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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 192)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 15 de agosto de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Uma cascata

Lydia Federici

Quem vem pela Anchieta, ao largar a estrada para entrar na cidade, dana-se com o esburacamento da rua e desilude-se com a paisagem. Se olha para a esquerda, é a escuridão suja do muro da estrada de ferro. Se põe os olhos à direita, rochas escarpadas, ilhadas de mato, oferecem-lhe um quadro de abandono. Pouco além, o casario pobre, que se encarapita nos morros seguintes, talvez dê um pouco de cor à entrada da cidade. Mas é um colorido de pobreza. Que não alegra. Só deprime. Entristece.

Pois bem.

Numa das encostas de rocha, vai ser criado um jardim de pedra. Com água a cascatear lá do alto. Caindo de vasca em vasca. Formando, aqui em baixo, um córrego. Com água a saltar de patamares de pedra.

Dizer o que vai ser essa cascata é coisa meio difícil. Pelo que já foi feito, de início, é fácil prever o futuro do lugar. Será uma das coisas mais bonitas de Santos. Um recanto de água a tombar e de plantas a subir. Ou a despencar das rochas quase a pino. Será um palco colorido. Com leques de folhas a balançarem-se. Com frescura de água a rebrilhar nas paredes rochosas. De dia, o sol dourará o anfiteatro. À noite, refletores mostrarão o maior e mais impossível "rock garden" do mundo. Porque, meus amigos, deixando a modéstia de lado, é exatamente isso o que ele vai ser. Um jardim de pedra impossível!

Aos que dispõem de automóveis, recomendaria, numa meia hora de folga, uma chegada até o local. O difícil será estacionar o cargo na movimentada avenida. Larguem-no um pouco além. No largo do Saboó. Aos pedestres também gostaria de indicar o passeio. Principalmente em horas de trabalho. Das oito às onze. Das 14 às 17 horas. Por que?

Por uma razão muito simples. Para que se veja o que está sendo feito. Para que se fixe o panorama atual. Para depois poder valorizar a beleza da obra. O impossível que o homem possibilitou.

É um paredão quase a prumo. De rocha viva. Talhada, há tempos, por cargas de dinamite. Forma uma reentrância de uns cento e cinquenta metros de comprimento. Nessa parede com, aqui e ali, ligeiras anfractuosidades, forma-se um jardim. Mas como?

Como? É de arrepiar. Prendem-se cordas lá no topo. Alto como os arranha-céus. Pelas cordas, verdadeiros alpinistas, descem os jardineiros. Trabalham só com uma das mãos. A outra está segura na corda. Arrancam as touceiras de mato. Adubam os côncavos. Plantam dracenas, guaibês, trepadeiras. A rocha escura se colorirá. Criará vida bonita. Uma cascata despencará pelas pedras. Correrá encachoeirada aqui no plano. Quando tudo estiver pronto, daqui a alguns meses. Santos, famosa pelas praias ajardinadas, terá o mais impossível "rock garden" do mundo.

Vá lá ver, minha amiga. Veja o trabalho dos homens. Deixe o coração palpitar à vontade. Lembre-se do que viu. Para orgulhar-se do que verá!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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