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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 281)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 2 de dezembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Caramujos, conchas e algas

Lydia Federici

Para quem vem do interior, Santos é mar. E praia. Sendo mar, é peixe. Peixe que se gosta de ver. E, principalmente, de comer. Sendo praia, é areia ensolarada. Toda enfeitada de conchas cor de rosa. Ou brancas. E de caramujos cheios de mistério.

Ai. Já se foi o tempo das conchas e dos caramujos. Essa ausência causa, em pessoas idosas, carregadas de lembranças, e em crianças de olhos brilhantes de esperanças e promessas, um mundo de desilusão.

Onde estão as conchas? Onde se escondem os caramujos?

Eu sei. Muita gente mais também sabe. Conchas lisas e onduladas, enormes e microscópicas, brancas como leite, pardas como sujeira, rosadas como sonhos infantis. Caramujos lisos e enfeitados. Ostras rugosas. Estrelas do mar. Ouriços espinhudos. Conchas de tartaruga. Esverdeadas de limo ou brilhantes de verniz. Siris. Caranguejos e caranguejolas. Mariscos furta-cor. Tudo isso existe por aqui. Por aqui mesmo, sim. E num único lugar. Para facilidade de observação. Onde? Digo-lhe já. Numa das novas salas de aula do Instituto de Educação Canadá. Lá na Rua Mato Grosso. Travessa da Conselheiro Nébias.

É uma exposição de belezas e curiosidades marinhas. Tão interessante e elucidativa, que bem merecia ir completar o Aquário. Não há, lá, tanques vazios. Parte dessa amostra poderia ir alegrar a curiosidade da pequenada. Ensinando-a a conhecer as maravilhas do mundo submarino.

Voltando à exposição. Quem reuniu todo aquele material? Pois, os estudantes do colégio. Como o conseguiram? Não sei. Suponho que tenham percorrido o mar. O mercado. Os vendedores ambulantes. Como, também, devem ter assaltado as prateleiras de bibelôs de suas casas. De onde "emprestaram" as lembranças das avozinhas queridas.

O caso é que a sala, em uma de cujas paredes uma rede de pescar arrasta estrelas e tartarugas, está atulhada de estranhas obras da vida aquática.

Vida aquática? Vejam as algas também. Que os rapazes foram arrancar do fundo do mar. Arranhando os pés nas pedras escorregadias de São Vicente e da Ponta da Praia. Provem a sopa, o refresco, a geleia de algas. Façam careta. Mas elogiem o trabalho dos meninos. Dos rapazes. Das garotas bonitas.

Como se conseguiu esse trabalho cheio de empenho e de entusiasmo dos estudantes? Dessa meninada que, erroneamente, julgamos boa vida e preguiçosa? Tarciso Barbieri, professor de biologia, explica-o assim:

"Esta mocidade é a melhor coisa que há. Solicitada, corresponde. Com exagero. A prova aí está".

Sim. A prova do esforço, da capacidade de nossa mocidade estudantil, aí está. Em dois meses de trabalho puxado, feito com prazer, os estudantes do Canadá conseguiram levar, entre outras coisas, para as salas do colégio, todas as obras e segredos do nosso mar. Vale a pena conhecer a exposição.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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