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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 114)
Em mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca
Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em
12 de maio de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
GENTE E COISAS DA CIDADE Turismo
Lydia Federici
De um modo geral, o santista olha para o visitante com cara de quem não quer saber de muita conversa. A razão é
simples. É essa gente endinheirada, que nos visita nos fins de semana ou nas férias, a responsável pelo atropelo de nossas vidas pacatas. E pela exploração que sofremos.
Quem consegue enfiar, na cabeça de um santista comum, os benefícios que a corrente turística nos traz? Como explicar-lhe, fazendo-o entender, que, se o camarão custa 700 no meio da semana, os 300 que pagamos a mais, no domingo, pelo mesmo bichinho
mole, é por pura ganância de comerciantes santistas?
Mas deixemos isso para lá. Vamos divertir-nos hoje de forma diferente. Vamos ser turistas. Turistas em visita a Santos. Santos da praia-jardim. Santos de banho de mar em qualquer dia do ano.
Chegamos felizes. Atrapalhados com uma mala grande que, no nosso entusiasmo, cisma em bater em tudo quanto é gente que passa por perto de nós, invejando-nos a alegria, não compreendendo nosso ar de festa. "Onde fica a praia? Que condução podemos
tomar?" A praia fica pra lá. Qualquer bonde serve. "Todos vão para o José Menino?". Ora. Pergunte ao condutor. O condutor está com pressa. "Informe-se com o fiscal". O fiscal está numa roda. O melhor será arrumar um guia. Na banca de jornais não
há. Mas o jornaleiro dá as informações.
"Dois mil só pra dormir?" "Mil e quinhentos com refeições?" Ué! Arrumado um quarto, saímos. Ah! Praia bonita. Você vale até dez mil. Oh! Mar gostoso.
Chega a hora do aperitivo. Escolhemos um bom bar da praia. Queremos uma coisa típica. "Caipirinha?" Não. Caipirinha faço em casa. Quero algo daqui de Santos. Pra depois poder contar aos amigos de Marília. Não há. Em nenhuma bicoca, em nenhum bar
ultra-granfino, existe aperitivo ou refresco típico de Santos. Como, em nenhum hotel ou restaurante, consigo comer um peixe à santista. Como é que vou embasbacar a família?
Quero comprar um boné. Ou um short. Ou uma camisa. Coisa diferente. Com um distintivo que lembre mar. Da "linha Santos-62". Os caixeiros das lojas olham-se com um sorriso. "Temos este short Copacabana". Ora. Copacabana compro no Rio.
Candango trago com um pouco de pó de Brasília. O que eu quero é coisa de Santos. Não há? Não senhor.
Se tenho um carro, procuro um selo. Desses pequenos, coloridos. Cheios de azul. Com uma vela branca. E a palavra Santos, é claro. Não existe. Só uma flâmula. Grande. E cara. Como levar dez para as garotas? Por que não fazem coisinha miúda. Mais
barata. Com diversos desenhos a cores?
Não há corta-papéis típicos? Uma caixa? Um barco de vela branca, enfunada? Ah Graciosos estes broches de conchas. São de Itanhaém? Mas eu não estive lá. Eu queria coisas daqui. Onde posso encontrar?
Ah! Santos. Santos. Quando é que você vai aprender a agradar aos turistas? Quando é que você vai ser centro de turismo?
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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