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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 247)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 21 de outubro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Em surdina

Lydia Federici

A história é bonita. Simples mas bonita. Profundamente humana. E dá o que pensar. Porque inicia algo de novo. Custou-me consegui-la. "Elas" não querem cartaz. Trabalham em grupo. Por um ideal. Foi arrancada aos pedaços, a história. Sacarrolhada. Mas, no fundo, mais ou menos armada, é isto. Refere-se a um fato há pouco ocorrido em nossa cidade.

***

"Fomos nós, sim. Eles precisavam de saber que estávamos com eles. Compreendendo o que haviam feito de bom. Agradecendo-lhes a dedicação. Não haviam cumprido mais que seu dever? É claro que sim. Mas quem, hoje, cumpre sua obrigação sem, pelo menos, ficar amaldiçoando a sorte? Com alegria e bom humor? Por isso é que mereciam as nossas palmas. E foi o que nos propusemos fazer. Noticiaram, erradamente, que lhes daríamos dinheiro. Sim. Dinheiro é coisa de que todos necessitam. Mas, certas coisas não podem ser pagas ou agradecidas em dinheiro. Perderiam sua significação. E então achamos que, a dar qualquer coisa sem utilidade, seria mais interessante saber o que eles preferiam.

"Foi duro descobrir. Mas sempre se abriram. Tão encabulados quanto nós, no fundo, também estávamos. Uns queriam um rádio-vitrola. Outros ficariam felizes com um bebedouro. E os terceiros gostariam de ter a sua quadra de basquete iluminada. Se conseguimos isso tudo? Deu um nada de trabalho. Foi só correr o comércio. Pedir às associações de classe. Ninguém se negou. Se o nosso grupo é grande? Não. Era formado por dezoito senhoras. A que se juntaram, depois, mai doze. Trinta, portanto. Número pequeno. Mas cheio de entusiasmo. E, nas horas livres, muito ativo. Eficiente".

"Numa bela manhã, as oito que estavam livres e que podiam comparecer foram fazer a entrega das lembranças. Tínhamos conseguido, de quebra, duas Bandeiras. Bonitas. Todas bordadas. Parecia-nos bem. Mas, na hora, percebemos que nunca havíamos feito nada de semelhante. Não sabíamos como seríamos recebidas. Se a coragem nos abandonou? Não. Compreendidas ou não, iríamos até o fim. Você vê. Despertamos para uma causa. Não podemos abandoná-la.

"E, assim, com o coração meio apertado, fomos em frente. Num minuto, assim que pisamos no pátio, sentimo-nos em casa. Entre amigos. Eles estavam perfilados. Orgulhosos e duros nas suas fardas. Mas. A simpatia, o calor que havia nos seus rostos tostados, derreteram nosso temor. Sentimo-nos unidos. Irmanados. Afinal, o ideal é o mesmo, não? Quando o comandante começou a falar, quando sentimos o calor bom que havia ali, quando vimos tremular a Bandeira, que é tão deles quanto nossa, a que devemos tanto quanto eles, em amor e reverência, nosso coração começou a doer. Nem nos lembramos de enxugar as lágrimas que nos escorriam pelo rosto".

Neste ponto da história, lágrimas voltaram a assomar aos olhos da jovem senhora que, atarefada, distribuía revistas e folhetos na exposição do "Muro". Pertence ela à União Cívica Feminina. Guardem o nome. União Cívica Feminina.

Foi a união que, em nome do povo de Santos, numa cerimônia simples, teve a iniciativa de entregar ao Corpo de Bombeiros, à Guarda Civil e ao 6º B. C., a lembrança agradecida de nossa gente à gente que, com civismo, nos serviu.

Vocês sabiam? Passem a história adiante, por favor.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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