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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 135)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 7 de junho de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Jardim encantado

Lydia Federici

Gente grande não tem poesia. se se perguntar, a alguém que conhece aquele jardim, a resposta chega, precisa e prática:

"Ora. é ali na Bartolomeu de Gusmão. Esquina da Alexandre Martins".

Com criança, tudo fica mais bonito. Começa pelo seu arregalar de olhos. Antes de explicar, ela visualiza a casa de pedra. Cinzenta. O jardim cheio de verdes. E os pássaros que por ali passeiam. Ou que, imóveis, apanham sol. No brilho dos olhos infantis, já se principia a ver aquela beleza. Por isso, meu amigo, peça a uma criança para mostrar-lhe onde fica o jardim encantado. Agarre, então, os seus filhos. Não se esqueça, também, de levar [... (linha truncada, no original)...] remos ali ver.

Chegue devagar. Ou, se quiser, pode aproximar-se com pressa. Fazendo barulho. Não haverá diferença no quadro. Mas, chegando com calma, tudo terá mais beleza. Muito mais paz. Paz de natureza.

Veja a casa cinzenta. Descanse os olhos na copa das árvores. Depois, grude as mãos no muro e descubra, pouco a pouco, no gramado, entre as touceiras do papiro, o branco de neve das garças esguias.

Não, não brigue com as crianças. Deixe-as trepar no muro. Não vê que ele é de pedra? Foi feito assim para ser trepado mesmo. Deixe-as ali, sentadas. A rir daqueles marrecos gozados, "oi, papai", que só sabem sacudir o rabinho. Também não se preocupe em responder às perguntas. Que nome você iria descobrir para aquele urubu de camisa branca e crista vermelha? Diga que depois você descobrirá o nome. E, se não descobrir, que importância vai ter? Com nome ou sem, ele não será sempre identificado como o urubu de crista vermelha?

Veja as garças. As garças brancas. Perca os olhos na maciez daquelas penas. E nunca mais olhe para chapéus emplumados de casamento. Veja as "aiggretes" nas asas do pássaro de pescoço orgulhoso. Já viu coisa mais delicada?

Quando achar que aquelas aves espalhadas pelo jardim já lhe proporcionaram muita beleza, enchendo seus olhos de cor e formas, largue o muro. Limpe as mãos e passe-as sob os braços gorduchos de seu caçula. Convide-o a pular dali. Seus ouvidos ouvirão o "não" mais negativo de toda sua vida. Tente com a menina. Com o mais velho. Não querem sair? Paciência. Fique mais um pouco. Aproveite você também, meu amigo.

Aproveite, quanto puder, a paz e a beleza daquele jardim encantado.

Aproveite, meu amigo, enquanto for possível, a existência daqueles pássaros. Como explicar, depois, a seus filhos, o que é uma garça a estender, com preguiça, as asas brancas? Mostre-lhes enquanto for possível.

Ah! Com o crescimento, o desenvolvimento da cidade nos vai roubando as coisas da natureza. Quem conhecerá, dentro em pouco, que é um simples pardal?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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