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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 272)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 22 de novembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Pra que a campanha?

Lydia Federici

A Sociedade Amigos da Cidade entregará hoje, ao prefeito, todo o material necessário para o desencadeamento de uma grande campanha. Em defesa das árvores, dos jardins, dos bens de utilidade pública de Santos.

Entrar-nos-á pelos olhos, pelos ouvidos, a necessidade de respeitar coisas que foram criadas para embelezar ou melhorar a vida de nossa gente. Será o único jeito de fazer-nos compreender o que, desde a infância, deveríamos ter sabido. Se todos nós tivéssemos tido pais esclarecidos, ou professores capazes de fazer entrar, em nossas cabeças rebeldes, a compreensão dos valores de certas coisas.

Há tempos, com bastante orgulho, contei-lhe, meu amigo, a história bonita de meia dúzia de choferes de táxi que cuidam, com amor e carinho, da pequenina praça Belmiro Ribeiro. A mais bem cuidada da cidade. São os seus olhos vigilantes que preservam aquela beleza resumida em meia dúzia de canteirinhos.

Se, em todas as ruas da cidade, em cada cidadão, houvesse um pouco desse amor vigilante e ativo, Santos, além do mar azul, dos montes verdes, poderia ser toda um pequenino jardim. Fresco. Acolhedor. Colorido. Bonito, útil e repousante.

No entanto, é um deserto de asfalto ou de paralelepípedos. Escaldante ao sol de verão. De ar morno quase irrespirável. Sem sombra nem frescura. É claro que já foi muito pior. Houve muito menos árvores nas ruas empoeiradas. Já começamos a compreender a utilidade do verde oxigenador. Já respeitamos a beleza dos jardins da praia. No entanto, ainda há muito por fazer. Ou exatamente, por deixar de fazer. Quebrar e danificar coisas, por exemplo.

Lembro-me do orgulho de uma portuguesa a exclamar, mãos nos quadris fortes e redondos:

"Ainda não conhece nossa praça? Pois não sabe vosmecê a galanteza que perde". Referia-se à Praça Senador Correia. Em pleno centro do Macuco. Era um canto bem grande de chão. Hà anos, o largo cheio de capim foi ajardinado. Recebeu até uma fonte luminosa. Sua inauguração, de roupa nova, foi uma festa. Um melhoramento que o Macuco saudou com orgulho. E que, nos primeiros dias, soube aproveitar com alegria. Mães cansadas ali encontravam um banco onde sentar sua canseira. Namorados, um canto bonito onde sonhar. Crianças, ruazinhas seguras por onde correr sua energia. Havia galhos floridos de flamboyants. Água vermelha a esguichar da fonte. Cheiro gostoso de grama.

Mas isso durou pouco. Muito pouco durou essa galanteza. Sumiram os flamboyants. Quebraram as acácias rosas que os substituíram. Como deram cabo, a seguir, das saboneteiras que a Prefeitura, teimosamente, ali replantou. Hoje, a Senador Correia é uma praça grande e rasa. De fonte sempre inutilizada. Não tem flores,nem plantas, nem árvores. Nem mato, quase, chega a tornada.

A gente boa do Macuco, por causa da gente ignorante ou má, perdeu o que poderia ter de melhor.

Quem sabe se a campanha resolverá o problema? Para isso vai viver.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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