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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 182)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 3 de agosto de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Solução para o trânsito

Lydia Federici

As fábricas de carros nacionais, soltando automóveis às catadupas, estão criando problemas difíceis para os delegados de trânsito. Engarrafamentos, trombadas e abalroamentos, acidentes dolorosos, sucedem-se a cada momento. Há irritação. Ouvem-se descomposturas. Sobra dor. Muita dor e sofrimento. Ensaiam-se medidas. Plaqueia-se a cidade. Aumenta-se, de pouco infelizmente, o número de guardas disciplinadores do trânsito. Nada resolve. O problema agrava-se diariamente. E então, querendo resolver, todo mundo inventa soluções.

Vejam esta conversa. Ouvida numa festa. Meio desconchavada, como lógica de mulher aliás, ela tem, entretanto, algo de novo. Vai como foi ouvida. Vejam se a entendem.

Dizia uma: "Onde acontecem os desastres de trânsito?" Respondia a outra: "Onde há trânsito". Dizia a primeira. "Lógico. Mas a maioria dos acidentes? Onde se verificam?" Respondia a outra: "Deve ser nas artérias de maior movimento, não" Voltava a primeira a dizer: "Lógico. Lógico até certo ponto. As ruas de maior movimento são, em geral, preferenciais. Ninguém entra, numa dessas, na velocidade. Numa preferencial raramente há trombada. Atropelamento, sim. Por descuido de pedestres. E excesso de velocidade dos carros". A outra perdeu o fio. Mas respondeu com um "lógico" muito chocho.

Nessa altura, a primeira percebeu que a outra, ou não estava interessada no assunto. Ou era um pouco lenta de cabeça. Pensou um pouco. Sentou-se na beira da poltrona branca. E disse, depois de um gole gelado.

"Vou expor minha ideia sem fazer perguntas. Não me interrompa. Siga apenas o raciocínio".

A outra suspirou imperceptivelmente. Arregalou os olhos para ouvir melhor.

"Trombada, veja os jornais, acontece, em geral, em esquinas. Quando dois carros julgam ter o mesmo direito de avançar. Na velocidade com que vêm. Ou vão. Ninguém se mete a correr em rua esburacada. Ora. Havendo cruzamento de ruas bem asfaltadas ou emparalelelipadas, as probabilidades e encontros são maiores. Colocar um sinaleiro em cada esquina é coisa fora de cogitação. Espalhar placas, em cada cruzamento, indicando 'Pare', pouco resolve. Qual seria a solução" - Falou e ficou, firme, esperando a resposta. A outra teve que pensar. Pensou e, a medo, largou a ideia. Largou-a a sorrir, desculpando-se.

"E... deixar uma rua calçada. E... e esburacar a outra".

"Quase certo, menina. Parece esdrúxulo mas não é. Em Buenos Aires é assim. É raríssimo topar com um desastre. No centro, há limite de velocidade. Ninguém corre e não há trombada. Fora do centro, as preferenciais têm leito liso e uniforme. As que as cruzam, ao atingi-las, têm uma valeta. Não há chofer que tenha a coragem de continuar com o pé no acelerador. É pé no breque. Ou galo na cabeça e feixe de molas quebrado. Tão simples, não é?"

A outra afundou-se na poltrona. Abanou a cabeça por abanar. Não quis parecer indelicada. Mas, por Deus, que é uma ideia, é!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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