Férias. Reparem. Reparem só.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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