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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 166)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 15 de julho de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Exposição diferente

Lydia Federici

Não há nada que o garanta. Mas o domingo de hoje há de ser um dia cheio de sol. Com praia formigante e colorida. Com mar azul tirando para o verde. Ou verde querendo ser azul. Haverá um jornal bem gordo. Aperitivo demorado. Almoço gostoso. Em casa ou numa barraca do Gonzaga. Poderá acontecer uma boa soneca. Futebol de poltrona. Ou matinê cheia de risos paulistanos.

A falta de gasolina paralisará alguns carros. Talvez o seu. E esse contratempo modificará alguns programas. Estragará, provavelmente, alguns domingos. Ou o domingo de algumas pessoas. Permito-me lembrar-lhe uma escapada diferente. Para ver coisa incomum. Uma exposição viva. Ao ar livre. Que a luz artificial não serve para mostrar a veracidade do que ali será encontrado.

É uma exposição, repito, um tanto fora do comum. Em geral, nesse agrupamento escolhido de coisas à mostra, a gente vai para ver. Maravilhando-se ou aborrecendo-se. Nossos olhos de visitante, entendido ou leigo, observam coisas inanimadas. Olhamo-las com interesse. Ou com fastio. Poucos, só os de alma sensível, carregada de amor e compreensão, chegarão a enternecer-se diante de uma obra que, muda e inerte, lhes acariciará o coração. Mas, de um modo geral, os motivos expostos são estáticos. Silenciosos. Apresentam-se quietos e mudos à admiração de cada um.

Na exposição de hoje, a história é diferente. Seremos os visitantes. Com um par de olhos curiosos. Vamos para ver. Mas seremos vistos também. E julgados. Criticados, desprezados e amados. Por quem? Pelos outros visitantes? Não. Nisso não haveria nada de incomum. São as coisas mostradas que nos verão. Elas talvez, entre tantos, o escolherão "Gosto de você. Esse jeito bom que você tem agrada-me muito". Porque são coisas vivas.

Não sei até que ponto você é curioso. Nem como recebe a crítica alheia. Ignoro, também, seu grau de receptividade. De comunicabilidade. Se quiser fazer um teste, vá ver a exposição de hoje. Sinta-se, curiosamente, como objeto de exposição. Seja coisa exposta.

Assustam-nos aqueles dois olhos avermelhados numa cara franzida de quem não quer amigos? Que lhe diz ao orgulho aquela cara de expressão distante e altiva? Como se sente você diante de olhos frios, indiferentes, que se desviam, com desdém, de sua insignificância? Vá andando. Siga adiante. Aquela expressão meiga, implorativa, com olhos castanhos, doces, acariciantes, não lhe lembra a quentura dos olhos do primeiro amor? E aqueles outros dois, vivos, fugidios, astutos? Não são olhos que querem enganar-nos? E os outros, apenas maliciosos? Os alegres e brincalhões? Pode você negar um afago ao dono daqueles olhos úmidos, pedinchões, que imploram um pouco de amor? Os seguintes o chamam de bobo? Os outros o veneram?

Onde é que acontecerá essa raridade? Do visitante sofrer análise? Por parte das coisas expostas?

Ainda não adivinhou? Na exposição canina do Santos Kennel Clube.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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