GENTE E COISAS DA CIDADE A Santos aniversariante
Lydia Federici
Bom dia, Santos. Feliz, feliz aniversário.
Escuta-me por três minutos, querida. Não mais que três. Antes, porém, deixa-me recostar a cabeça na maciez de tua areia fresca. Não. É cedo ainda. Apenas amanheceu. O sol não me fará mal nenhum. Estou bem assim. Ouves-me? Ou preciso falar mais alto
para cobrir o murmúrio do mar que acorda? Ouve-me, então.
É um segredo que quero contar-te. Talvez já o saibas. Deves ter percebido o corre-corre de teus filhos. Sim. Preparavam os presentes que querem dar-te no dia de hoje. São enfeites e mais enfeites para a sua beleza. O jardim de pedra na entrada da
cidade. A Praça Palmares colorida. A fonte luminosa sobre o velho Lago do Sapo.
A utilidade dessas belezas? Pois, há de toda e qualquer forma de beleza. A de alegrar os olhos. De elevar o espírito. Não és vaidosa? Pudera! Com a graça com que nasceste. Mas qual a mulher bonita
que dispensa o retoque final de um pouco mais de cor nos lábios? Aceita esses embelezamentos, querida. Não te preocupes, pelo menos no dia da tua festa, com esses presentes de vaidade filial. Coisas úteis e necessárias também serão inauguradas no
dia do teu aniversário. O ambulatório preventivo do câncer da Santa Casa. A usina de asfalto. O telefone público no morro do José Menino. Estas mais contente agora? Com esses novos serviços que reverterão em benefício de tua gente? Ótimo, então.
Mas por que hás de preocupar-te com a tua gente? Gostarias de saber que outros problemas nossos deveriam ter sido resolvidos? Ora. Não te aborreças. Sabes que somos pacientes. Aprendemos a sorrir. A confiar. A esperar. Contigo sim. A calma de tua
natureza impregnou-se-nos na alma. A força constante de teu mar, sempre manso, acabou por influenciar-nos. Sabemos que a vida é como maré. Repetição de esperanças e de desilusões. De tanto ver o sol nascer atrás dos morros do Guarujá, compreendemos
que há sempre um amanhã. Vivemos o dia de hoje. Mas confiamos no de amanhã. Esse amanhã trará a solução apra nossos problemas. Se não para os nossos, para os de nossos filhos. Portanto, cidade querida, não te preocupes com o que nos falta.
Não. Não te preocupes com o que nos falta. Chega-nos bem a beleza dos teus dias de sol. Das tuas noites ainda tranquilas. Alegra-te pois. Isso nos basta. Tanto nos basta que continuamos a aqui viver. Cada vez mais enamorados. Sentindo, a cada dia
que passa, aumentar o carinho que, principalmente num dia como o de hoje, acalora o nosso peito.
Falei tanto e afinal, na verdade, só o que queria dizer-te era isso. Que gostamos muito de ti. Pelo que fostes. Pelo que és. Orgulhamo-nos do teu modo de ser. Do que velhos filhos teus nos deixaram.
Pronto, querida. Veste o teu mais bonito vestido de sol. Vai receber, com alegria, a homenagem de todos os santistas. um belo, grande, maravilhoso dia de festa, é o que te desejamos.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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