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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 174)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 25 de julho de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Visita demorada

Lydia Federici

Há visitas que chegam. Que se aboletam. E se esquecem de que, depois de tempo razoável, têm que ir embora.

Há, também, as que tocam a campainha justamente no momento exato para atrapalhar ou atrasar um programa já escolhido.

Em qualquer desses casos, dona de casa visitada esboça um sorriso de prazer. Sorriso que, bem educadamente, faz questão de manter sempre com o mesmo brilho e a mesma cor. Acontece, porém, que, na casa, uma outra pessoa, lá pelas tantas, resolve tomar providências. Oh! nada que fira, frontalmente, as regras do bem receber. Que as leis da hospitalidade são as únicas, talvez, que, nesta terra, ainda são respeitadas. Mas há caminhos indiretos. Truques rasteirinhos. Que podem ser tomados e executados sem que a visita deles tome conhecimento. Não importando, em absoluto, em desrespeito.

Foi o que aconteceu. Numa casa em que havia crianças.

A mãe estava presa. Muito ocupada. Mas percebeu a saída disfarçada da garota. Ouviu-lhe os passos, leves, sumindo para os fundos da casa. Meio minuto depois, uma porta rangeu. E voltou a gemer. Muito devagar. Como se estivesse sendo empurrada com todo o cuidado. Era a porta da cozinha. Só aquela é que soltava a reclamação guinchada.

Um minuto depois, a voz alterada da cozinheira chegou até a sala. A velha Benedita era assim. Surda, só sabia falar gritando. A voz fina da menina também sussurrava alguma coisa. Apenas o tom queixoso, sem palavras, conseguia correr a casa. Cecília sempre falava assim. Com meiguice igual, Agradando ou brigando, sua vizinha era sempre um mel. Suave e doce. Mas Benedita não apreciava mel nem melado quando estava com suas panelas. E voltava a gritar como só gente muito velha e rabugenta sabe falar quando está irritada. Repetindo, cada vez com veemência maior, a primeira frase que a raiva lhe botara na boca. E a frase, na terceira repetição, já chegava, nítida e sonora, até a sala da frente.

"Não quero ninguém no meu fogão. Não quero ninguém no meu fogão. Não..."

Dona Jacinta conhecia sua cozinheira. E conhecia sua filha. Não teve outro jeito. Levantou-se e foi, sobrancelhas franzidas, até a cozinha. Mandou para o jardim o Quinzinho que, da porta, batendo a mão direita fechada contra a esquerda espalmada, dizia baixinho: "Bem feito. Bem feito. Bem feito". Benedita calara-se ao ver a patroa. Sacudia as panelas sobre o fogão. Cecília, muito vermelha, olhou o rosto indagador da mãe. O mel de sua voz escorreu em fio fino:

"Não foi nada, mamãe. Só pus a vassoura atrás da porta. E queria jogar um punhadinho de sal no fogo. A Dita não deixou".

Dona Jacinta arregalou os olhos para a garota. "Mas não temos visita, Cilinha. Que ideia tola foi essa?" A menina avermelhou ainda mais.

"É para o frio ir embora, mamãe. Está demorando tanto!"


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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