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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 188)
Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca
Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em
10 de agosto de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
GENTE E COISAS DA CIDADE Seis inimigos
Lydia Federici
É todo um sonho real o jardim da praia de Santos. Único. Ímpar. Mas podia ser ainda mais bonito. E o será. Quando
alguns de seus inimigos desaparecerem.
São seis os principais destruidores das belezas do jardim. Dois deles nunca serão submetidos. Porque naturais. O vento que sopra do mar. Castigando as plantas. E a areia. Areia leve que o vento carrega e deposita sobre os canteiros. Matando a
grama. Facilitando o nascimento do mato resistente.
Contra vento e areia, nada há a fazer. Senão o que agora está sendo feito. Reforma total do gramado.
Mas os outros inimigos, com tempo e paciência, poderão ser transformados exatamente no oposto. Em amigos. Bastará que eles compreendam. Se eduquem pela beleza. Se civilizem. Dois desses inimigos são, digamos assim, de natureza administrativa. Há
falta de homens para a reforma, manutenção e trato do jardim. E, além disso, em alguns desses poucos jardineiros, jardineiros improvisados, há falta de amor às coisas da arte que exercem. Porque jardinagem é arte. É trabalho de artista. De artista
criador. Ou conservador de beleza. Quem lida com plantas, deve gostar de plantas. Qualquer matinho recompensa a mão que o trata com cuidado, carinho e amor.
E é isso que faz falta a muitos trechos do longo jardim da praia. Um cuidado especial. Executado por homens que têm, duramente, de ganhar sua vida. Mas que, enxugando a testa cansada, sentem a beleza daquilo que estão fazendo. Jardineiro público
não é um simples assalariado da Prefeitura. Que roça a grama porque assim o mandaram fazer. Que agúa um canteiro recém-plantado porque os olhos do chefe lhe exigem esse trabalho extra.
Jardineiro da Prefeitura tem que transformar-se, realmente, em jardineiro. Um homem que entende de plantas. Que ama as suas plantas. Que sente a beleza do que está fazendo. Quando houver jardineiros em número suficiente; quando houver, nesses
jardineiros, o sentimento da profissão-arte, então o jardim da praia será muito mais bonito. Mais bem tratado. Coisa realmente digna de ser mostrada, com orgulho, a todo o mundo.
Os dois últimos inimigos da praia ajardinada somos nós. E nossos queridos amigos de fim de semana e de temporada. Os vândalos santistas e os vândalos de fora constituem a praga permanente do jardim de seis quilômetros.
Não são apenas os rapazes forçudos que quebram bancos. Não são somente os namorados ardorosos que estilhaçam lâmpadas. Não são os pescadores de fontes ou os jogadores de futebol que estragam o jardim. São todos os pés que pisam o gramado. São todas
as mãos que arrancam uma planta. São todos os corpos que se sentam ou se deitam sobre a relva sombreada. São os que atiram lixo. Todos esses, em grau maior ou menor, prejudicam o jardim da praia. Quando nos civilizarmos, a praia ajardinada de
Santos, cuidada por jardineiros amorosos, será a mais bela do mundo. Embora vento e areia conspirem contra sua beleza, nosso respeito a salvará. Nosso amor a consagrará.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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