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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 286)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 9 de dezembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Psicologia

Lydia Federici

Como educar um filho? Uma professora brilhante e mãe extraordinária explicou-me o método.

Antes era fácil. Criança não sabia o que era complexo. Desconhecia recalque. Frustração. Autoafirmação. Não pensava em desrecalcar-se. A vida familiar, de pais para filhos, corria na base muito simples de um sim positivo. Sem talvez. E de um não enérgico. Contundente. Decisivo. Redondo e sem saída. Se sim e não falhassem, um tapa, bem aplicado, era argumento final. Decidia o problema. Sem danos físicos nem futuras marcas psíquicas.

Mas, depois, surgiu Freud. O mecanismo do inconsciente veio à tona. custou a espraiar-se. Mas sempre terminou por tomar conta da gente mais civilizada. Hoje, qualquer menina de escola, se não estuda, pelo menos ouve falar em psicologia. psiquiatria. Pedagogia. Métodos e sistemas de educação. De massa, escolar e familiar.

Isso, na prática geral, parece não ter grande aplicação. Puro engano. Toda mocinha que faz rebrilhar, enlevada e sonhadora, ainda na mão direita, aquele círculo de ouro, pensa e repensa, dia e noite, na forma de conduzir a educação dos futuros pimpolhos. Não se fiando na memória para relembrar o que, na verdade, não chegou a aprender, vasculha os cadernos aposentados. Compra livros que tratam, de forma objetiva, simples, compreensível, diretíssima, de todos os casos de educação infantil.

O resultado é isso que por aí se vê. Criança mais malcriada do que nunca. Cheia de "quero" e de "não quero". Carregada de personalidade. Ao inferno essa raça de "personalidade".

Diante desse resultado, que pensar? Que sistema adotar?

Entra aí a palavra daquela professora brilhante. Daquela jovem mãe extraordinária. Via-a entre alunos. Ouvia-a em casa.

Essa moça não é uma professora comum. É professora por vocação e amor. Tem alma de mestra. Fez o curso com brilho. Depois de receber o diploma, não se sentiu satisfeita. Frequentou cursos de especialização. Aplicou-se com tanto entusiasmo que chegou a ganhar uma bolsa de estudos. No exterior. Onde aprendeu a técnica mais moderna no campo da educação. Sabe mais de crianças e de seus problemas que dez tratados juntos. Porque aliou a técnica à prática. Estudando tudo quanto era caso. Descobrindo, em exemplos vivos, como lidar com tímidos. com mentes retardadas. Com os agressivos. Com os explosivos. Recalcados. Até com crianças normais, vejam.

Na escola, com os alunos, essa professora é um desfilar de métodos. É paciente. Carinhosa. Apenas firme. Doce. Persuasiva. De seus lábios espirra pedagogia da fina. Para cada tipo de criança, o método adequado de educar. Sem gritos. Sem rispidez. Toda ela um exemplo de doce autoridade.

E em casa? Com os filhos? Vai na conversinha mole? Nos panos quentes?

Pois sim. Seus filhos, graças a Deus, são crianças normais. E para filhos comuns, a melhor pedagogia ainda é aquela que funciona na base do tempo antigo. Não há nem pode haver coisa melhor. A outra, para uma mãe, não dá certo. Entenderam?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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