Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult003d075.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/15/15 14:52:48
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 75)

Leva para a página anterior
Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 25 de março de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

A Tribuna faz anos

Lydia Federici

Entre procurar o dicionário, para conseguir alinhavar uma série de palavras bonitas, e deixar apenas o coração falar, a escolha foi simples: que fale o coração. Sempre valerá, ao menos, pela sinceridade.

Para começar, e antes de mais nada: que é "A Tribuna"?

Para os de fora, talvez um dentre os jornais que se editem. Cheio de folhas, com notícias, comentários, fotos, anúncios. Um bom e grande jornal, reconhecem-no todos. Com muito cheiro de mar.

Mas, para nós, santistas, não é nada disso. Ou melhor: é isso tudo e muito mais. Não é "A Tribuna" apenas um jornal. Um jornal de Santos. É a própria Santos. Toda Santos. Santos a mostrar-se, faceira, nas suas belezas. Ou triste, a reclamar contra coisas mal feitas ou por fazer. Jornal regional, então? Capaz. Amplamente internacional. Plenamente brasileiro. Mas, para toda uma população, é a voz a traduzir a alma de Santos.

Que mais? É a "Tibuna" sem o "r" da fala das crianças. Que as crianças, inocentes, podem folhear à vontade. Se há sangue pelo mundo, ele não aparece, gritantemente vermelho, nas páginas brancas. Se há crimes, costas apunhaladas não ferem a sensibilidade de ninguém, nem aguçam a mórbida curiosidade das almas doentias.

Foi em "A Tribuna" que aprendi a primeira letra do nome de minha mãe.

É o jornal que a gente, contente, sentindo-se unida, encontra nas mãos dos amigos. E nas mãos de desconhecidos que, sem outra razão especial, por esse simples traço de união, passam a ser olhados com carinho, como os amigos desconhecidos. É o jornal que, todas as manhãs, carregamos sob o braço, sujando-nos, com tinta fresca, a blusa clara. Mas, em cujas páginas temos a certeza de que nossa mente e nosso espírito não se enxovalharão.

É o jornal em que convivemos com a grande sociedade rica e pobre, sorrindo, rindo ou chorando. Onde trabalhamos com os trabalhadores. A cujas palmas unimos as nossas. Cujas críticas justas endossamos. Cujas campanhas de caridade ou de bem estar público reconhecemos e amparamos. É um jornal que vive a nossa vida. Em cuja vida palpitante nos integramos, todos santistas que somos.

É um jornal feito por cérebros e mentes que aprendemos a respeitar: e por mãos, muitas mãos anônimas, a que queremos bem. Tudo formando estas folhas diárias que saem de uma grande máquina que funciona dia e noite, unindo todo esse trabalho, toda essa luta, toda essa alegria, todo um idealismo em prol do bem comum. Máquina cujo imenso corpo de aço nos assustou, até o instante em que lhe adivinhamos o coração a bater forte e compassadamente. como um coração humano. Como este mesmo pobre coração que no aniversário de "A Tribuna", com orgulho quase filial, cheio de uma ternura imensa pelo jornal brasileiro de Santos, tentará cantar, sem desafinamentos, o "parabéns a você"!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Leva para a página seguinte da série