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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 184)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 5 de agosto de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Aniversário importante

Lydia Federici

Há milhares de ginasianas e de normalistas em Santos. Com seus uniformes classicamente coloridos, enfeitam ruas e alegram bondes. Chilreiam como pássaros. Riem. Dizem que detestam estudar. Que estão loucas para terminar o curso. Mas quem as obriga a frequentar a escola? Por que não abandonam a saia azul? Por que usam, os ombros erguidos com orgulho,os livros sob o braço?

Há mentira na boca dessas meninas. Falam por falar. Na verdade, todas elas querem seu diploma. Porque ele lhes atestará as possibilidades. E elas, inteligentes em grau maior ou menor, sabem disso. Daí, esse mundo de moças bonitas que atulham os colégios espalhados por toda a cidade.

Mas no começo do século
(N.E.: século XX) não era assim, não. Mocinhas bonitas havia. Mas não usavam uniforme. Nem estudavam em colégio. Porque, para elas, não havia escola. Menina podia fazer seu cursozinho primário. Fazia-o. E era tudo. Alfabetizada e ligeiramente numerizada, a meninota, se quisesse saber mais, que lesse. Ou que desse duro com um professor particular. Ou, se tivesse muita sede de conhecimento, que se bandeasse, corajosamente, para São Paulo. Onde havia cursos secundários para moças. Aqui é que não podia ser.

Mas, por que razão a moça daqui não haveria de ter a possibilidade de fazer, em sua própria cidade, um curso secundário? Não se podia tentar a experiência? Foi assim que, em 1902, Santos teve a sua primeira escola com um curso secundário para moças. Que chance, Deus meu, para a menina insatisfeita! Sequiosa de saber! Desejosa de aprender.

É lógico que o curso não foi tomado de assalto. Santos não era esta chocadeira de brotos que é hoje. Mas umas poucas meninotas aventuraram-se. Apresentaram-se, tímidas na sua emoção, para a grande aventura do aperfeiçoamento.

Isso foi em 1902. Quatro anos depois formava-se a primeira turma. Mas que diploma receberiam as formandas, se o curso não fora oficializado? Que privilégios lhes garantiriam aqueles quatro anos de estudos secundários?

A Associação Comercial de Santos, tendo à frente Joaquim Miguel Martins de Siqueira e Frederico Junqueira, interessa-se pelo caso. Envia um longo ofício ao Congresso de São Paulo. Solicitando que as formandas santistas tivessem os mesmos direitos e garantias das normalistas do Estado, formadas por escolas da capital.

Na festa de formatura, Afonsina Proost de Souza, Loreto Mesquita Nogueira, Oneida Guayer e Alice de Breyne recebem, com emoção e orgulho, seus diplomas. Uma escola santista formara as primeiras quatro professoras santistas!

O nome dessa escola pioneira? Liceu Feminino Santista. Que hoje comemora seus sessenta anos de trabalho em prol da educação da mulher santista.

Houve, ontem, um chá de confraternização. um encontro de emoções. Cabeças castanhas, louras, pretas, nevificadas pelos anos, formaram uma grande roda. Dona Brites Azevedo Marques estava no centro. Ela e as lembranças de companheiras desaparecidas. Quando todos os lábios entoaram o hino do velho Liceu, ao coração de todas as alunas juntou-se, alegre, o coração de Santos. A cantar, com emoção, a alegria do velho Liceu Feminino.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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