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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 120)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 19 de maio de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Um português santista

Lydia Federici

Se Portugal soubesse o ouro que havia dentro daquele seu rapaz, com certeza não o teria deixado embarcar para outra terra. Ele que crescesse por lá. Que derramasse a inteligência de sua cabeça e a bondade de seu coração - principalmente esta, que é a coisa que mais falta faz neste mundo sofredor - sobre a terra portuguesa e sobre toda a sua gente.

Mas Portugal não podia adivinhar. Deixou-o ir embora. Outra terra recebeu o menino. Viu-o crescer, tornar-se homem. E, assim, foi essa oura terra que recolheu todo o mel que havia na alma daquele portuguesito.

O menino podia ser como milhares de outros portugueses que para cá vêm. Podia crescer, trabalhar, constituir família, tornar-se financeiramente independente, dar o seu auxílio a uma ou outra boa iniciativa. Podia respeitar esta terra, ter sempre o seu velho e querido Portugal na lembrança. Podia ajudar um patrício, batizar um moleque pobre, ser sócio da Beneficência e pronto. Já teria bem cumprida parte de sua missão de homem neste mundo. Como português verdadeiro. Como bom cristão.

Mas esse rapaz não se satisfez com essa vida simples e comum. Porque, embora sendo simples, comum é que ele não era. Tinha mais cabeça e mais coração que o normal dos homens.

Em só chegando, logo a gentileza da terra o cativou. Tomou-se de amores por ela. Não desse amor exigente que só gosta de receber, de ter, de tomar ou de exigir. Mas daquele outro, que só se sente satisfeito e feliz quando dá o que tem para dar. Que chega a inventar coisas boas para oferecer ao seu bem querer. Que, vendo beleza, não se cala, intimidado. Ou mesquinho, guardando-a só para si. Com egoísmo. Ou que então, reconhecendo falhas, sabe corrigi-las, conclamando outros para que o ajudem a fazê-lo.

Amando esta terra, sobre ela esparramou trabalho humano. Trabalho cheio de amor. E, como só palavras de amor não o satisfizessem, foi além. Arregaçou as mangas e, ao trabalho de sua mente, juntou, com todo o entusiasmo do coração, o trabalho de suas mãos generosas. As horas de seus dias e de suas noites foram um desfilar de ideias e de planos para o bem estar e a beleza de Santos e da gente santista. No esporte, no seu Vasco querido, na Santa Casa, na Câmara, em asilos, em tudo ele estava e está. Resolvendo, ajeitando, servindo. Quem o vê, agitado, sério, moendo um charuto, mal sorrindo um sorriso breve, não sabe a alma boa, filantrópica, patriótica, cívica, que existe naquele corpo baixo e forte.

Outorgando a Gomes dos Santos Neto o título de cidadão santista, Santos nada mais fez que oficializar, pela honra do título, uma cidadania existente há anos e anos. Que o português-santista, na verdade, já adotara dentro de seu coração desde que começou a amar esta sua terra. E a servi-la.

O amor, agora, está completo. Tão feliz um como a outra, creio.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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