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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 295)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 20 de dezembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Presentes de Natal

Lydia Federici

Pesquisas nas lojas de brinquedos, há alguns dias, apontaram quais os mais procurados. Bonecas para as meninas. Qualquer tipo de automóvel para os futuros homens.

Pra começo de conversa, o simples fato da procura de um brinquedo já é coisa boa. Pensei, como você, minha amiga, deve ter pensado, que neste ano, depois de tanta choramingação, de tanta greve, não fosse sequer haver Natal. um Papai Noel de cheques minguados apareceria apenas nas grandes casas. Como os donos das casas grandes casas também levaram o ano chorando misérias sem fim, julguei que o bom velho, sentindo-se na obrigação de dar, deixaria presentes úteis. Apenas presentes úteis. Um par de meias, por exemplo. Ou de sapatos. uma calça rancheira. um vestido de listas. Uma pilha de cadernos do MEC.

Mas não. A crer nos próprios olhos, a acreditar nas conversas, nunca houve um Natal mais comprado do que este. Compram-se coisas que realmente servirão. Coisas úteis. Imprescindíveis. Indispensáveis. Como corre também dinheiro a rodo. Nos balcões das quinquilharias. No dos brinquedos. Caros e baratos.

Nunca houve, nesta terra, tanto dinheiro pra ser trocado como hoje. É todo um mar de notas. Das rasgadas, de pouco valor, às enceradas de mil. Todas rodam. Transformam-se em carinhosas bobagens.

A criançada, ameaçada de ficar sem pão, receberá bonecas. E automóveis. Esse pensamento, se um pouco meditado, deveria fazer-nos cair de joelhos. Porque brinquedos atestam fartura. Fartura farta. Nada daquela miséria que aguardávamos de coração apertado.

Ora. Se há dinheiro, que se festeje o Natal de 62. Comprado o necessário, que se gaste no supérfluo. Sabe lá Deus o que o futuro nos reserva para os próximos Natais? Demos alegria às nossas crianças neste ano, portanto. A lembrança de uma carinha bonita, de um carrinho brilhante e reluzente, nunca deixará de existir para uma menina que ganhou uma boneca. Para um menino que recebeu um jipe. Ou um Fenemê. Se dinheiro sobra, compremos brinquedos.

De mais a mais, os brinquedos que as crianças estão pedindo garantem-nos a beleza do futuro. Brincando com bonecas, as meninas desenvolvem seu instinto carinhoso. Maternal. Enquanto se fabricam bonecas, preparam-se, evidentemente, futuras bonequinhas de carne. A continuação da raça estará garantida. Se para bem ou mal, ignoro. Isso é coisa que ainda depende de nós, os grandes. De como encaminhamos os pequenos.

Quanto à escolha dos meninos, recaindo sobre os produtos da indústria automobilística mirim, também achamos que está certa. Muito certa. Brincando com caminhões, tratores, jipes, peruas, carros de todas as marcas, os meninos, ao crescer, não perderão a mania infantil. Motorizar-se-ão. Garantida está, portanto, a indústria automotora nacional. Haja produção para satisfazer a procura dos futuros homens.

Como vemos, não está de todo mau o Natal de 62. Há sinais de ternura e de progresso. Sinais de paz. Não se procuram armas.

Deus! Isso é bom.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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