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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 178)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 29 de julho de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Barracas de praia

Lydia Federici

Turista estrangeiro, quando as vê maravilha-se. Turista interno reclama a areia morna que eles lhe roubam à preguiça das férias.

O caso é que a coisa é típica das praias santistas. Típica e, ao que se julga, ímpar. Riviera italiana tem disso não. É claro que, nas praias do Mediterrâneo ou do Adriático, existem barracas. Mas individuais. Alugadas a peso de milhares de liras. Ou então coletivas. Para uso dos milionários hóspedes dos grandes hotéis.

Na Côte d'Azur, o caso é o mesmo. Sobram guarda-sóis coloridos. Longas fileiras de poltronas cobertas. Lonas corrediças em proas ou popas de lanchas. Nas praias norte-americanas, do Pacífico ou do Atlântico, há balneários. Grandes clubes à beira da praia. Com piscinas. Solários. Cantos empalmeirados de sombra verde. Mar Del Plata, coisa aqui de perto, sul-americana como Santos, segue a moda europeia. Cabines abertas ou fechadas. Coisa pequena. Familiar. Uma arrimando a outra. No Chile e Uruguai, idem.

E, aqui no Brasil, quem sabe, por ver ou ouvir falar, de uma praia com clubes de barraca? No Rio há? Toda uma praia rendada por barracas sociais? Desculpem-me. Deve ser engano. Creio que não há. Não do jeito daqui.

Assim, portanto, a coisa é própria e típica da praia santista. Própria, típica e única. E pode existir por duas razões. Uma, por ser a praia de Santos larga e extensa como é. Outra, por ser esta gente como é. Prática, sociável, esportiva e amiga das belezas e das gostosuras de sua praia.

Nos dias comuns, os seis quilômetros de praia mostram, ao lado da faixa verde do jardim, todo um vasto campo livre de areia cinzenta. De tons gradativos. Nesses dias, uma fotografia apenas arenosa não identificaria a praia de Santos. Pareceria, quando muito, pela frequência multicolorida, uma Copacabana morena de maré muito baixa. Mas, aos domingos e feriados, a série quase ininterrupta de barracas de clubes é um carimbo que diz: "Praia de Santos".

São barracas armadas no silêncio da manhãzinha. Que chegam em carrinhos. E são montadas na areia fofa. Pertencem a clubes esportivos de praia. São de grêmios estudantis. De ensacadores de café. De advogados. De moradores de uma rua. São barracas grandes. Coloridas. Com poltronas e bancos para a mamãe. Com rede de vôlei e de tamboréu, lá fora, para os atletas de domingo. Tem um retângulo fechado para a troca de roupa dos que vêm de longe. Tem uma talha de água gelada. Ou de uma mistura menos natural. E muito gostosa.

A primeira apareceu no Gonzaga. Em 1936. Era, e é, a do Grupo dos Graussás. Surgiram outras. Espalharam-se, pouco a pouco, pela praia do Gonzaga, do José Menino. No Boqueirão. Hoje são 154 barracas. Só a Ponta da Praia, de população menos densa, ainda dispõe, junto ao jardim, de vãos para o plantio domingueiro de novas estacas. O resto da praia é embarracado. Para alegria de quase duzentos agrupamentos santistas. E desespero e resmungos de visitantes que querem dispor de toda a praia.

Calma! A praia dá para todos. Principalmente para as barracas que personalizam a areia comum destas nossas praias.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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