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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 285)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 7 de dezembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Mais uma

Lydia Federici

Pai, em geral, não liga muito pra isso. Nem implica como faz sua senhora, a mãe. A razão é simples. Ele sai cedo para trabalhar. Volta tarde. Seu local de trabalho, em geral, fica distante de um colégio. Da fanfarra, o que ele vê, num dia de festa, é o filho garboso. Em que ele, com orgulho, se revê. Uniformizado. Jovem. Carregado de sonhos. Da fanfarra, o que ele ouve, numa rápida hora de desfile, são as clarinadas que lhe eletrizam, ainda, o civismo. O bum-bum-bum dos surdos e dos tambores. marcando o ritmo de uma marcha que seus pés irrequietos, imóveis em quarenta centímetros de chão, pisam com carinho.

Mas ela, a mãe, a não ser no dia da parada, em que seu coração se derrete em lágrimas, da fanfarra só fala mal. Porque, durante dois, três meses, morando perto de um colégio, não parou de ouvir o tam-tam distante. Que não lhe dava descanso. Obrigando-a a lavar os pratos em ritmo acelerado. Levando-a a costurar depressa. Desconcentrando-a no pif. Impedindo-a de dormir. Eletrizando o garoto menor que queria fugir de casa.

E, além de todos esses problemas, havia o maior. Filho seu, filha sua, se tinham um livro debaixo dos olhos, era para repicá-lo com o lápis e a esferográfica. Treinando a batida em lugar de decorar o teorema. E também não paravam em casa. Era só treino de fanfarra. Treino de marcha. E os estudos? Pra que estavam na escola? Pra que aprender a soprar? Pra fazer desenhos no ar com as baquetas? Com isso passariam de ano? Pois sim.

É diante desses dois modos tão diferentes de encarar o fato que não sei como contar a novidade.

Para os pais eu diria: tenho o prazer de dizer-lhes que...

Mas e as mães? Terão elas o prazer de saber?

Pensem um pouco. Fanfarra é música. Fanfarra é exercício. Fanfarra é disciplina. Enquanto Zezinho marcha, seu estilingue, minha senhora, não faz estragos pela vizinhança. Enquanto Gilda tricoteia os pauzinhos sonoros, senhora minha, aquela cabecinha bonita não tem tempo de inventar artes. Não é melhor sabê-los por conta da fanfarra, embora a fazer barulho, do que sabê-los num outro barulho? A inventar essas coisas que a mocidade irrequieta de hoje, mais malucamente do que nunca, busca?

Convencida ou não por esses argumentos, aceitando de bom grado ou levando as mãos à cabeça, em desespero, digo-lhe, minha senhora, que em Santos já surgiu outra fanfarra. É a do Grupo Municipal Olavo Bilac. Um encanto de mais trinta barulhentos batedores. São alunos de escola primária. Tão sérios e garbosos quanto as meninas grandes e os rapazes do Canadá. Como eles, já executando evoluções complicadas. E sentindo orgulho de vestir o uniforme bonito. E de mostrar o que sabem fazer.

Se a novidade lhes desagrada, sinto-o muito. Porque, após a fanfarra do Olavo Bilac, as de outros grupos surgirão. Ficariam eles por baixo?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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