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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 321)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 24 de janeiro de 1963 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Praça Palmares

Lydia Federici

A Afonso Pena, trecho da radial Leste-Oeste, é uma avenida larga. De pista dupla. Separada por um quilométrico canteiro central de "flamboyants". Ao encontrar o Canal 4, o canteiro é interrompido. As duas pistas se encontram. E estreitam. Juntas, cruzam o canal limoso. Este, por sua vez, tem, de cada lado, a sua boa pista de corrida. Daí o deduzir-se que aquele cruzamento é duro. Além de duro, perigoso. Além de perigoso, cruzamento sem gosto.

De fato, desses defeitos, dois ele possuía. Sua pouca graça vivia desaparecida. Encoberta pela feiura do desleixo. Do abandono. O balão, formado por quatro grandes canteiros que o canal e a Afonso Pena cortavam, parecia fundo de quintal. Daqueles de gente relaxada, por cima. Sem tempo de perceber ou sem jeito de aparar o mato crescido. De endireitar árvores tortas. Ou mortas.

A praça, assim, vivia dias tristes. Nem o sol lhe dava melhor aparência. Ou a chuva um pouco de brilho. Era tão feia a roda de mato, entrecortada pelo cinza frio dos paralelepípedos, que seus moradores, para dar-lhe um pouco de cor, emprestar-lhe um ar de vida, pretendiam que a Prefeitura usasse a praça como "play-ground". Umas gangorras vermelhas, uns balanços chiantes, umas crianças alvoroçadas e felizes, dariam vida e bulício à tristeza da pracinha.

A ideia não deixava de ser uma ideia. Mas um lugar de recreação num cruzamento como aquele? Com carros chiando nas curvas, lambretas malucas, caminhões e ciclistas sempre apressados? Seria o mesmo que, pelo engodo colorido de cinco minutos de balancê, condenar as crianças de um acidente. Aquela não era solução. Claro que não era. De jeito nenhum.

Que fazer, então?

Ora. Reformar a praça. Ajardiná-la. Embelezá-la. Dar-lhe um novo valor, transformando-a num recanto bonito. Todo enfeitado de cor.

Foi isso que se fez. Isso e muito mais. A praça está um mimo. Até água recebeu. Com fartura. É a praça mais aquática da cidade toda. Em cada um dos quatro canteiros, há um tanque. Um lago azul. E um deles chega ao exagero, ao granfinismo de, sobre a água tranquila, possuir uma ponte recurva. Relativamente graciosa. Essencialmente poética. Como todas as pontes sobre água. Se não acreditarem, deem-se ao trabalho de ir verificar o milagre. Porque é um verdadeiro milagre a transformação por que passou a praça do Macuco. Quem a conheceu, ao revê-la agora, que o diga.

Visitando-a, reparem no detalhe das pedras coloridas. Atiradas, aqui e ali, sobre o gramado ainda ralo. Que o tempo tornará de um verde igual. Denso. Atapetado. Sim, vale a pena dar uma espiada na Praça Palmares. Quando as plantas, fincando o pé na nova casa, resolverem erguer as cabecinhas desanimadas, ninguém mais no Macuco precisará ir até a praia. Para ver um jardim bonito. Bastará procurar a Palmares para sentir frescura. Encantar-se com a alegria do ocorrido.

Sim, senhor. Ganhou um belo canto o trabalhador Macuco. Resta saber se seus moleques aprenderão a respeitá-lo.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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