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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 167)
Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca
Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em
17 de julho de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
GENTE E COISAS DA CIDADE Férias de mamãe
Lydia Federici
Casa relativamente grande, marido médico, quatro crianças em escadinha, constituem, sem dúvida alguma, um problema de
bom tamanho na vida de uma dona de casa.
A casa grande exige limpeza. Sem cozinheira, sem arrumadeira, sem pajem, sem faxineira, mamãe que se vire. Certos serviços podem ficar para trás. Mas outros são essenciais. Compras têm que ser feitas. Café, almoço e janta são sagrados. Roupa limpa,
embora algumas peças mal sintam o calor do ferro, também é coisa que tem que estar em ordem. Mamãe que corra feira. Que ponha as panelas de pressão a chiar enquanto a lavadeira automática vai moendo a roupa. Nessa meia hora de automatização, ela
que cuide das crianças. Verificando se as lições das três maiores foram feitas. Se já tomaram banho. Se estão com o uniforme com a blusa vestida pelo direito. Se o menor já papou o mingau. E se, por acaso, não esteja dormindo na casinhola do
cachorro.
Mas essa correria toda, apesar de dura, não assusta uma dona de casa ativa e disciplinada. Tudo, no fim, é uma questão de organização. De aproveitamento sábio de minutos. E a vida, embora atropelada, corrida, suada, vai sendo vivida. Numa casa de
aspecto agradável. Com o marido satisfeito. As crianças felizes e saudáveis. Que importa o corpo moído se ainda há ânimo, numa ou noutra noite, para entrouxar, bem cheirosa, a família no carro e ir saborear uma "pizza"?
Acontece, porém, que criança, qualquer criança, continua com o mau hábito de desconhecer os progressos da ciência médica. Num belo dia, aparece de olhinho mortiço. Não quer saber de traquinadas. Encosta a cabecinha na saia da mãe que está
preparando quatro quilos de berinjela à escabeche. E, aí, a organizada vida da dona de casa tem que sofrer alterações. Porque, ou ela muito se engana, ou aquela testa quente quer dizer que sua guria acabou pegando o sarampo da vizinha. Só pode ser
aquilo mesmo. E é. E, se uma pegou, as outras três crianças também pegarão. E que peguem de uma vez. Assim a trabalheira, multiplicada é verdade, mas que fazer? - será toda de uma vez.
Dia e noite, a pobre mãe pula de serviço em serviço. Tudo, como sempre, tem que ser feito. Mas nos intervalos de sua nova vida de enfermeira. De enfermeira preocupada. Que o sarampo empipocou todas as crianças. E veio bravo como quê.
Depois de 15 dias, tudo volta ao normal. As crianças um pouco pálidas. A dona de casa quase liquidada. As férias haviam chegado. "Mamãe? Posso ir, com as crianças, pra aí?"
Desceram pra Santos. A avó tomou conta do barco. E mandou a filha dormir sossegada. Que descansasse. Que dormisse enquanto sentisse sono. Que não se preocupasse com coisa alguma. Foi o que ela, coitada, fez. Largou os ossos. Levantou-se com o sol
alto. Sentou-se para tomar o café já feito. Um sonho! "Nossa. Até estou me sentindo esquisita. Nem sei o que é tomar o café sentada".
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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