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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 67)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 16 de março de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Miniaturas

Lydia Federici

Marina é uma moça que mora numa casa grande da Conselheiro Nébias. Casa que tem um jardim. Jardim verdadeiro, com árvores enormes e canteiros cheios de plantas. Jardim, canteiros e plantas cuidados por um jardineiro, sim senhor.

Mas Marina, nas horas em que o escritório a deixa livre, olha, em casa, para o jardim do jardineiro. E fica com inveja do velho, que mexe na terra e namora o verde de toda aquelas vegetação luxuriante. Inveja as mãos do português, a podar, amarrar, estaquear, todas aquelas coisas bonitas. E, logicamente, resolve ter as suas plantas. Plantas só suas. Que as suas mãos plantarão, adubarão e ajudarão a crescer.

E assim, Marina cria o seu jardim. Separado do jardim da casa, do qual o jardineiro é o dono. E esse novo jardim passa a ser seu passatempo favorito.

O jardim de Marina é de vasos. Vasos que se multiplicam assustadoramente, ocupando um espaço cada vez maior. Como continuar plantando dentro daquele canto delimitado? A ideia surge: é diminuir o tamanho dos vasos. Tão elementar e simples a solução do problema.

E as plantas de Marina, santistas que são, tiveram que se sujeitar ao destino dos santistas: sair de uma casa grande para ir morar num apartamento de dimensões reduzidas. Reclamaram? Não. Porque a moça, para compensar-lhes a falta de espaço, alimentava-as bem: adubos suculentos, vitaminas a horas certas. O jardim envasado tinha de tudo. Só que tudo era pequeno. E, por isso mesmo, um encanto.

Um belo dia, numa revista, a jardineira do jardim pequeno leu a história de um norte-americano que, obrigado a ir morar num quarto, para lá levou todas as suas plantas. Como? Plantando sementes e mudas em centenas de dedais. Sim. Dedal mesmo. Essa coisinha que as costureiras enfiam na ponta do dedo médio.

Marina tentou a experiência. Abriu bem os olhos e, com dedos de uma delicadeza infinita, ajudados por um palito de ponta bem fina, começou a coleção de miniaturas nos dois centímetros cúbicos de dezenas de dedais. As plantas se ajeitaram. Tão bem que a moça resolveu diminuir ainda mais o tamanho dos vasos. Vocês conhecem tampa de pasta dentifrícia? Pois até ali podem viver plantas.

Minto? Exagero?

Pois sim. Vá ao Orquidário. Na estufa, onde se realiza a exposição de orquídeas e plantas ornamentais, procure, bem procurado, o canto das miniaturas de Marina Bernils. Se seus olhos forem bons, ótimo. Se não forem, leve uma lente. Para ver quatro plantinhas vivendo, as quatro juntas, numa tampa de pasta dentifrícia.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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