Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult003d052.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/15/15 14:52:39
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 52)

Leva para a página anterior
Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 24 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Monte Serrate

Lydia Federici

Nem com muito boa vontade se pode dizer que ele seja bonito. É um morro velho de cristas arredondadas pela erosão. Sua forma é comum. Não tem nada de especial. Nem sequer altura. Não passa dos duzentos metros. É o primeiro de uma pequena cordilheira mansa e amiga que abraça a ilha pelo lado oeste, quebrando-lhe a monotonia da planície. Desenhado, fotografado, pintado, seria igual a milhares de ouras elevações que se ergueram por esse Brasil a dentro. Inidentificável. No entanto, é o Monte Serrate um dos três símbolos que, como a curva graciosa das praias ajardinadas, o cais extenso, febricitante de trabalho, serve para identificar a cidade de Braz Cubas.

Por quê?

Porque a mão do homem o marcou.

Marcou-o, em primeiro lugar, com uma cruz no alto de uma capelinha dedicada a Nossa Senhora. Desde 1603 essa pequenina igreja, de sua posição privilegiada, acompanha o desenvolvimento da povoação, da vila, da cidade.

Visto da planura, o Monte Serrate apresenta dois aspectos. Quase que diametralmente opostos. Para os que o olham vindos da praia, sua encosta verde, desde a base até o topo, lembra sossego de mata, frescor de árvores. É quase como sempre foi. Natural. Só a parede clara, lá em cima, uma torre e sinalização e, aqui embaixo, os telhados de algumas poucas casas, espalhadas e semiencobertas, quebram essa impressão de morro virgem. Sossegado. Repousante.

Mas, visto das ruas escaldantes da cidade, o Monte Serrate é o prolongamento do calor, do trabalho do homem. É um morro que o homem quis domesticar, humanizando-o com casas e caminhos e um funicular. É um morro intranquilo a mostrar nesgas de terra nua, vermelha. É um morro que ameaça, aparentemente submisso na encosta de caneletas de cimento e nos borrões tristes de piche.

Não há paz nem frescura nesse lado do monte. Nem o verde repousante da encosta Sul. Rochas escuras, telhados velhos de casas eu orlam os serpenteios do caminho, folhas esfrangalhadas de umas poucas touceiras de bananeiras, os quadrados pardos mostrando as hastes magras da cana não lhe enfeitam o aspecto. Ao contrário até.

Mas é o Monte Serrate de Santos. Onde, uma vez por ano, se realiza a festa cheia de foguetório em louvor de Nossa Senhora. De onde, principalmente, simples observatório, se pode descobrir a beleza da cidade que trabalha ou que apanha sol na praia.

Não. Na verdade não é nada bonito o Monte Serrate. Bonito é o que se pode ver de lá de cima. E isso chega bem. Daí a sua fama.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

Leva para a página seguinte da série