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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 53)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 25 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Caras pálidas

Lydia Federici

Não se pode dizer que Santos seja uma cidade monótona. Bem ao contrário. De dia para dia ela se diversifica. E essa variedade pode satisfazer a todos os gostos. Há trabalho febricitante. Ou atividades pacatas. Ruas bonitas e becos escuros. E escusos. As zonas de sol se espraiam, livres. Mas há também as faixas úmidas e sombrias. Arranha-céus de terraços ajardinados atraem, com a beleza de meios tons, os olhos que se desviaram de casas velhas, cobertas de hera escura. Com cheiro de mofo.

Nas ruas, há carros 62 e charretes madrugadoras que, das latas de lixo, recolhem as sobras malcheirosas para a engorda grátis dos porcos. Encontra-se, nas confeitarias da praia, um pouco mais maquilado de creme, o mesmo doce do bar da estação ou da zona do cais. São iguais, então? Quase. A diferença está no preço, satisfazendo o bolso de cada um.

Há barulho como há silêncio. Alegria espoucante e tristeza doida, silenciosa. Beleza e feiura. Ternura e brutalidade. Tradição e século XX.

Quem quer praia, tem praia. Há mar traiçoeiro junto à Urubuqueçaba. E mar que mais parece água calma de piscina. Quem gosta de montanha-russa sobe e desce os caminhos dos morros. Os que apreciam a macieza do liso passeiam nas avenidas da praia. Para os amantes da trepidação violenta há as corcovas da Ana Costa. E de centenas de outras ruas.

Há de tudo neste pedaço de ilha. Um pouco de tudo. Muito de tudo.

Só o que anda igual, igual, nesta cidade de aspectos e vidas diferentes é aquilo que, no fundo, completa a fisionomia de qualquer cidade. O povo. Não falemos dos homens. Que esses, em todo o mundo, fazem a cidade mas não lhe enfeitam nem enfeiam a vida. Olhemos para o elemento feminino.

Que se vê por aí, em qualquer canto da cidade? De manhã ou à noite? Nas igrejas, nas praias, nos clubes, dentro de casa?

Meninas, garotas, moçoilas, mulheres e senhoras de caras pálidas.

Sempre encontramos dificuldades em identificar os rostos de zigomas salientes, com olhos oblíquos e nariz pequeno dos japoneses. Eram todos parecidos debaixo dos cabelos negros, escorridos. E sobre as pernas curtas, fortes e tortas.

Hoje o problema não é constituído pelos japoneses sorridentes. Aparece em todo lado da cidade e a qualquer hora. Em todos os dias da semana. São os brotos de cabelos altos e de cara lavada. Sem lábios. Sem nariz. Onde só aparecem os olhos rabiscados de preto. Em pinceladas leves ou borrões de nanquim. Iguais. Iguais.

As caras pálidas de norte a sul, de leste a oeste são a única constante no panorama generosamente variado da cidade. Para os apreciadores do aspecto humano isso deve ser chato de doer. Livra!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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