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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 230)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 30 de setembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Época de conspirações

Lydia Federici

Que admiração é essa? Todos nós não estamos fartos de saber da história? Hoje, por exemplo, é dia. Dia de reunião. Mas justamente num domingo? E que tem o domingo? É o melhor dia. Dia sem obrigação de trabalho. Dia de descanso. De horas livres. Quando todos podem comparecer.

Não acreditam? Olhem. Dou-lhes até o local da reunião. É na Ana Costa. Numa casa que fica à direita de quem busca a cidade. Mais ou menos na metade da avenida. Posso até adiantar-lhes a hora em que tudo começa. Exatamente às 15,30.

Chegam aos pares. Aos trios. Uns têm carros. Outros chegam de bonde. E, ainda, alguns a pé. Homens feitos. Rapazinhos, E também moças. Moças, sim. Para tapear? Tapear coisa nenhuma. Elas são elementos ativos. Ativíssimos. Desempenham o papel para que foram designadas, com o mesmo ardor dos companheiros. Que, nessas coisas, tanto vale o homem quanto a mulher. Creiam-me.

Não param na porta. Como não pararam no portão. Vão entrando, diretos. Lá dentro, cada qual toma o seu rumo. Os homens vão para uma sala. E ficam, a conversar, à espera do chefe. Um chefe que chega exatamente às 15,30 horas. Vestido de preto. Apressado. Com uma pasta bem presa sob o braço. Deus! Apesar do seu "boa tarde" sem sotaque, o cumprimento, mesmo de longe, tem o jeito típico da velha marcialidade alemã.

Enquanto isso acontece, as moças estão reunidas num galpão isolado. Cheio de cadeiras. Que elas vão ocupando em semicírculo. Cada qual em determinado lugar. A obediência às ordens da chefe é cega. É só ela levantar um dedo, a sala mergulha no silêncio. Todos os olhos se fixam na figura pequena e magra. A menor delas todas. Mas isso não importa. Tamanho de corpo, nisso, não voga. Vale o tamanho do saber. E, nisso, a chefe recebeu diploma. Fez curso. E continua a ser aperfeiçoada. Que a tarefa é cheia de truques.

Depois de uma hora de revirar misteriosas folhas, aprendendo, modificando programas, repetindo, investigando o trabalho pessoal executado, melhorando a ação de conjunto, o chefe alourado traz os homens para baixo. Juntam-se às moças. A chefe pequenina une-se às comandadas. É o grande chefe, com as mãos estendidas, quem dirige, agora, a ação conjunta.

Os minutos passam céleres. Cansados mas atentos, transpirados mas sem um ah! de queixa, eles nem têm tempo de acender um cigarro. Distribuem-se por tarefas. Não discutem as ordens recebidas. Desde o minuto em que entraram para o trabalho, aprenderam a obedecer. Acreditam, e por gosto, no sacrifício da individualidade em benefício do sucesso da causa em conjunto.

Às 17,30, ouvida a última palavra da última recomendação, levantam-se. Terminada a reunião, saem como vieram. Hoje ninguém ficará para comentar o que houve. Meia hora depois, em São Vicente, a quem os quiser ouvir, dirão o que aprenderam em dezenas de reuniões trabalhosas. A plenos pulmões.

Que gente é essa? Que conspiração é essa?

São os artistas do "Ars Viva". Que conspiram pró-beleza. Contra a feiura do mundo.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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