GENTE E COISAS DA CIDADE A praça mais bonita
Lydia Federici
Muita gente vai discordar. Mas quando as razões forem explicadas, todos hão de achar que, de fato, a Belmiro Ribeiro é
a praça mais bonita da cidade. Está lá, no começo da Avenida Ana Costa. Pra quem quiser ir vê-la.
Sua beleza não provém de sua forma. Nem dos prédios que a cercam. E, no seu caso, tamanho não chega a vogar. É, na verdade, uma das menores praças que arejam, com modéstia, o pouco chão deste lado da ilha de São Vicente.
É pois, pequenina, triangular e sem moldura. Sob um ponto, um único só, ela acompanha a mania de suas irmãs. Tem o nome de Praça Belmiro Ribeiro. E quem está lá no meio, sobre um pedestal de pedra, é Rui Barbosa. No mais, ela é absolutamente ela
própria. O 'ai! Jesus" da Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura. Vingaram, na grande sementeira do horto municipal, apenas vinte e seis mudas de papoulas? Onde plantá-las? Que pergunta! Na Belmiro Ribeiro.
Qual a razão dessa proteção? Por que tudo quanto é bonito vai colorir os canteiros daquela praça da Vila Matias?
É que a Belmiro Ribeiro tem um anjo da guarda. Um anjo protetor que está sempre de olho aberto. Dia e noite. Zelando pelas flores da praça. Pela limpeza do tanque de peixes vermelhos. Pela conservação dos bancos de cimento. É esse anjo que espicaça
o modesto orgulho do jardineiro daquele jardim colorido.
"Como é, seu Braz? está nascendo mato no meio do gramado. Será que ele não vai liquidar com a grama?"
E o jardineiro pega o banco de palmo de altura e leva o dia inteiro livrando o canteiro da praga mortal. À tarde, enquanto endireita as costas, olha para o serviço feito. E sorri. E sorri. Deu trabalho.Mas agora sim é que está bonito aquilo. E quem
reclamou está ali para sorrir junto com ele. Dizendo-lhe, a abanar a cabeça, que ficou perfeito. Parecendo até jardim de casa particular.
Quem conta bem a história da praça é Zé Duarte. Um rapagão que por ali gosta de passear. Ele é um dos anjos da praça.
"Na correria em que se vive, com buzinas e campainhas atordoando-nos, o melhor remédio é isto aqui. É um banho de sossego. De luz. De frescura. Não permitimos que ninguém danifique as coisas desta praça".
Mas há gente que queira estragar aquela beleza limpa e tranquila?
Se há. Sempre namorados descuidados. Larápias noturnas. Moleques atrevidos. Mas seus descuidos, seus avanços, seus atrevimentos são logo controlados. E a praça continua a ser a mais bem cuidada da cidade.
Mas quem a protege?
Pois Zé Duarte e seus nove companheiros da Agência de Táxis da Vila Matias. Ali é seu ponto. Aquele é o seu jardim. É pelo amor e pelo carinho desses dez choferes que a Belmiro Ribeiro é esse buquê de flores. De sonho.
Vá lá ver, meu amigo, se não é verdade.

Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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