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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 187)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 9 de agosto de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Jardim da praia

Lydia Federici

Uma revista carioca publicou, há dias, diversas fotos coloridas. Tão bonitas que obrigaram olhos apressados e distraídos a fixar-se nos desenhos cheios de cor. Uma delas, tirada do alto de um morro, mostrava uma praia em curva graciosa. Emoldurada, de um lado, pelo azul de um mar tranquilo. Do outro, por um bloco quase maciço de arranha-céus de formas caprichosas. Era a foto azulada de uma cidade de sonho.

"Upa! Se eu não morasse aqui, gostaria de viver. Onde fica?" Sob a foto, a legenda ressaltava a beleza dos prédios em constante multiplicação. E a quentura das tranquilas águas do mar azul. Nada mais. Mas que lugar do mundo era aquele?

Pois, a segunda capital de São Paulo. Nada mais, nada menos que Santos. Focalizada do morro de Santa Terezinha. Tão bonita de fazer doer o coração. De por lágrimas nos olhos. De dar um arrepio de orgulho. E de amor.

Outra foto, pequenina, tirada de um décimo quarto andar, era um mosaico colorido do jardim do Boqueirão. com sua pérgula. Seu lago. Os desenhos marinhos dos largos passeios sinuosos. Deus! Parecia coisa de Hollywood. Como pode existir essa beleza diante de nossos olhos sem que saibamos que ela é realmente essa maravilha?´

É a tal da história. Acostumamo-nos a andar entre os canteiros do jardim da praia. Vemo-lo, todo dia, da avenida. É coisa nossa. À disposição de nossos olhos. Nada se paga para apreciá-lo. Muito menos para gozar a sombra de seus chapéus de sol tão típicos. Aceitamos sua presença diária. Entrando e saindo ano. Vemo-lo com olhos habituados. E distraídos. Habituamo-nos a enxergá-lo sempre do mesmo ângulo. Nem o notamos mais. Mas, do alto, de longe, de uma posição diferente, quando se abarca toda a superfície, toda a extensão da praia ajardinada, é que, com o coração disparado, a gente descobre por que razão olhos de fora se arregalam. E se extasiam.

É bonito de doer o jardim da praia. É um jardim de seis quilômetros de comprimento. Já pensou nisso? Seis quilômetros de jardim? Junto ao mar? Sem nada que o interrompa? Onde já se viu coisa igual?

Gente que, de passagem, para em Santos por umas horas, se embasbaca com a praia ajardinada. É que gente que corre mundo sabe o que é praia. Conhece jardins. Mas nunca viu praia de seis quilômetros, ajardinada de ponta a ponta. Por isso, arregala os olhos. Por isso, incrédula, pendula a cabeça de Leste a Oeste. Por isso sobe em arranha-céu. De cujos terraços tira fotos e mais fotos coloridas. Fotografias que, mais tarde, olharão em dúvida. Será que não sonhou? Será que a máquina não exagerou?

Que exagero qual nada. Que exagero nem exagero e meio. O jardim da praia é isso mesmo. Seis quilômetros verdes de canteiros irregulares. Barrados de vermelho. Recortados pelas manchas alegres de plantas floridas. Pelos agrupamentos de folhagens coloridas. É todo um sonho real o jardim da praia de Santos. Único. Ímpar. Mas podia ser ainda mais bonito. E o será.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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