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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 261)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 8 de novembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Ela ao volante

Lydia Federici

A conversa estava tão boa. Um assunto puxando outro. Mas, de repente, ela se lembrou da família. Toda no clube. Há longo tempo à sua espera. Despediu-se às pressas. Procurando, na bolsa grande, para evitar mais demora, a chave do carro que, paciente e calmamente, a aguardava na rua.

Abriu a porta. Subiu um pouco a saia estreita e entrou, de costas, os joelhos muito unidos. Era o único jeito, não muito elegante, de conciliar a entrada no carro e a saia ajustada. Deu um último adeusinho e arrancou. O motor devia estar frio. Custava a puxar. Paciência. Rodando, esquentaria. Perder mais um minuto de tempo é que não poderia ser. O marido deveria estar preocupado. E os meninos, embora a divertir-se, estariam com o estômago a reclamar. Como pudera atrasar-se por mais de uma hora?

Tinha pressa. Mas também tinha consciência. Não era uma volante irresponsável. Nunca se permitiria fazer coisa que aprendera não dever fazer. Correr mais que o razoável, por exemplo, foi pensamento que não lhe passou pela cabeça. E assim, com cuidado, foi guiando. Mesmo porque, inexplicavelmente, o carro não estava bom. Custava a puxar. Mantinha a velocidade sofrendo. O motor como que gemendo sob tanto esforço. Parecia não querer esquentar.

Depois do primeiro quilômetro, percebeu que o negócio não estava nada bom. As palmas das mãos suavam na direção. Nunca havia guiado caminhão. Mas calculava que a força que despendia devia ser a mesma da de um chofer de Fenemê. Que seria?

Com olhar inquiridor, percorreu todos os botões do painel. Parecia não haver nada fora do lugar habitual. E, de repente, deu-lhe o estalo. O breque de mão! Mas não. Estava solto até o fim. Só que, ao experimentá-lo, o carro guinou-lhe para a esquerda. Que coisa mais esquisita. Que diabo teria aquele automóvel? Diminuiu a velocidade e continuou a guiar. Agora com mais cuidado.

Enquanto ia avançando, a cabeça trabalhava. Que dizia o marido que era quando o carro dava de ter caprichos? Carburador entupido? E, se fosse, que podia ela fazer? Nem sabia onde se escondia esse culpado carburador. Velas? Velas sujas? E daí? Sujas ou limpas, só pedia a Deus que aguentassem até o clube. Felizmente estava quase chegando. Mais três quadras e pronto.

Mas essas três quadras finais foram, de fato, o fim. O carro perdeu as forças. E deu de soluçar.

"Não, gemeu ela. Aguente mais um pouco só, por favor". E engatou a segunda. O pobre continuou a soluçar. Mais espaçadamente. Os soluços rítmicos sacudiam-na de segundo em segundo. Quando, finalmente, parou, diante do portão do clube, com um suspiro de alívio, toda ela era a imagem perfeita de uma perfeita desatinada. Guiar assim, nunca mais!

"Mamãe. O carro está com dois pneus no chão". Olhou. Era verdade. Pensara em tudo. Menos nos pneus. Como poderia saber que era isso? Hoje ela sabe.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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