Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult003d116.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/24/15 17:16:02
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 116)

Leva para a página anterior
Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 15 de maio de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Futuro de uma ideia

Lydia Federici

O Boqueirão homenageou, no domingo, a Mãe. Representada, simpaticamente, pela Mãe mais idosa do bairro. A ideia partiu da Sociedade Amigos do Boqueirão. Donna Maria da Luz Amaral, pequenina e sorridente dentro dos seus fortes 91 anos, foi, entre cinco inscritas, a escolhida para receber o carinho de todos os filhos de seu bairro.

Compareceu, pobrezinha mas vibrante, a banda do Educandário Anália Franco, lá da Ana Costa. O Anália Franco, vejam bem, é um asilo. Asilo para órfãos ou quase órfãos. Meninos cujos pais ou mães não podem tê-los a seu lado. Pois foram esse filhos, entregues a um asilo, os únicos que foram transmitir, a uma Mãe, a alegria - que alegria? - de seus corações sequiosos de amor.

A festa, logicamente, não teve a movimentação de um desfile da juventude, nem o aparatoso garbo de uma parada militar, muito menos o atropelo curioso dos desfiles carnavalescos. Mas, no rosto de todos que ali compareceram - e havia centenas e centenas -, olhos úmidos e sorrisos emocionados falavam da alegria geral. Houve carinho, um mundo de calor. Desse calor bom, muito humano, que tem, milagrosamente, mais que o sol, o condão de esquentar almas, unindo-as numa só massa de bondade e amor.

Assistindo a essa realização, pensei, com orgulho, no Boqueirão. Lembrei-me de todos os bairros de Santos. Nas velhas Mães que moram em todo este pedaço de terra. Como seria bonito, aqui, no dia das Mães, homenagear, numa festa grande e geral, as Mães de todos os bairros santistas.

Aquela do Macuco, por exemplo. Talvez uma preta de pixaim branquinho, branquinho. E a do Mercado. Que talvez seja uma espanhola com vinte ou trinta netos bem brasileiros. A do Marapé. Aquela velhinha que, da janela, assiste, todos os anos, o ensaio das Dengosas. A da Nova Cintra, cheirando a cana de açúcar, com os olhos cheios de horizontes. A da Alemoa. Que talvez nunca tenha visto, de perto, os jardins bonitos de nossa praia. A da Areia Branca. A encantar-se com a fartura de água das fontes "véus de noiva" do Boqueirão. Ou com a fonte colorida do Gonzaga.

Sim. Sei que já há muitas festas em Santos. Mas uma ainda poderia ser programada. A festa de todos os bairros de Santos. Representados, com carinho e devoção, pelas suas figuras mais simpáticas, verdadeiros símbolos do mais puro dos amores.

Quanto custaria isso em dinheiro? Quase nada. Apenas o que cada um quisesse dar. Um automóvel para ir buscar, na Caneleira, a sua Mãe mais velhinha. Toda comovida por passear de carro chique. Um buquê de flores. Arrumado, com lágrimas nos olhos, por uma dona de jardim da Ponta da Praia e do José Menino. Um bolo, como o oferecido pela senhora Proença. Só isso. Coisas oferecidas. Dadas de coração. E música, é claro. Para gritar a alegria de todos.

A semente dessa ideia já foi plantada. Lançou-a, na terra fecunda do coração santista, o bairro do Boqueirão. Se o filho de Santos deixar seu coração falar, essa sua festa de amor, em breve, falará de Santos.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Leva para a página seguinte da série