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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 56)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 1º de março de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Caíram os impostos

Lydia Federici

A cidade anda meio desatinada. Como toda boa cidade brasileira, aliás. Por que haveríamos de constituir exceção? Sofre o Brasil? Pois Santos sofre junto. Penam os brasileiros? Amarguram-se os santistas também. E não é por uma simples questão de solidariedade. Antes fosse. Apertamos a cabeça, no gesto comum dos desesperados, porque aqui, como em toda parte, não há dinheiro que chegue para pagar todas as coisas pagáveis.

Nem alfinete deixa de subir. Quanto mais o resto. É certo que há dinheiro rodando por aí como nunca houve. Mas que adianta? Por mais gorda que seja a maçaroca de notas, a danada nunca dá para pagar o que se compra. E daí?

Daí é economizar. Transformar um vestido numa saia. Largar o alfaiate e comprar o terno feito. Comer filé mignon uma vez por semana e nos outros 6 dias tocar ossos no caldo. Desistir da cerveja diária. Fugir do escritório só duas vezes em lugar das quatro em que se ia tomar o cafezinho. Fumar cigarro mais barato. Ir ao cinema só aos domingos. Aproveitar as outras noites diante da chatíssima televisão ou em passeios pelas calçadas da cidade ou na areia da praia. Vendo como nasce linda a lua por trás dos morros.

É. Há uma infinidade de modos de economizar. Só que todos eles nos tiram grande parte dos pequeninos prazeres de viver. Mas, enfim. Quando não dá,não dá.

Muitos vivem como sempre viveram. Sem se privarem de coisa alguma. Mas a maioria, na alimentação, no trajar, na condução, nos passatempos, ou nos vícios, sempre corta alguns tostões. Tostão? Quem sabe o que é isso? E, cortando isso ou aquilo, sempre se toca pra frente.

Só há uma coisa a cujo pagamento ninguém escapa. Impostos. Taxas. Não adianta espernear. Nem apelar para Cristo. Deveu? Pagou. Não há a menor complacência no governo. Não há choramingação que consiga abatimento. Nem a possibilidade de se saldar o devido em tantas ou quantas suaves prestações. É aquilo em tal data. O contribuinte que dê saltos, que se vire, que passe fome ou sede, que ande nu. Mas que pague.

E como se já não chegasse aquilo que se era obrigado a pagar, que acontece? Atualizam-se os impostos. Casa de um milhão, hoje vale dois. Impostos e taxas dobradas. Está certo. A culpa é dessa porcaria de cruzeiro que não se aguenta nem deitado, quanto mais de pé. Mas quem aguenta o tranco?

Foi por isso que algumas pessoas, no dia de ontem, tiveram a melhor notícia que, nem em sonhos, poderiam jamais esperar. Viram, em Santos, os impostos caírem.

Sim! Caíram das mãos de um entregador de lançamentos. Caíram todos os impostos. Todos. Foi uma sensação. Que alegria!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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