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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 207)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 2 de setembro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

A praça mais bonita

Lydia Federici

Muita gente vai discordar. Mas quando as razões forem explicadas, todos hão de achar que, de fato, a Belmiro Ribeiro é a praça mais bonita da cidade. Está lá, no começo da Avenida Ana Costa. Pra quem quiser ir vê-la.

Sua beleza não provém de sua forma. Nem dos prédios que a cercam. E, no seu caso, tamanho não chega a vogar. É, na verdade, uma das menores praças que arejam, com modéstia, o pouco chão deste lado da ilha de São Vicente.

É pois, pequenina, triangular e sem moldura. Sob um ponto, um único só, ela acompanha a mania de suas irmãs. Tem o nome de Praça Belmiro Ribeiro. E quem está lá no meio, sobre um pedestal de pedra, é Rui Barbosa. No mais, ela é absolutamente ela própria. O 'ai! Jesus" da Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura. Vingaram, na grande sementeira do horto municipal, apenas vinte e seis mudas de papoulas? Onde plantá-las? Que pergunta! Na Belmiro Ribeiro.

Qual a razão dessa proteção? Por que tudo quanto é bonito vai colorir os canteiros daquela praça da Vila Matias?

É que a Belmiro Ribeiro tem um anjo da guarda. Um anjo protetor que está sempre de olho aberto. Dia e noite. Zelando pelas flores da praça. Pela limpeza do tanque de peixes vermelhos. Pela conservação dos bancos de cimento. É esse anjo que espicaça o modesto orgulho do jardineiro daquele jardim colorido.

"Como é, seu Braz? está nascendo mato no meio do gramado. Será que ele não vai liquidar com a grama?"

E o jardineiro pega o banco de palmo de altura e leva o dia inteiro livrando o canteiro da praga mortal. À tarde, enquanto endireita as costas, olha para o serviço feito. E sorri. E sorri. Deu trabalho.Mas agora sim é que está bonito aquilo. E quem reclamou está ali para sorrir junto com ele. Dizendo-lhe, a abanar a cabeça, que ficou perfeito. Parecendo até jardim de casa particular.

Quem conta bem a história da praça é Zé Duarte. Um rapagão que por ali gosta de passear. Ele é um dos anjos da praça.

"Na correria em que se vive, com buzinas e campainhas atordoando-nos, o melhor remédio é isto aqui. É um banho de sossego. De luz. De frescura. Não permitimos que ninguém danifique as coisas desta praça".

Mas há gente que queira estragar aquela beleza limpa e tranquila?

Se há. Sempre namorados descuidados. Larápias noturnas. Moleques atrevidos. Mas seus descuidos, seus avanços, seus atrevimentos são logo controlados. E a praça continua a ser a mais bem cuidada da cidade.

Mas quem a protege?

Pois Zé Duarte e seus nove companheiros da Agência de Táxis da Vila Matias. Ali é seu ponto. Aquele é o seu jardim. É pelo amor e pelo carinho desses dez choferes que a Belmiro Ribeiro é esse buquê de flores. De sonho.

Vá lá ver, meu amigo, se não é verdade.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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